‘Chuva de aranhas’ em Minas viraliza e intriga internautas; entenda o fenômeno

Uma “chuva de aranhas” registrada em São Thomé das Letras, no Sul de Minas Gerais, viralizou nas redes sociais e intrigou muitos internautas. Ao BHAZ, Bruna Reis de Carvalho, de 38 anos, conta que estava indo ao supermercado com a amiga quando se depararam com a cena.

“Nós moramos na área rural de São Thomé das Letras e estávamos indos até a cidade. Quando voltamos, as aranhas estavam em plena atividade na teia”, explica. Maravilhada com o fenômeno, ela e a amiga resolveram fazer um registro da chamada “chuva de aranhas”.

“Isso é bem comum nessa época do ano. Mais ou menos entre novembro e março elas aparecem. Só que as aranhas começam a trabalhar à noite, de dias elas somem e não ficam nas teias. Quando fizemos o vídeo, era por volta de 18h, quando elas estavam começando a aparecer”, afirma.

Bruna conta que já viu o fenômeno outras vezes e sempre fica maravilhada. “É fascinante, maravilhoso. Essas aranhas são inofensivas e eu acho incrível ver esse monte de aranha em uma teia gigante”. Ela diz ainda que a teia fica no alto, então, é possível passar por debaixo dela. “Dá pra passar, mas corre o risco de esbarrar. Passamos de carro e, às vezes, chega a encostar. Acredito que se a pessoa estiver de moto, por exemplo, pode acabar grudando”.

Entenda o fenômeno

A chuva de aranhas é formada pela espécie Parawixia bistriata, também conhecida como aranha colonial, conforme explica a professora de ecologia da Una, Fernanda Raggi. “É uma espécie de aranha de cerrado e muito comum no Brasil, principalmente na região sudeste, mas somente em áreas rurais”.

De acordo com a especialista, esse fenômeno só ocorre em áreas rurais porque essa espécie é bastante sensível a fenômenos artificiais como poluição, ruídos, radiação solar muito intensa e altas temperaturas. 

Na ecologia, o fenômeno é chamado de “forrageamento social” e pode juntar até 500 aranhas em uma colônia. “Para quem vê, elas parecem ser um grande aglomerado de nuvens pretas soltas no céu. ‘Chuvas de aranhas’ são comuns em áreas rurais nesta época do ano, de dezembro a março, devido ao clima quente e úmido”, destaca Raggi.

Além disso, a especialista conta que as teias são construídas durante o pôr do sol e dura aproximadamente uma hora de trabalho. “Esse período é escolhido por ser o momento em que vários insetos noturnos saem para se alimentar e a chance de caírem na teia é maior”, revela.

E por que isso acontece?

A professora explica que as aranhas se unem por estarem no período de reprodução. “Elas se expõem em teias, na fase jovem, para se alimentarem, alimentarem as fêmeas em reprodução e alimentarem os filhotes com insetos que ficam presos”.

“São umas das poucas espécies da natureza que apresentam este hábito social, ou seja, se unem em longas teias, para a alimentação e proteção. E como o fio da teia é muito fino, há uma baixa visibilidade e a impressão de se tratar de uma ‘chuva de aranhas’”, complementa Raggi.

E elas aparecem nesta época do ano porque há uma grande movimentação de insetos devido ao calor e a umidade, consequentemente, as aranhas vão em busca deles para se alimentar. “Ainda, a alta disponibilidade de alimento favorece a reprodução das fêmeas pois precisam de nutrientes para formação dos ovos, e a garantia de nutrição também dos filhotes”.

E se você se deparar com o fenômeno, não é preciso ter medo. As aranhas têm o corpo muito pequeno, com cerca de dois centímetros, a cor preta com alguns pontos vermelhos ao redor do abdômen. Os olhos também são muito pequenos, “quase invisíveis na cabeça”, e elas são totalmente inofensivas. “Caso as pessoas se encontrem com elas, não é preciso ter medo, uma vez que são inofensivas e a concentração de veneno não é letal”, destaca.

Mas, e se eu for picado?

A professora esclarece que, caso a aranha pique alguém por se sentir ameaçada, a recomendação é procurar uma unidade de saúde o mais rápido possível, já que podem ocorrer sintomas como dor de cabeça, convulsão e confusão mental.

“O fenômeno é muito bonito e deve ser apreciado como uma época de festa da natureza, uma vez que elas aguardam esta época do ano para se reunir, se alimentar e perpetuar a espécie”, conclui Raggi.

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