Crise de saúde mental: Brusque bate recorde de atendimentos em 2024 e projeta aumento para os próximos anos

Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) de Brusque registraram um crescimento expressivo na demanda nos últimos anos, evidenciando os impactos da chamada “pandemia da saúde mental”.

Em 2024, o Caps II atendeu mais de 800 pessoas, com mais de 15,9 mil procedimentos realizados – o maior número desde 2019, representando um salto em relação a 2023, quando foram contabilizados 10,9 mil atendimentos.

O segundo pior ano foi 2022, com 12,4 mil atendimentos, marcando o primeiro reflexo evidente da pandemia de Covid-19 na saúde emocional da população.

No Caps AD (Álcool e Drogas), mais de 700 pessoas foram atendidas, com os procedimentos subindo de 10,3 mil, em 2023, para 11,7 mil, em 2024. No Caps Infantil, os procedimentos saltaram de 3,8 mil para 6,7 mil no mesmo período, atendendo mais de 200 crianças e adolescentes, um aumento de 76%.

“Os números ilustram uma crise mundial na saúde mental, e a curva ainda está em ascensão. O pico, segundo a OMS, será em 2030”, afirma Inajá Gonçalves de Araújo, coordenadora de Saúde Mental do município.

Esses dados também refletem o mercado de trabalho no Brasil. Segundo o Ministério da Previdência Social, quase meio milhão de trabalhadores precisaram se afastar em 2024 — o maior número registrado em uma década. 

Foram 472 mil licenças médicas concedidas representam um aumento de 68% em relação a 2023.

“Ficou claro que os efeitos negativos da pandemia impactaram fortemente a saúde mental das pessoas. Todas as questões vividas naquele período podem desestabilizar alguém com facilidade. Já em 2024, somam-se as crises econômicas no Brasil e no mundo. A instabilidade financeira e a incerteza sobre o futuro representam um risco para a manutenção de uma boa saúde mental”, complementa Inajá.

Atendimentos do Caps por ano em Brusque

Caps II

  • 2019 – 5.311;
  • 2020 – 5.468 (+ 3% – início da pandemia da Covid -19);
  • 2021 – 8.908 (+ 63%);
  • 2022 – 12.441 (+ 99% – fim da pandemia da Covid-19);
  • 2023 – 10.934 (- 12%);
  • 2024 – 15.927 (+ 45%).

Caps AD

  • 2019 – 9.397;
  • 2020 – 7.276 (- 22% – início da pandemia da Covid -19);
  • 2021 – 4.924 (- 32%);
  • 2022 – 19.656 (+ 299% – fim da pandemia da Covid-19);
  • 2023 – 10,3 mil (- 47 %);
  • 2024 – 13.205 (+ 28 %).

Caps Infantil

  • 2021 – 3.828;
  • 2022 – 6.114 (+ 59% – fim da pandemia da Covid-19);
  • 2023 – 3.820 (- 37%);
  • 2024 – 6.741 (+ 76%).

Em 2023, houve uma queda no número de atendimentos registrados nos três Caps de Brusque. Inajá explica que, após o aumento significativo em 2022, o setor elaborou um planejamento intensivo para atender às situações vivenciadas no ano anterior.

Destacou ainda a construção do plano de valorização da vida, o retorno das academias da saúde e o aumento de ações de promoção e prevenção.

“Em 2024, observamos uma crise econômica mundial, acompanhada por uma mudança na gestão nacional, que afetou os níveis de emprego e as condições do dia a dia. Brusque não foi exceção, enfrentando o aumento de pessoas perdendo seus empregos, além das dificuldades e migrações para a cidade. As crises climáticas também impactaram, elevando novamente a demanda”, conta.

Para 2025, a coordenadora enfatiza que o trabalho será mais intensivo e focado, mas ressalta que o grande desafio é que, além de atuar no pós-trabalho, é essencial cuidar da saúde mental dentro dos locais de trabalho, pois também geram impacto.

Atendimento 

Os Caps de Brusque atendem de forma acessível, sem a necessidade de encaminhamento prévio. Segundo Inajá, as pessoas podem buscar atendimento de forma espontânea ou serem encaminhadas por unidades de saúde, hospitais e outros serviços da rede.

“No primeiro contato, a equipe realiza um acolhimento inicial para avaliar a situação e definir o melhor plano de cuidado para cada paciente”, explica.

Cada unidade conta com uma equipe multiprofissional composta por médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais e técnicos de enfermagem. “Esses profissionais trabalham de forma integrada para oferecer um atendimento qualificado e humanizado aos usuários”, complementa a coordenadora.

O atendimento no Caps é amplo e adaptado às necessidades de cada paciente. “Adotamos uma abordagem multidisciplinar, com atendimentos individuais, terapias em grupo, oficinas terapêuticas, visitas domiciliares e acompanhamento familiar”, detalha Inajá.

Segundo a coordenadora, também são promovidas atividades comunitárias para estimular a integração social e a reinserção do paciente no convívio familiar. Além do cuidado direto ao paciente, os Caps mantêm articulação com outros órgãos, como assistência social, educação e justiça.

“Essa rede integrada garante um atendimento mais abrangente e eficaz, evitando descompensações e internações desnecessárias”.

Questionada sobre quais são os atendimentos que mais realizam, Inajá explica que a maioria dos pacientes chegam ao Caps com transtornos mentais graves e recorrentes.

“Recebemos muitos casos de esquizofrenia, transtorno bipolar, depressão maior, transtornos de ansiedade severa e tentativas de autoextermínio. O acompanhamento contínuo é essencial para evitar crises e promover a reabilitação psicossocial”, relata.

Procedimento em crises e prevenção

Nos casos de crise aguda, Inajá explica que a rede de Brusque segue protocolos específicos para garantir a segurança e o cuidado imediato ao paciente. 

“O Samu realiza os primeiros socorros, e a pessoa pode ser encaminhada ao pronto-atendimento ou ao Hospital Azambuja, que dispõe de quatro leitos exclusivos para saúde mental”, detalha a coordenadora.

Após a estabilização, o paciente é direcionado ao Caps ou a outras unidades de referência para dar continuidade ao tratamento. 

“Vale lembrar que o suporte às famílias também é prioridade. Oferecemos atendimentos individuais e grupos de apoio, onde os familiares podem tirar dúvidas e trocar experiências”, ressalta Inajá.

Pensando na rotina dos cuidadores, o Caps promove grupos de apoio noturnos para quem não consegue participar durante o dia. Além disso, as ações vão além do atendimento direto aos pacientes. 

“Participamos de palestras, rodas de conversa, SIPATs e campanhas como o Setembro Amarelo. Nosso objetivo é levar informação à comunidade e reduzir o estigma em torno da saúde mental”, afirma a coordenadora.

O morador de Brusque, Eli Samuel, de 50 anos, é um dos muitos atendidos pelo Caps em 2024. Ele procurou a unidade por volta de 2020, após enfrentar um quadro de depressão e crises.

“O atendimento tem sido muito bom. Estou aqui há mais de quatro anos e percebo que o CAPS cumpre seu papel. Participo das atividades e dos grupos, e isso tem sido essencial para mim. Aqui, compreendi a importância da medicação que tomo, inclusive a para dormir. Além disso, me esforço para ajudar em casa, cuidando do meu pai, da minha mãe e do meu irmão”, relata.

Ampliações e demanda

Apesar dos avanços, o serviço enfrenta desafios significativos. “A alta demanda, a falta de recursos humanos e o estigma social são obstáculos constantes. Até memes circulando nas redes sociais têm atrapalhado, distorcendo a função dos Caps e gerando receio em quem precisa buscar ajuda”, lamenta.

Por fim, Inajá afirma que a gestão municipal tem investido em melhorias. “Ampliamos o horário do Caps AD, que agora funciona das 7h às 19h, sem fechar para almoço”, destaca. 

“Essa ampliação será estendida ao Caps II e ao Caps Infantil, para aumentar o acesso da população”, complementa. Além disso, a coordenadora menciona que há planos para a construção de uma sede própria para o Caps II. 

“Essa é uma luta antiga, mas estamos articulando com o governo federal para viabilizar o projeto. Queremos oferecer um espaço mais adequado para os atendimentos, garantindo mais conforto e qualidade para pacientes e profissionais. O que vale dizer é que estamos aqui para acolher, tratar e lutar por uma Brusque mais saudável e consciente”, conclui Inajá.

Medicamento como alternativa

Além de buscar ajuda médica ou no Caps, moradores de Brusque também têm recorrendo ao uso de medicamentos para melhorar ou estabilizar o estado mental. 

Segundo dados da diretora de Assistência Farmacêutica do município, Patricia Bernardi Sassi, divulgados com exclusividade ao jornal O Município, a Sertralina 50 mg foi o quinto medicamento mais distribuído na cidade em 2024, com mais de 1 milhão de cápsulas entregues. Esse antidepressivo, da classe dos Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRS), é usado para tratar depressão, ansiedade, TOC e síndrome do pânico.

Entre os dez medicamentos mais distribuídos, quatro são para controle da pressão arterial. A Losartana 50 mg lidera a lista, com 2,8 milhões de cápsulas entregues, seguida pela Hidroclorotiazida 25 mg (mais de 1 milhão de cápsulas), o Enalapril 10 mg (mais de 950 mil cápsulas) e o Anlodipino 5 mg (mais de 860 mil cápsulas).

A relação entre pressão arterial e saúde mental é um ponto de atenção, já que corpo e mente estão interligados. 

Embora não seja uma regra, estresse e ansiedade podem aumentar a pressão arterial ao liberar hormônios como cortisol e adrenalina, que aceleram o coração e contraem os vasos sanguíneos, sendo perigosos para quem tem hipertensão.

Por outro lado, estados depressivos ou fadiga extrema podem causar queda de pressão, resultando em tontura e desmaios.

Além disso, medicamentos para controle da pressão podem afetar o humor e as funções cognitivas, assim como fármacos psiquiátricos podem influenciar a pressão arterial, exigindo monitoramento constante.

“A pressão arterial é uma condição silenciosa que afeta grande parte da população. Diversos fatores contribuem para o aumento da pressão, como obesidade, tabagismo, colesterol alto, sedentarismo e, claro, o estresse, que está diretamente associado à saúde mental. No entanto, não é regra que todos terão aumento da pressão arterial. Muitos casos de ansiedade e depressão são tratados sem elevação da pressão arterial”, destaca Patrícia.

“Problemas emocionais, como estresse, ansiedade e depressão, podem alterar temporariamente a pressão arterial e liberar hormônios como adrenalina e cortisol, que contraem os vasos sanguíneos e aumentam os batimentos cardíacos. Por isso, a saúde mental nunca deve ser negligenciada, pois não há promoção de saúde eficaz sem ela”, complementa a médica que atua no Caps, Giovana Falcão Socoloski.

Serviço

Caps Infantil

Endereço: rua Doutor Olímpio de Souza Pitanga, nº 20, bairro Jardim Maluche. Telefone: (47) 2204-2248. E-mail: [email protected]

Caps AD

Endereço: rua Riachuelo, nº 45, bairro Centro. Telefone: (47) 3306-9305. E-mail: [email protected]

Caps II

Endereço: rua Hercílio Luz, nº 257, Centro. Telefone: (47) 3304-4710. E-mail: [email protected]


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Kai-Fáh: Luciano Hang foi dono de bar em Brusque, onde conheceu sua esposa:
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