Jovem tem complicações pós-parto, busca ajuda e morre no AC; família acusa hospital de negligência


Estherfanny Sara de Souza Adrião, de 25 anos, procurou a Unidade Mista de Manoel Urbano na última sexta-feira (10) com dor de cabeça intensa e crises convulsivas e foi transferida para Rio Branco, onde teve morte encefálica constatada pela equipe médica. Sesacre diz que prestou assistência à jovem. Mulher morre 10 dias após dar luz a filha no Acre e família acusa hospital de negligência
Arquivo pessoal
“A maior vontade da vida dela era ser mãe, ela tinha esse sonho”.
Esta fala foi dita ao g1 pela família de Estherfanny Sara de Souza Adrião, de 25 anos, que morreu na última sexta-feira (10), dez dias após dar à luz em Manoel Urbano, no interior do Acre. Ela sofreu complicações pós-parto e apresentou o quadro de dor de cabeça intensa e crises convulsivas, diagnosticado posteriormente como eclampsia. Familiares acusam a Unidade Mista da cidade de negligência médica.
Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre) informou que a paciente foi atendida e assistida pela equipe da unidade, “conforme registrado no prontuário médico já disponibilizado à família e à Polícia Civil”. (Confira o posicionamento completo mais abaixo)
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A professora Esther Samylle Souza da Silva, 27 anos, irmã de Estherfanny, explicou que várias negligências ocorreram na morte da irmã. A família afirma que ela, inclusive, foi avaliada por um aluno de medicina sem a supervisão do médico plantonista. Segundo a Lei nº 6.932, de 1981, o residente médico só pode fazer a prática da profissão sob supervisão.
“O médico plantonista da unidade só foi atender após ela convulsionar. Além disso, apesar da gravidade do caso, o médico que a avaliou às 2h [do dia 10] não pediu a transferência. A transferência só foi feita por volta das 6h quando outro médico assumiu o plantão e solicitou imediatamente após ver o quadro dela. Foi um atraso de quatro horas e nesse período ela estava convulsionando”, declarou.
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A irmã conta que durante o tempo de espera, a família foi informada que o quadro da paciente era “estável”, o que não correspondia à realidade clínica, já que a jovem não tinha resposta verbal e ocular, e não apresentava estímulos motores. Esther ainda aponta que a transferência de Estherfanny foi feita de forma irregular e que ela não foi intubada na Unidade em Manoel Urbano.
“A transferência foi feita através do Samu [Serviço de Atendimento Móvel de Urgência], mas foi usada uma ambulância inadequada, uma ambulância branca. Próximo a Rio Branco, ela não estava mais recebendo oxigênio adequadamente na ambulância. Vimos que faltou oxigênio, o que contribuiu para a piora do quadro dela que evoluiu para duas paradas cardiorrespiratórias”, descreve Esther.
De acordo com ela, os profissionais só perceberam que a irmã estava tendo uma parada cardiorespiratória porque a mãe delas avisou. “O médico ia no banco da frente da ambulância do lado do condutor de costas para minha irmã”, complementou.
Esther ainda fala que após a reanimação feita na capital, foram informados pela médica que não havia mais o que pudesse ser feito, que o quadro dela era irreversível e que ela já estava em morte cefálica, atestado no dia 10 de janeiro.
A família defende que quer uma investigação rigorosa sobre o ocorrido e pedem a apuração da conduta do médico, da equipe envolvida no atendimento inicial e na transferência. Além disso, buscam a revisão dos protocolos de atendimento na Unidade Mista de Manoel Urbano, para que sigam as normas legais e clínicas.
“A gente já entrou no Ministério Público, fizemos a denúncia, pedindo que todos sejam notificados: o CRM [Conselho Regional de Medicina], o estado, o Samu, para que todos sejam notificados e nos dê explicações. Até agora a gente está esperando alguma resposta desses órgãos. Nenhum deles se manifestou para a família”, falou.
O maior sonho de Estherfanny era ser mãe e ela teve sua bebê no dia do réveillon
Arquivo pessoal
Sonho de ser mãe
Estherfanny era casada há oito anos e era prestadora de serviços no Posto de ldentificacão de Manoel Urbano. Inicialmente, o g1 entrou em contato com o marido, porém ele estava completamente abalado, já que o sonho do casal era se tornarem pais.
“Ela planejou tudo na gravidez. Eu até brincava: ‘eu nunca vi uma pessoa tão empolgada para ser mãe’. Aí ela foi para a maternidade, ganhou a bebê e veio para casa, estava tudo bem”, conta a irmã.
A jovem saiu da cidade do interior e deu à luz na Maternidade Bárbara Heliodora, sem nenhuma intercorrência, no dia 31 de dezembro de 2024. Após quatro dias, recebeu alta e voltou para Manoel Urbano.
“Mas aí [ela] começou a sentir essa dor de cabeça. Quando ela foi para o hospital e chegou lá, a pressão dela já estava alta. Eles não fizeram os procedimentos corretos, porque os médicos da capital falaram que se eles tivessem feito os procedimentos rápidos e certos, teria evitado o caso dela ser irreversível. Poderia ser caso de cirurgia ou de drenar o sangue”, lamentou Esther.
Após a morte na capital, o corpo de Estherfanny foi levado para a cidade do interior, sob forte comoção dos moradores da cidade. (Veja vídeo abaixo)
Mulher morre 10 dias após parto e família acusa hospital no interior do Acre
A Polícia Civil publicou uma nota de pesar na última segunda-feira (13). “Neste momento de dor, expressamos nossas mais sinceras condolências aos familiares e amigos. Que encontrem conforto e força para enfrentar esta perda irreparável. Estherfanny deixará saudades e será sempre lembrado por seu compromisso dedicação e carinho”, falou.
O que diz a Sesacre
Em nota enviada ao g1, a Sesacre disse que a paciente foi atendida pela equipe de assistência, e falou ainda que os protocolos foram realizados acerca do quadro de saúde da jovem. Além disto, enfatizou que foi aberta uma sindicância para apurar o caso. (Confira a nota completa abaixo)
“A equipe realizou a estabilização para realizar a regulação, seguindo os protocolos médicos para garantir a segurança da paciente durante sua transferência para o Pronto Socorro da capital onde foi acompanhada por equipe médica especializada”, falou.
Nota da Sesacre
“A Secretaria de Estado de Saúde, por meio da Unidade Mista de Saude de Manoel Urbano, manifesta solidariedade aos familiares da paciente Esthérfanny Sara de Souza, de 25 anos.
Esclarecemos que a paciente foi atendida e assistida por toda a equipe de assistência da unidade, composta por um médico, dois enfermeiros, dois técnicos em enfermagem e o apoio diagnóstico do laboratório, conforme registrado no prontuário médico já disponibilizado à família e à Polícia Civil.
A gestão garante que todos os protocolos e intervenções necessários foram realizados. De acordo com o prontuário, a paciente apresentava um quadro grave, com suspeita de eclâmpsia e AVC, agravado por convulsões. A equipe realizou a estabilização para realizar a regulação, seguindo os protocolos médicos para garantir a segurança da paciente durante sua transferência para o Pronto Socorro da capital onde foi acompanhada por equipe médica especializada.
A direção do hospital informa que, além de contribuir com as investigações conduzidas pela Polícia Civil, instaurou uma sindicância interna para assegurar a transparência do caso. As imagens do monitoramento eletrônico do hospital também já foram disponibilizadas às autoridades, confirmando o atendimento pela equipe, incluindo o médico habilitado.
Reforçamos nosso compromisso com a população e seguimos à disposição para prestar quaisquer esclarecimento aos familiares ou às autoridades competentes.
Secretaria de Estado de Saúde do Acre.”
VÍDEOS: g1
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