O que é o ‘café falso’? Saiba como ele se espalha nos supermercados e quais os riscos

Xícara de café da marca Duralex

O aumento da inflação no Brasil tem levado muitos consumidores a procurar alternativas mais baratas para itens básicos da alimentação, e um dos produtos mais afetados por essa dinâmica é o café. Em um cenário econômico desafiador, surge um novo produto: o “Cafake”, que tem gerado polêmica nas redes sociais e levantado discussões sobre os impactos à saúde e os direitos do consumidor.

Este “cafake” não é café, mas uma mistura com impurezas e componentes de qualidade inferior, vendido com uma embalagem semelhante à do café tradicional. Com preço muito mais acessível, ele representa uma parte de uma tendência mais ampla de produtos alimentícios que enganam os consumidores com embalagens e características semelhantes às de itens de marca.

O caso do “cafake” gerou alerta por parte da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), que denuncia que esse produto não possui registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), sendo, portanto, ilegal para comercialização.

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O Que é o “Cafake”?

arroz e café
Imagem: Fabio Balbi / shutterstock.com

Em termos simples, o “Cafake” é um pó para preparo de bebida que imita o café, mas não contém o grão de café em sua composição, nem é produzido com a qualidade que se espera do produto original.

Em vez disso, ele é uma mistura que inclui cascas, mucilagem, e outros subprodutos da produção do café, tornando-se uma alternativa mais barata, mas também de qualidade inferior. O nome “cafake” é uma junção de “café” e “fake”, uma referência direta à falsificação do produto original.

De acordo com a Abic, o “cafake” não é registrado na Anvisa, o que levanta sérias preocupações sobre sua segurança e conformidade com as regulamentações alimentícias brasileiras. Mesmo com um preço muito mais baixo, o que o torna atraente para muitos consumidores, a falta de controle sanitário e a possível presença de substâncias prejudiciais à saúde tornam o consumo desse produto perigoso.

O “Cafake” e o Crescimento dos Produtos Similares

A proliferação do “cafake” não é um caso isolado. Outros produtos “parecem, mas não são”, e esse fenômeno tem se intensificado no Brasil, especialmente durante períodos de alta da inflação.

O aumento dos custos de itens essenciais leva muitos consumidores a optar por substitutos mais baratos, e a indústria alimentícia, por sua vez, oferece alternativas que podem ser de qualidade inferior, mas com um preço mais acessível.

Entre os exemplos mais comuns desses produtos estão:

  • Bebidas lácteas: Alternativas mais baratas para o iogurte, mas que não possuem o mesmo valor nutricional.
  • Óleo composto: Mistura de azeite com outros óleos vegetais, frequentemente vendida como azeite.
  • Creme culinário: Apresentado como uma alternativa ao creme de leite, mas com substâncias de qualidade inferior.

Essa tendência tem gerado discussões, já que, em muitos casos, esses produtos não são devidamente rotulados, levando os consumidores a confundir o substituto com o item original. A falta de transparência nas embalagens torna o consumidor vulnerável, e a falsa percepção de qualidade pode trazer sérios riscos à saúde.

Produtos “Parece, Mas Não São”: O Impacto na Economia Brasileira

Vários grãos de café torrado
Imagem: Mark Daynes/Unsplash

O fenômeno dos produtos similares não é algo novo, mas sua presença tem sido mais notada em momentos de crise econômica. Quando o poder de compra diminui e as famílias precisam adaptar seus hábitos de consumo, a busca por alternativas mais baratas se intensifica.

No entanto, esses produtos frequentemente são de qualidade inferior, e seus efeitos a longo prazo podem ser prejudiciais à saúde.

A substituição de itens como café, leite e até carnes por produtos mais baratos e de qualidade inferior é um reflexo da pressão econômica, especialmente para as famílias de baixa renda.

Segundo Luciana Medeiros, especialista em varejo da PwC, a mudança de hábitos é comum: “Quando o orçamento aperta, as pessoas começam a buscar alternativas mais baratas, mesmo que isso signifique trocar um produto de qualidade por outro inferior”, explica.

O Problema da Rotulagem e os Riscos à Saúde

A principal preocupação com produtos como o “cafake” e outros similares é a falta de transparência nos rótulos. Muitas vezes, as embalagens podem ser visualmente semelhantes às dos produtos originais, o que dificulta a identificação do consumidor.

Isso ocorre especialmente em alimentos que são rotulados como “tipo alguma coisa” (como “linguiça tipo calabresa” ou “leite condensado tipo”). Esses produtos podem conter ingredientes menos nutritivos e, em alguns casos, até substâncias artificiais.

Mariana Ribeiro, nutricionista do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), alerta para os perigos dessa falta de clareza: “O problema maior é quando a rotulagem é confusa e o consumidor não sabe exatamente o que está comprando. É fundamental que as indústrias se responsabilizem por comunicar corretamente o que está sendo oferecido”, afirma.

Produtos como o “cafake” não são regulamentados, e a Abic denuncia que as embalagens desses produtos apresentam resoluções revogadas pela Anvisa, o que significa que eles não passaram pelos testes necessários para garantir sua segurança para consumo.

O Que Fazer para Evitar o “Cafake” e Outros Produtos Similares?

Café
Imagem: Marcello Casal Jr / Agência Brasil

Para proteger sua saúde e evitar ser enganado por produtos similares, alguns cuidados podem ser tomados:

1. Verifique sempre o rótulo: Leia atentamente os ingredientes e as informações na embalagem. Desconfie de produtos com ingredientes que você não reconhece ou de marcas desconhecidas.

2. Desconfie de preços muito baixos: Quando um produto é muito mais barato que a média, isso pode ser um sinal de alerta. O café, por exemplo, tem um preço médio de cerca de R$30 por meio quilo. Se você encontrar um “cafake” por R$13,99, é melhor questionar sua qualidade e origem.

3. Pesquise antes de comprar: Caso tenha dúvidas sobre um produto, busque informações online ou pergunte diretamente à marca ou ao vendedor sobre a procedência do item.

4. Fique atento a alegações publicitárias: Produtos que fazem promessas de qualidade superior, mas não cumprem as normas da Anvisa, podem ser perigosos. Fique atento a promessas excessivas de benefícios.

Considerações Finais

O “Cafake” é apenas um dos muitos exemplos de produtos “parecem, mas não são” que têm surgido no mercado brasileiro em tempos de crise econômica. Embora possam ser mais baratos, esses produtos não têm a mesma qualidade e segurança dos originais, e seu consumo pode representar riscos à saúde.

A chave para evitar esses enganos está em uma boa educação do consumidor, além da vigilância constante da Anvisa e das autoridades competentes para garantir que apenas produtos seguros cheguem às prateleiras dos supermercados.

No fim das contas, é fundamental que os consumidores saibam o que estão comprando e consumindo, garantindo que a busca por alternativas econômicas não comprometa sua saúde.

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