
Anunciado oficialmente em março de 2025, o Programa Crédito do Trabalhador vem ganhando destaque por oferecer empréstimos consignados com juros baixos para trabalhadores com carteira assinada (CLT). A grande novidade é que, de acordo com o Ministério do Trabalho, mesmo quem está com o nome sujo pode solicitar o crédito.
Em entrevista recente ao programa de rádio A Voz do Brasil, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, afirmou que a inadimplência não será impeditivo para a aprovação do crédito, já que a garantia principal da operação é o desconto direto em folha de pagamento.
A medida promete ser um alívio para os milhões de brasileiros negativados que enfrentam dificuldades em conseguir acesso ao crédito tradicional. Mas apesar da promessa de inclusão, o programa ainda enfrenta barreiras operacionais e resistência por parte de bancos privados.
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O Crédito do Trabalhador é uma modalidade de empréstimo consignado voltado a trabalhadores formais, com parcelas descontadas diretamente da folha de pagamento. O objetivo do programa é facilitar o acesso ao crédito para quem está empregado com carteira assinada e precisa de dinheiro com juros mais baixos.
Características principais do programa:
- Exclusivo para trabalhadores com carteira assinada (CLT);
- Parcelas descontadas em folha de pagamento;
- Juros entre 1,46% e 3,17% ao mês, bem abaixo das taxas do crédito pessoal;
- Possibilidade de usar até 10% do FGTS e 100% da multa rescisória como garantia;
- Disponível via Carteira de Trabalho Digital (CTPS Digital);
- Permite contratação mesmo com restrição no CPF.
Inadimplentes também podem contratar

Nome sujo não é impeditivo, diz ministro
Durante entrevista à Voz do Brasil, o ministro Luiz Marinho confirmou:
“A garantia é o salário e a folha de pagamento, já que [o empréstimo] será descontado em folha de pagamento. Então não será necessário os bancos observarem se o trabalhador tem dívida extraordinária, se está com o nome sujo.”
Essa declaração tranquiliza muitos trabalhadores que, apesar de estarem empregados, não conseguem acesso a crédito no mercado tradicional por estarem com o CPF negativado. A nova política, portanto, representa um avanço em termos de inclusão financeira.
Dados do programa: mais de R$ 340 milhões já contratados
Segundo balanço divulgado pelo governo federal e publicado pela IstoÉ Dinheiro, mais de 55 mil contratos já foram firmados desde o lançamento do programa, totalizando aproximadamente R$ 340 milhões em empréstimos.
A expectativa é de que esse número cresça significativamente nos próximos meses, principalmente com a entrada gradual de novos bancos e fintechs no programa.
Nem todos os bancos aderiram ao programa
Resistência do mercado financeiro
Uma reportagem da CNN Brasil mostrou que grandes bancos e fintechs ainda demonstram resistência em aderir ao programa, devido a divergências no cálculo da margem consignável.
Enquanto a Dataprev, responsável pelos cálculos do programa, considera o salário bruto para definir a margem de até 35% que pode ser comprometida, o mercado de crédito tradicional utiliza o salário líquido, o que impacta a análise de risco.
Essa diferença gera insegurança entre as instituições financeiras, principalmente as que operam com altos volumes de crédito, pois aumenta a chance de inadimplência em situações de demissão ou perda de renda.
Bancos que já operam com o crédito do trabalhador

Atualmente, três grandes instituições financeiras já confirmaram participação no programa:
- Caixa Econômica Federal
- Taxa média: 1,60% a 3,17% ao mês
- Oferece contratação via app CAIXA Tem e CTPS Digital.
- Banco do Brasil
- Taxa média: 1,46% a 3,00% ao mês
- Aceita uso do FGTS como garantia e já disponibiliza propostas pela Carteira de Trabalho Digital.
- Banco Itaú
- Adesão recente. Detalhes das taxas e critérios de aprovação ainda estão sendo definidos.
Fintechs como Nubank, Banco Inter e C6 Bank ainda não aderiram ao programa, mas podem entrar à medida que os sistemas de integração com a Dataprev e a CTPS Digital forem aprimorados.
Como solicitar o crédito do trabalhador
Passo a passo para solicitar
- Baixe ou atualize o app Carteira de Trabalho Digital (CTPS Digital);
- Acesse a seção de crédito consignado e autorize a consulta ao seu vínculo empregatício e dados do FGTS;
- Aguarde até 24 horas para receber propostas dos bancos que participam do programa;
- Compare as taxas de juros e condições e selecione a proposta desejada;
- O valor será depositado na sua conta e as parcelas descontadas diretamente da folha.
A partir de 25 de abril, será possível contratar também pelos aplicativos bancários dos parceiros do programa.
Riscos e cuidados ao contratar o empréstimo
Mesmo com nome sujo, é preciso cautela
Embora a possibilidade de contratar mesmo estando negativado seja vista como positiva, especialistas alertam para os riscos do endividamento descontrolado.
Pontos de atenção:
- Comprometimento da renda: até 35% do salário pode ser comprometido com o crédito, o que pode pesar no orçamento mensal;
- Demissão: se o trabalhador for demitido, a multa rescisória pode ser usada para abater o saldo da dívida, reduzindo a indenização recebida;
- Crédito não é renda extra: é importante ter uma finalidade clara para o empréstimo — como quitar dívidas mais caras ou investir em algo essencial.
“Crédito é uma ferramenta, não uma solução mágica. Quando mal utilizado, vira armadilha”, alerta o educador financeiro Bruno Diniz.
Quem pode contratar o crédito do trabalhador?
Requisitos básicos
- Ter vínculo ativo sob regime da CLT (carteira assinada);
- Possuir salário registrado e folha de pagamento regular;
- Não é necessário ter nome limpo ou bom score de crédito;
- Ter acesso ao app Carteira de Trabalho Digital ou conta nos bancos parceiros.
Considerações finais
O Crédito do Trabalhador surge como uma alternativa viável e inclusiva para milhões de brasileiros empregados que, até então, estavam fora do sistema bancário formal por conta da inadimplência.
Ao permitir que trabalhadores com nome sujo possam contratar o empréstimo com base em garantias reais — como o salário e o FGTS — o programa dá um passo importante na direção da inclusão financeira.
No entanto, a contratação exige planejamento, responsabilidade e análise cuidadosa das condições oferecidas. É fundamental entender que, apesar das taxas mais baixas, o empréstimo é uma obrigação de longo prazo que impacta diretamente o orçamento do trabalhador.
Se usado com consciência, o Crédito do Trabalhador pode ser um aliado poderoso. Mas, sem controle, pode se transformar em mais uma armadilha do crédito fácil.