Em delação, Mauro Cid conta que repassou a Jair Bolsonaro US$ 86 mil da venda de joias


O ex-ajudante de ordens também deu a versão dele de como foi a operação para recomprar joias que Bolsonaro recebeu durante a Presidência. Mauro Cid diz que foi a Miami recomprar joias recebidas por Jair Bolsonaro
Em novos trechos da delação premiada, o tenente-coronel Mauro Cid deu a versão dele de como foi a operação para recomprar joias que Jair Bolsonaro recebeu durante e Presidência.
O desvio e a venda de joias recebidas pelo governo brasileiro como presentes de outros países são investigados em um outro inquérito da Polícia Federal. A PF já indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro e diversos aliados, e a Procuradoria-Geral da República está na fase final de análise do inquérito para decidir se apresenta ou não uma denúncia contra os investigados.
Na delação, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, confirmou que todo o dinheiro arrecadado com a venda das joias tinha de ser entregue a Jair Bolsonaro. Dois relógios foram vendidos por US$ 68 mil, e um kit de joias por US$ 18 mil.
Mauro Cid: Ninguém ficou com nada. Nem eu, nem meu pai, nem Crivelati, nem Câmara. Ninguém ficou com um centavo.
Pergunta: Passou tudo?
Mauro Cid: Tudo para o presidente.
Pergunta: Você sabe onde o presidente guardou esse dinheiro?
Mauro Cid: Não. Eu sabia que ele deixava jogado em uma gaveta que ele tinha, mas nunca…
Pergunta: Na casa dele?
Mauro Cid: Na casa dele.
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E o dinheiro foi entregue em dólar.
Pergunta: Ele recebeu todo o montante em dólar?
Mauro Cid: Todo o montante em dólar.
Mauro Cid também falou sobre a operação para a recompra de um dos relógios recebidos por Bolsonaro, quando o Tribunal de Contas da União começou a questionar se o ex-presidente poderia ficar com os presentes. Cid disse que foi pessoalmente aos Estados Unidos e pagou o dobro do valor que tinha recebido pela venda.
“E aí eu informei para eles onde eu tinha vendido as joias. E aí eles foram lá, só que eles não conseguiram encontrar porque eu não lembrava onde era a loja fisicamente. Eu não lembrava onde era a loja fisicamente. Aí eles procuraram e falaram: ‘Cid, não tão achando’. E aí, acho que foi um domingo ou um sábado, o coronel Câmara falou: ‘Cid, só você que pode ir lá. Você é o único que sabe onde está’. Foi aí que eu comprei uma passagem”.
Pergunta: Comprou com o seu dinheiro?
Mauro Cid: Do meu dinheiro. No próprio domingo mesmo, falei: “Então eu vou lá”. Peguei em um domingo à noite, peguei um voo para Miami, cheguei em Miami cedinho, fui na loja, recomprei e voltei. Nisso, chega o vendedor que tinha me vendido: “Queria recomprar”. Ele: “Pô, mas eu já vendi”. Falei: “Mas eu preciso de volta”. Ele: “Então está bom, deixa eu tentar conseguir de volta”. Aí, ele trouxe o valor de US$ 35 mil dólares.
Pergunta: O dobro do que você tinha pago?
Mauro Cid: O dobro do que eu tinha pago. Aí eu liguei para o coronel Câmara, falei: “Pô, coronel, US$ 35 mil. E agora? Tem dinheiro? Como é que vai fazer?”. Aí ele falou: “Cid, e aí, você tem dinheiro? Ou não tem?”. Eu falei: “Não, eu tenho dinheiro na minha conta. Pô, coronel, eu tenho dinheiro”. Ele: “Então compra que depois a gente acerta”. Aí eu fui até o Banco do Brasil, liguei para o meu gerente, falei: “Cara, estou precisando de US$ 35 mil”. Aí o gerente foi, saquei o dinheiro, espécie, cash. Paguei e peguei os bens. Aí acho que duas ou três semanas depois, o coronel Câmara me devolve os US$ 35 mil.
Pergunta: E a origem desse dinheiro que o senhor recebeu?
Mauro Cid: Era do presidente. Talvez seja o dinheiro que ficou da venda inicial do relógio. Não sei.
Em delação, Mauro Cid conta que repassou a Jair Bolsonaro US$ 86 mil da venda de joias
Jornal Nacional/ Reprodução
Nos depoimentos à Polícia Federal, Mauro Cid também deu detalhes sobre o documento que ficou conhecido como a minuta do golpe. Ele contou que viu a primeira versão do arquivo e confirmou que Bolsonaro pediu que o texto fosse alterado.
Mauro Cid: Começava com… Na verdade, prendia todo mundo. Prendia Alexandre de Moraes, prendia os ministros todos. Prendia… Saia prendendo todo mundo.
Pergunta: Os ministros, o senhor recorda? Era Alexandre de Moraes?
Mauro Cid: Eu não me lembro, acho que Gilmar Mendes também, todos os ministros que de alguma forma.
Pergunta: Gilmar Mendes?
Mauro Cid: É, eu não vou lembrar. Fachin, acho que todos mais da linha ideológica… Não vou lembrar. Era para prender quase todo mundo, até o Rodrigo Pacheco mandava prender. Aí, basicamente, o presidente corrigiu o documento. Ele falou assim: “Não vai prender ninguém, vai só prender o Alexandre de Moraes e fazer outra eleição”.
Nessa época, de acordo com o relato de Mauro Cid, a então primeira-dama Michelle Bolsonaro instigava o então presidente a fazer alguma coisa para não sair do Alvorada.
Mauro Cid: E a própria primeira-dama quando… Mas aí é muito mais desespero de mulher, que quando ela viu a mudança dela saindo, ela quase que pirou. Entrou em pânico.
Pergunta: O que é que ela falou?
Mauro Cid: Não, ela falava para a gente fazer alguma coisa. Tinha que fazer alguma coisa.
A defesa de Marcelo Câmara afirmou que não existe denúncia sobre o caso das joias; e que vai rebater com o direito do contraditório e da ampla defesa, se for formalizada futuramente uma outra acusação com base em declarações de um investigado pressionado a falsear a verdade para se beneficiar e beneficiar a família.
A defesa de Jair Bolsonaro não deu retorno ao contato do Jornal Nacional.
O Jornal Nacional não conseguiu contato com as defesas de Michelle Bolsonaro e Osmar Crivelatti.
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