Confunde-cabeças.docx

Um risco verde limão na extremidade da peça. As pupilas contraem passeando pela área delimitada de 50 cm por 70cm, ainda quase nada preenchida. A iluminação tendenciosa das lâmpadas amarelo-ocre pendentes sobre a mesa embaralha detalhes e cores na retina e estou prestes a tentar outro encaixe.

Navegando na internet o quebra-cabeça de mil peças me foi exposto. Um monstrão simpático tirando foto no espelho num banheiro meio pichado de um, bar? Talvez eu deva parar com fotos em banheiros de paredes rabiscadas.

Cliquei no link e me veio o quanto eu já montei quebra-cabeças. Pensei em todo trabalho lúdico desenvolvendo a atenção e o foco e a insistência, e comprei. Desde então, o quebra-cabeça ocupa metade da mesa de jantar e de tempos em tempos eu paro e tento encaixar alguma coisa.

No balcão ao lado da mesa que construo o monstro-selfieane, dou play na cafeteira pra passar um pingado, e por um momento desisto da peça com o risco verde limão. A ideia é desfocar, pra depois voltar o foco. Tem horas que o excesso de atenção cega.

Tento outras peças, qualquer traço que indique um possível encaixe. Os cortes do cabelo avermelhado do monstro, os detalhes na pia, os escritos na parede. Tudo é muito pequeno. Tudo é muito grande. E aos poucos vou realizando que esse quebra-cabeça vai virar o inverno nessa mesa até eu conseguir ver a foto no espelho.

 A cafeteira fica em silêncio anunciando café pronto e vou buscar a caneca. Mas não tem caneca. Nem xícara. Nem copo. Tem só café com leite escorrendo pela bancada e já com pingos atingindo o chão.

E eu começo a rir. E rio enquanto limpo a bancada. Rio enquanto encho mais água na cafeteira. Rio enquanto coloco outra cápsula de pingado. Rio quando antes do play, ponho a caneca na cafeteira. Rio pensando como aumentando minha atenção, também fiz transbordar a distração.

Enquanto espero o pingado escorrer dentro da caneca, volto pra peça com o risquinho verde limão. E agora consigo achar o encaixe. É o finalzinho do y do Be happy.

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