COP na Amazônia: os desafios de Belém para superar déficit de leitos de hospedagem e altos preços (PA)


Com aluguéis de mais de R$1 milhão no período do evento da ONU, capital paraense busca alternativas, como reforma de prédios antigos, escolas e expansão de área portuária para receber navios de cruzeiros. Capital paraense tem défcit de leitos para receber visitantes para COP 30
Agência Belém
Belém tem, neste ano, o desafio de abrigar 50 mil visitantes durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), número que pode crescer e encostar em 60 mil. Mas, atualmente, toda a região metropolitana da cidade tem 24 mil leitos, o que pressiona setores a buscarem alternativas. Faltando menos de 250 dias para a COP 30, para atender à demanda e suprir o déficit de ao menos 26 mil leitos, são considerados o uso de escolas, reformas de prédios antigos e a criação de hotéis em navios de cruzeiro. Nas redes sociais, internautas questionam se os preços estão inflacionados.
Na corrida imobiliária, sites de hospedagens anunciam alguns imóveis de alto padrão por mais de R$ 2 milhões para 11 dias. Já em hoteis, os preços de diárias seguem a procura do mercado, assim como ocorre em outros eventos, como o réveillon no Rio de Janeiro ou o carnaval na Bahia, segundo Fernando Soares, assessor jurídico do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Estado do Pará (SHORES).
➡️ Ainda segundo o representante do sindicato, Belém e região metropolitana contam com 24 mil leitos para acomodar os visitantes. Com os novos empreendimentos em andamento – como hotéis e construções de prédios, por exemplo – a quantidade pode dobrar, mas não há como estimar número exato, uma vez que os investimentos no setor serão feitos até a chegada do evento à capital.
Uma das soluções de ampliação de leitos são os cruzeiros, que podem fornecer mais de 4 mil acomodações. Segundo o Governo Federal, estima-se que os investimentos possam gerar:
4.500 leitos gerados por cruzeiros
Mais de mil em novos hotéis
11,5 mil de acomodações e aluguéis de casas por plataformas online
2,3 mil com o suporte das Forças Armadas
5 mil de escolas adaptadas
Além de apostar nas acomodações convencionais, Belém investe em opções de luxo e econômicas.
Cidade de Belém do Pará vai sediar a COP 30.
Oswaldo Forte – Agência Belém
O que você vai encontrar nesta reportagem:
🏙️ Alternativas para dobrar o número de leitos em Belém
🛳️ Cruzeiros como opções de hospedagens
📲 Parceria com plataformas de hospedagens online
🏷️ Locatários não sabem quanto cobrar
💸 Preços dos aluguéis afastam visitantes
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🏙️ Alternativas para aumentar o número de leitos em Belém
➡️ O Governo do Estado planeja usar escolas e vilas militares como hospedagem temporária, como a Escola Estadual Ulysses Guimarães, reconstruída como hostel, com um investimento de mais de R$ 9 milhões. Esta é a primeira de 17 escolas anunciadas para o evento.
Um decreto suspende o funcionamento de órgãos e escolas, incluindo as privadas, de 5 a 21 de novembro de 2025, para garantir a mobilidade urbana durante o debate climático.
➡️ Outra solução é reformar prédios antigos, como o da Receita Federal na Rua Gaspar Viana, que será transformado em um hotel cinco estrelas com 255 apartamentos. O grupo português Vila Galé também está construindo um novo hotel no Porto Futuro II, aproveitando galpões desativados, gerando empregos e fortalecendo a infraestrutura turística.
➡️ Belém está incorporando o conceito de eco hotéis, com espaços sustentáveis cada vez mais procurados por turistas conscientes sobre questões ambientais. Alguns empreendimentos já estão adotando essas práticas em novos projetos de hospedagem.
Um exemplo é o projeto Amazônia Domus, que utiliza materiais sustentáveis, como madeiras manejadas, plásticos reciclados e matérias-primas regionais, como o rejeito do açaí. As estruturas, inspiradas nas formas orgânicas da Amazônia, podem ser desmontadas e remontadas conforme a necessidade do cliente.
A empresa, vencedora do prêmio Inova Amazônia, projeta e monta estruturas hoteleiras em madeira (jatobá) e cobertura térmica 65% reciclada, com parte do revestimento interno feito de caroço de açaí.
➡️ Outra opção é a instalação de tendas climatizadas em vilas militares e áreas para comunidades indígenas, além de módulos habitacionais disponibilizados pela gestão estadual, que posteriormente se transformarão em centros administrativos. No entanto, o governo do Estado não forneceu detalhes sobre o andamento dessa alternativa.
🛳️ Cruzeiros como opções de hospedagens
➡️ Em parceria com o setor de turismo e navegação, o governo deve investir no uso de navios de cruzeiro como hospedagem temporária durante a COP 30.
No início de janeiro, o governador Helder Barbalho anunciou que o Terminal Portuário de Outeiro, antigo Porto da Sotave, irá receber esses cruzeiros que ficarão atracados durante todo o período da COP, em que serão usados como acomodações.
No dia 23 de janeiro deste ano, uma comitiva da ONU visitou Belém e esteve no Porto de Outeiro, que, até então, era de uso exclusivo de navios cargueiros. Valter Correa da Silva, secretário extraordinário para a COP 30, afirmou que o porto será expandido e transformado em um ponto de uso comercial e turístico.
A ideia do governo é disponibilizar ônibus 24 horas, que vão interligar uma linha direta pelo BRT das avenidas Augusto Montenegro e Almirante Barroso, via Expressa, em direção ao Parque da Cidade, para quem estiver hospedado nos navios ancorados no porto. O Parque da Cidade será o principal local do evento e a distância entre ele e o porto é de aproximadamente 20 quilômetros.
“Todo o planejamento leva em conta o tempo de duração do translado, de acordo com o que as Nações Unidas consideram plausível, garantindo que a distância não seja um obstáculo para o deslocamento dos participantes do evento”, explicou o governador.
➡️ Outra saída é a construção do Terminal Hidroviário Turístico de Icoaraci e o Terminal Hidroviário Internacional de Belém, que são vistas como obras estratégicas para receber passageiros que moram nas ilhas próximas e que poderão receber barcos de menor porte, ampliando a oferta de leitos.
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📲 Parceria com plataformas de hospedagens online
➡️ Em novembro de 2024, o governo do Estado e plataformas de hospedagens online firmaram um acordo para tornar o serviço mais conhecido no Pará. Desde então, incentivos são direcionados para a capacitação do setor, como a promoção de workshops para mostrar como cadastrar as propriedades para serem alugadas.
Além disso, a parceria possibilita a criação de oportunidades econômicas para os proprietários, que enxergam na iniciativa meios aumentar a renda.
Segundo um levantamento do Airbnb, realizado em novembro de 2024, a um ano do evento, o número de leitos na capital paraense teve um aumento de 54% desde que foram fechados acordos entre o governo do estado e as plataformas online.
🏷️ Locatários não sabem quanto cobrar
➡️ Apesar da iniciativa com as plataformas online de aluguel, os interessados se deparam com um novo obstáculo: definir preço de forma justa tanto para o proprietário quanto para o inquilino.
Essa é a dúvida de Simone Sousa, autônoma de 38 anos, que atua há cerca de seis meses no mercado de locação. A empresária estruturou parte da própria casa para receber inquilinos.
Simone optou pelo sistema de locação por diária, por meio de divulgações tanto nas plataformas de aluguel por temporada, como o Booking e o Airbnb, como por indicações de terceiros.
Em conversa com o g1, a empresária relatou que ainda não abriu as portas das suítes com espaços compartilhados, como ela mesma chama, por ainda ter dúvidas sobre quanto cobrar nas diárias.
“Aluguei por R$ 500, R$ 800 no período do Círio de Nazaré do ano passado (2024), mas para este ano, com o Círio e a Cop ocorrendo muito próximos um do outro, fica difícil precificar agora, em janeiro, principalmente devido a alta demanda que deve chegar a partir do segundo semestre”, explica.
➡️ Uma breve pesquisa no site do Airbnb mostra que os valores variam a depender do bairro, tipo de acomodação e conforme a vontade do dono do imóvel.
Em uma comparação do dia 8 de janeiro, é possível ver dois imóveis localizados no mesmo bairro, o do Umarizal, centro da cidade, e ofertando serviços similares (como o café da manhã incluso), com o valor de R$ 22 mil de diferença nas diárias para o dia 10 de novembro de 2025.
“O preço quem define é o dono. Se ele quiser cobrar mais, ele pode. Não há limite de preços nos aluguéis aqui”, explica Fernando.
Expectativa para a Cop 30 tem gerado oportunidades para aluguéis de imóveis
💸 Preços dos aluguéis afastam visitantes
➡️ Apesar das dificuldades em encontrar um local para se hospedar, pessoas do país todo – e até fora dele – se preparam para o momento em que será debatido o futuro das causas climáticas, o que deixa o setor esperançoso.
À TV Liberal, Marcely, ativista do Rio de Janeiro, pretende vir para Belém com um grupo de dez pessoas, mas ainda não encontrou uma opção viável.
“A ideia inicial era de poder levar ainda mais pessoas, por ser a COP do nosso país, e isso está se organizando de uma forma que vai fazer com que o Brasil fique de fora da COP do Brasil”, afirma.
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