
O novo Crédito do Trabalhador, modalidade de empréstimo consignado para celetistas, entrou em vigor no dia 21 de março, gerando debates sobre suas vantagens e riscos. Voltado para trabalhadores com carteira assinada, o programa permite o uso de até 10% do FGTS e 100% da multa rescisória como garantia, além de aplicar juros mais baixos que os praticados no mercado tradicional.
Apesar da promessa de facilidade de acesso ao crédito com taxas reduzidas, especialistas e influenciadores financeiros alertam: é preciso cautela. Dependendo da forma como o crédito é utilizado, ele pode representar uma solução financeira inteligente ou um caminho perigoso rumo ao superendividamento.
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Como funciona o consignado CLT

Características principais
O consignado CLT é uma linha de crédito em que as parcelas são descontadas diretamente da folha de pagamento. O trabalhador pode utilizar parte do FGTS como garantia, o que aumenta a segurança para o banco e permite taxas de juros mais acessíveis — variando atualmente entre 1,46% e 3,17% ao mês, segundo informações do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal.
Pontos principais do modelo:
- Destinado a trabalhadores com carteira assinada (regime CLT);
- Parcelas com desconto direto no salário;
- Uso de até 10% do saldo do FGTS e 100% da multa rescisória como garantia;
- Não é possível pausar ou adiar os pagamentos;
- Caso o trabalhador seja demitido, o valor restante pode ser abatido das verbas rescisórias, respeitando o limite legal.
Vantagens do consignado CLT
Juros mais baixos
O principal atrativo dessa modalidade é a taxa de juros, muito inferior à do crédito pessoal comum ou do rotativo do cartão de crédito, que chega a ultrapassar 15% ao mês. Com garantias reais (FGTS e salário), os bancos oferecem taxas mais competitivas, tornando o crédito mais acessível.
Possibilidade de quitar dívidas mais caras
O consignado CLT pode ser uma alternativa estratégica para refinanciamento, como explica o professor de finanças Rodrigo Moliterno, da FGV:
“Se o trabalhador usa o novo consignado para quitar dívidas com juros elevados, como cheque especial ou cartão de crédito, ele está tomando uma boa decisão financeira. Mas é necessário planejamento.”
Pode ser usado para investimento pessoal
Há também quem utilize o crédito de forma consciente, para qualificação profissional, compra de itens essenciais ou melhoria da qualidade de vida. Com juros baixos, o custo do financiamento pode ser justificável nesses contextos.
Riscos envolvidos no uso do consignado CLT

Comprometimento da renda
Mesmo com juros reduzidos, o crédito consignado pode comprometer parte considerável do salário. A legislação permite uma margem consignável de até 40% da renda líquida, somando todas as dívidas já contratadas com desconto em folha.
Segundo estudo do FGVcemif, o consignado é um dos grandes vilões do superendividamento no Brasil, especialmente quando contratado em prazos longos.
Risco em caso de demissão
O uso da multa rescisória como garantia traz segurança ao banco, mas aumenta o risco para o trabalhador. Se demitido, parte das verbas rescisórias será usada para quitar a dívida, o que pode deixá-lo sem recursos em um momento vulnerável.
“Você pode sair da empresa com zero reais, mesmo tendo direito a multa, por conta do crédito”, alertou Nath Finanças, influenciadora digital especializada em educação financeira.
Pressão de instituições financeiras
Com a criação do programa, há um risco crescente de assédio financeiro por parte de bancos e correspondentes. A facilidade no acesso e o apelo das baixas taxas podem levar o trabalhador a contratar crédito sem necessidade real, apenas pela “oportunidade”.
O que dizem os influenciadores financeiros
Gil do Vigor e Nath Finanças criticam modelo
Dois dos maiores nomes da internet quando o assunto é finanças pessoais, Gil do Vigor e Nath Finanças expressaram preocupações em suas redes sociais sobre o novo modelo de consignado.
Gil do Vigor declarou que, embora a proposta pareça positiva, usar a multa rescisória como garantia pode ser prejudicial:
“Se você for demitido, perde sua única segurança em um momento de crise. Não dá pra brincar com isso.”
Nath Finanças, por sua vez, reforçou que o crédito deve ser usado com muita cautela, especialmente por pessoas com pouca educação financeira:
“É uma armadilha para quem não tem planejamento. O problema não é o crédito, mas como ele será oferecido e utilizado.”
Como usar o consignado com segurança
Planejamento é essencial
Antes de contratar o Crédito do Trabalhador, o ideal é fazer um levantamento financeiro:
- Qual é o seu orçamento mensal?
- Quanto da sua renda já está comprometida com dívidas?
- O empréstimo é realmente necessário?
- Você poderá manter o pagamento se houver mudança de emprego?
Quando pode ser vantajoso?
- Quitar dívidas com juros altos;
- Investir em cursos ou qualificação profissional;
- Financiar compras planejadas e essenciais;
- Substituir outros consignados com juros mais altos.
Quando deve ser evitado?
- Para compras por impulso;
- Para financiar estilo de vida acima da renda;
- Quando já há alto comprometimento da folha de pagamento;
- Se não houver planejamento de quitação da dívida.
O que observar antes de contratar

Verifique:
- Taxa de juros efetiva mensal e anual (CET);
- Valor total que será pago ao final do contrato;
- Número de parcelas;
- Valor da parcela em relação à sua renda;
- Se há outros empréstimos ativos em seu nome;
- Como será feito o desconto do FGTS em caso de demissão.
Considerações finais
O Crédito do Trabalhador, na forma de consignado CLT, representa uma nova alternativa de financiamento para os trabalhadores com carteira assinada, oferecendo taxas de juros reduzidas e maior facilidade de acesso.
No entanto, essa modalidade exige atenção redobrada quanto ao uso das garantias — especialmente o FGTS e a multa rescisória — e pode representar risco real de superendividamento, caso não seja usada com consciência.
Como todo crédito, o consignado CLT não é bom nem ruim por si só. Tudo depende do planejamento financeiro, da finalidade do empréstimo e da capacidade de pagamento do trabalhador. Com responsabilidade, pode ser uma ferramenta útil. Sem controle, pode se transformar em uma cilada financeira.