Governo é culpado pelo alto preço do café? Entenda

Nos últimos meses, comprar café tem sido um desafio para os brasileiros. Dependendo da marca, o quilo do produto já ultrapassa R$ 50, refletindo um aumento expressivo no preço da saca de café pago aos produtores. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da USP, o valor do café arábica subiu 152% em um ano, chegando a R$ 2.565,86 por saca de 60kg em fevereiro de 2025.

Apesar da alta expressiva, especialistas indicam que os preços devem se manter elevados, sem previsão de queda significativa. Entenda os principais fatores que influenciam esse aumento e as expectativas do mercado.

Leia mais:

Starbucks quer voltar a ser apenas uma cafeteria

Por que o preço do café subiu tanto?

A alta do café é resultado de uma combinação de fatores internos e externos. Entre os principais motivos estão:

1. Impacto da seca e mudanças climáticas

O Brasil enfrentou uma das secas mais prolongadas da história em 2023 e 2024. O fenômeno reduziu drasticamente a produção de café, especialmente em Minas Gerais, estado responsável por grande parte da safra nacional.

“Não foi a maior seca, mas foi uma das mais severas, impactando diretamente a cafeicultura”, afirmou Antônio Pitangui de Salvo, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas (Sistema Faemg Senar).

Além da seca, temperaturas elevadas e tempestades severas prejudicaram plantações em outros países produtores, como Vietnã e Colômbia, elevando ainda mais os preços no mercado global.

2. Redução da oferta e aumento do consumo

Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção de café no Brasil deve cair 4,4% na safra 2024/2025. O café arábica, principal tipo consumido no país, terá uma queda ainda mais acentuada, de 12,4%.

Enquanto a oferta diminui, a demanda global pelo produto continua crescendo, impulsionada principalmente pelo mercado chinês, que se tornou um dos maiores consumidores de café do mundo.

3. Câmbio e custos de produção elevados

A desvalorização do real frente ao dólar encarece os insumos agrícolas, aumentando os custos para os produtores. Além disso, o setor enfrenta altos gastos com mão de obra, fertilizantes e transporte, elevando ainda mais o preço final do produto.

“Os custos de produção aumentaram significativamente, o que se refletiu no preço final do café para os consumidores”, explicou Pavel Cardoso, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic).

O governo pode reduzir o preço do café?

Ao contrário do que circula em redes sociais, o governo federal não tem controle direto sobre o preço do café. A variação no valor é determinada pelo mercado e influenciada por fatores climáticos e econômicos.

No entanto, há expectativa de que o governo utilize o Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) para minimizar os impactos da alta. Para a safra 2024/2025, o Ministério da Agricultura e Pecuária destinou R$ 6,8 bilhões ao setor.

“Precisamos da sensibilização do Conselho Deliberativo da Política do Café para destinar parte desses recursos às indústrias e manter os negócios ativos”, destacou Pavel Cardoso.

O preço do café pode subir ainda mais?

Especialistas afirmam que novas altas são esperadas nos próximos meses. Segundo Cardoso, as indústrias ainda não repassaram totalmente os aumentos dos custos de produção aos supermercados e consumidores.

“As indústrias receberam aumentos de até 200% nos últimos 12 meses, mas repassaram apenas 79% para os supermercados e 39% para os consumidores. Ou seja, ainda há reajustes pendentes”, alertou.

Além disso, a baixa oferta e a crescente demanda global sugerem que o preço do café se manterá elevado ao longo de 2025.

O que esperar para o futuro do mercado de café?

O mercado de café segue pressionado por fatores climáticos e econômicos. Segundo André Braz, coordenador dos Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre-FGV), o cenário é desafiador:

“O café tem um ciclo bianual, alternando safras mais fortes e mais fracas. Em 2024, a safra já era esperada como mais forte, mas os desafios climáticos prejudicaram a produção. Com um ano de safra tradicionalmente menor pela frente, a oferta seguirá baixa e os preços continuarão altos.”

Diante desse panorama, consumidores devem se preparar para um longo período de preços elevados no café, sem previsão de alívio significativo.

Como economizar na compra do café?

Diante da alta dos preços, algumas estratégias podem ajudar os consumidores a economizar:

1. Comprar café a granel

Muitas vezes, comprar grãos em maior quantidade pode ser mais econômico do que as embalagens tradicionais.

2. Explorar marcas alternativas

Algumas marcas menos conhecidas oferecem qualidade similar por preços mais acessíveis.

3. Aproveitar promoções e descontos

Ficar atento às promoções dos supermercados e utilizar programas de cashback pode ajudar a reduzir gastos.

4. Experimentar novos métodos de preparo

Técnicas como a prensa francesa e o coador de pano permitem extrair mais sabor e rendimento do café, aproveitando melhor cada grama do produto.

Considerações finais

O aumento do preço do café no Brasil reflete um cenário global de desafios climáticos, redução da oferta e aumento da demanda. Com a projeção de novas altas ao longo de 2025, os consumidores devem estar atentos e buscar alternativas para economizar.

Embora o governo tenha anunciado medidas de apoio ao setor, o preço do café continuará sendo influenciado pelo mercado internacional e pelas condições climáticas. Dessa forma, a expectativa é que os valores se mantenham elevados nos próximos meses, exigindo planejamento por parte dos consumidores e empresários do setor.

Imagem: Fabio Balbi / shutterstock.com