Novas regras de Trump: celulares não pagam taxas, mas atenção aos detalhes

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Às vésperas de impor tarifas de 145% sobre produtos chineses, o ex-presidente dos Estados Unidos e atual candidato à reeleição, Donald Trump, assinou uma ordem executiva que isenta celulares, notebooks e semicondutores da nova taxação.

A medida, anunciada na última sexta-feira (11), surpreendeu o mercado e abriu espaço para uma reconfiguração das relações comerciais entre os EUA e os países afetados pela medida, em especial a China.

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Imagem: Joseph Sohm / shutterstock

Isenção de última hora

A decisão foi publicada no portal oficial da US Customs and Border Protection, órgão que regula o comércio internacional no país. A isenção incluiu diversos eletrônicos de alto valor agregado, como smartphones e notebooks, além de chips semicondutores — considerados estratégicos para a indústria de tecnologia, inteligência artificial e defesa.

A exceção surge em um momento de forte pressão interna de empresas norte-americanas e receio de escassez de insumos essenciais, sobretudo no segmento de tecnologia.

O que são os semicondutores e por que são tão importantes?

Os semicondutores, ou chips, são pequenos processadores responsáveis por permitir o funcionamento de celulares, computadores, carros, aviões e, cada vez mais, sistemas baseados em inteligência artificial. São considerados o “novo petróleo” da era digital.

Sua cadeia de produção é global: inclui extração de minerais raros no Brasil e Congo, design de circuitos nos Estados Unidos e Europa, e fabricação de alta precisão em países asiáticos como Taiwan, Japão e Coreia do Sul.

Por que Trump isentou celulares e chips das tarifas?

Apesar do tom duro adotado por Trump, a decisão de isentar eletrônicos essenciais parece ter sido estratégica. No domingo (13), ele afirmou que a medida não se trata de uma exceção real, mas sim de uma realocação dos produtos em outra categoria tarifária, e que novas taxas específicas para o setor de semicondutores estão em estudo.

Pressão das big techs

Especialistas ouvidos pelo setor avaliam que empresas como Apple, Nvidia e Intel teriam pressionado diretamente a Casa Branca para evitar colapsos na cadeia de suprimentos. A importação de componentes essenciais sofreria um impacto imediato com a taxação.

A Apple, por exemplo, aumentou suas importações da China em mais de 10% no primeiro trimestre de 2025, antecipando a imposição tarifária.

Qual o impacto para as empresas norte-americanas?

Donald Trump
Imagem: Evan El-Amin / Shutterstock.com

Segundo Rodrigo Simões, professor de economia da Universidade Anhembi Morumbi, as tarifas acabam penalizando as próprias empresas dos EUA, já que muitas delas transferiram suas linhas de produção para países asiáticos nas últimas décadas.

Reindustrialização dos EUA

Trump usa o argumento da reindustrialização nacional como base para sua política tarifária. A ideia é forçar as empresas a produzirem dentro do território norte-americano, gerando empregos e reduzindo dependência externa.

A Nvidia, por exemplo, anunciou que investirá até US$ 500 bilhões em infraestrutura de IA nos EUA, incluindo fábricas no Arizona e no Texas. Já a Apple promete investimentos bilionários nos próximos quatro anos, incluindo uma nova planta de montagem no Texas.

O que diz a China?

A resposta chinesa foi dura. Em comunicado, o Ministério do Comércio da China classificou a medida como “um pequeno passo irrelevante” e exigiu a revogação completa das tarifas.

A China é hoje a maior fornecedora mundial de eletrônicos e semicondutores. Com as tarifas de Trump, mais de 90% dos produtos chineses no segmento seriam taxados em até 145%, tornando-se praticamente inviáveis no mercado norte-americano.

O que dizem os estrategistas de Trump?

Peter Navarro: “É tudo parte do plano”

Peter Navarro, arquiteto da política comercial de Trump durante seu mandato, declarou que nada saiu do script. Segundo ele, a retirada temporária das tarifas sobre eletrônicos faz parte de uma estratégia para pressionar países a negociarem novos acordos bilaterais com os EUA.

Jamieson Greer: 90 dias para negociar

Jamieson Greer, representante comercial dos EUA, reforçou que o objetivo da equipe é fechar acordos significativos antes do prazo de 90 dias — tempo que antecede a imposição efetiva das tarifas em outros setores.

Como o mercado reagiu?

Wall Street e tecnologia respiram aliviadas

A decisão de Trump evitou um colapso no setor de tecnologia, pelo menos momentaneamente. Ações de empresas como Apple, Nvidia e Intel subiram mais de 2% na manhã de segunda-feira, após o anúncio da isenção.

Importadores antecipam estoques

Dados da consultoria IDC revelam que a Apple importou 5,3 milhões de iPhones adicionais da China nos primeiros três meses de 2025, temendo a imposição de tarifas. A movimentação levou a um crescimento de 10% nos embarques.

Quais são os próximos passos?

Tarifas setoriais para chips

O secretário do Comércio, Howard Lutnick, afirmou que os produtos eletrônicos isentos serão redirecionados para as tarifas específicas de semicondutores em breve. Segundo ele, “precisamos que essas coisas sejam feitas na América”.

Essa medida pode impactar diretamente fábricas asiáticas que produzem para marcas dos EUA, como Foxconn (China), TSMC (Taiwan) e Wistron (Vietnã).

Possível guerra comercial 2.0

Especialistas alertam que o movimento pode desencadear uma nova escalada na guerra comercial entre China e EUA, semelhante à que ocorreu entre 2018 e 2020, com prejuízos bilionários para os dois lados.

A produção ainda está longe de voltar aos EUA

Apple
Imagem: kovop / shutterstock.com

Apesar das promessas de investimentos, apenas 5% da produção da Apple é feita nos EUA, segundo relatório de fornecedores de 2023. A maioria da produção continua concentrada na Ásia, devido à mão de obra barata, incentivos fiscais e infraestrutura especializada.

Realocação parcial, mas não total

Stefânia Ladeira, gerente de produtos da Saygo Comex, explica que realocar fábricas para países com menor taxação é possível, mas deslocar toda a produção para os EUA seria financeiramente inviável a curto prazo.

Imagem: Evan El-Amin/shutterstock.com

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