Dívidas após a morte: O que acontece com os débitos de um familiar falecido?

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A morte de um familiar é, sem dúvida, um dos momentos mais difíceis que qualquer pessoa pode enfrentar. Além do luto e da dor pela perda, surgem diversas questões práticas e burocráticas, que podem ser ainda mais complicadas se houver dívidas envolvidas.

Como lidar com esses débitos? Quem paga o que? A seguir, vamos esclarecer as principais dúvidas sobre as dívidas deixadas por um falecido e o que os herdeiros devem fazer para resolver essa situação.

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O que acontece com as dívidas de uma pessoa após sua morte?

Muitas pessoas se perguntam se, após o falecimento, as dívidas de um ente querido ficam a cargo dos herdeiros. A resposta não é tão simples e depende de vários fatores, incluindo o tipo de dívida e os bens deixados pelo falecido. Vamos entender melhor o que ocorre.

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Imagem: Zadorozhnyi Viktor / shutterstock.com

Dívidas cobertas por seguro

Alguns tipos de dívidas podem ser cobertos por seguros contratados pelo falecido, e essas não chegam a ser um problema para a família. Exemplos disso são empréstimos consignados, empréstimos pessoais e financiamentos imobiliários, quando o contrato prevê uma apólice de seguro.

Esses seguros funcionam da seguinte forma: quando o devedor falece, o valor devido é quitado pela seguradora, e o saldo da dívida é zerado, não deixando heranças de débitos para os herdeiros. Em outras palavras, essas dívidas não precisam ser pagas com os bens da pessoa falecida.

Dívidas não cobertas por seguro

Se o falecido deixou dívidas que não estão cobertas por nenhum seguro, a situação é diferente. Essas dívidas precisarão ser quitadas com o patrimônio que o falecido deixou, ou seja, com os bens do espólio, que é o conjunto de tudo o que a pessoa possuía, como imóveis, veículos, contas bancárias, investimentos, entre outros.

Mas calma, isso não significa que os herdeiros terão que pagar essas dívidas do próprio bolso. O pagamento das dívidas será feito com os bens do falecido, e não com o dinheiro pessoal dos herdeiros. Assim, os familiares não precisam se preocupar com o pagamento dessas dívidas com recursos próprios, a não ser que o patrimônio do falecido seja insuficiente para cobrir tudo.

Como funciona o pagamento das dívidas?

O pagamento das dívidas é uma parte fundamental do processo de inventário, que é o procedimento legal usado para regularizar, avaliar e dividir os bens do falecido entre os herdeiros. Vamos entender como isso acontece na prática.

Inventário: o que é e como funciona?

O inventário é o processo legal que começa logo após o falecimento de alguém e serve para levantar todos os bens, direitos e dívidas da pessoa. O primeiro passo dos herdeiros é contratar um advogado especializado em direito sucessório, que será responsável por orientá-los ao longo de todo o processo.

O inventário pode ser feito de forma judicial (quando há disputa entre os herdeiros ou outras complicações) ou extrajudicial (quando todos os herdeiros estão de acordo e não há disputas). Durante o processo, todos os bens do falecido são identificados, avaliados e, depois, distribuídos entre os herdeiros de acordo com o que foi estipulado em testamento ou, na ausência deste, conforme a legislação.

Ordem de pagamento das dívidas

Quando o inventário é aberto, é necessário pagar as dívidas deixadas pelo falecido. Mas não é qualquer credor que será pago primeiro. Existe uma ordem de prioridade para o pagamento das dívidas, que deve ser seguida rigorosamente. A ordem de pagamento é a seguinte:

  1. Despesas funerárias: São as primeiras a serem pagas, pois têm caráter emergencial.
  2. Impostos: Como o Imposto de Transmissão Causa Mortis (ITCMD), que deve ser pago para que o processo de inventário possa ser finalizado.
  3. Credores em geral: Depois, entram as dívidas com bancos, fornecedores, entre outros credores.
  4. Herdeiros: Por último, caso haja sobrado algum valor após o pagamento das dívidas, o que restar será dividido entre os herdeiros.

Em situações onde as dívidas superam os bens deixados pelo falecido, a parte dos credores que não puder ser paga será considerada um prejuízo para eles. Os herdeiros não têm responsabilidade pelo pagamento de dívidas que ultrapassam o valor do espólio.

Exemplo prático

Vamos ilustrar com um exemplo. Se uma pessoa faleceu deixando R$ 100 mil em dívidas e R$ 200 mil em bens, todas as dívidas serão pagas e os R$ 100 mil restantes serão distribuídos entre os herdeiros. No entanto, se a pessoa deixou R$ 500 mil em dívidas e apenas R$ 100 mil em bens, toda a herança será utilizada para quitar os débitos. Nesse caso, os herdeiros não receberão nada, mas também não terão que pagar os R$ 400 mil restantes.

Passo a passo para lidar com as dívidas de um falecido

A seguir, veja um passo a passo simples para lidar com as dívidas de um familiar falecido:

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  1. Contrate um advogado especializado: A primeira atitude após a morte de um familiar deve ser contratar um advogado especializado em direito sucessório.
  2. Abra o inventário: O inventário pode ser judicial ou extrajudicial, dependendo da situação.
  3. Levante todos os bens e dívidas: O advogado ajudará a identificar todos os bens, direitos e obrigações deixadas pelo falecido.
  4. Pague as dívidas conforme a ordem de prioridade: Com a ajuda do advogado, as dívidas serão pagas conforme a ordem legalmente estabelecida.
  5. Finalize a partilha: Depois de quitar as dívidas, os bens restantes serão divididos entre os herdeiros.

Como evitar complicações futuras

Embora a morte seja um evento inevitável, é possível tomar algumas medidas ainda em vida para evitar complicações para os herdeiros. Aqui estão algumas dicas valiosas:

Planejamento sucessório

Organizar a sucessão de bens ainda em vida pode evitar muitos transtornos para os familiares. O planejamento sucessório é um conjunto de ações que visa facilitar a transferência de bens e responsabilidades após o falecimento. Algumas opções incluem:

  • Testamento: Documento no qual você expressa sua vontade sobre a divisão de seus bens.
  • Doações em vida: Transferir a propriedade de bens, como imóveis, enquanto ainda está vivo pode evitar disputas entre herdeiros e reduzir custos de impostos.
  • Holding Familiar: Criar uma empresa para administrar o patrimônio da família e facilitar a divisão de bens.
  • Seguro de vida: Pode ajudar a cobrir custos do inventário e até as dívidas deixadas pelo falecido.

Organize sua documentação

Manter seus documentos financeiros organizados e acessíveis facilita bastante a vida dos herdeiros após o seu falecimento. Ter todos os contratos e informações sobre dívidas à mão pode agilizar o processo e evitar complicações legais.

Lidar com as dívidas deixadas por um ente querido pode ser complicado, mas com o auxílio de um advogado especializado e o cumprimento das etapas legais, o processo pode ser conduzido de forma mais tranquila. Além disso, investir em planejamento sucessório ainda em vida pode evitar que seus herdeiros enfrentem dificuldades no futuro.

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