Bahia conta com mais beneficiários do Bolsa Família que trabalhadores com carteira assinada

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A Bahia, terceiro estado mais populoso do Brasil, enfrenta uma realidade preocupante: o número de beneficiários do Bolsa Família supera o de trabalhadores formais com carteira assinada. De acordo com dados recentes, o estado conta com 2,48 milhões de pessoas recebendo o benefício social, enquanto o número de trabalhadores formais chega a 2,14 milhões.

Esse cenário evidencia a vulnerabilidade social e econômica que persiste na região, destacando desafios relacionados ao mercado de trabalho, previdência social e desigualdade estrutural.

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Imagem: Freepik/ Edição: Seu Crédito Digital

O cenário social e econômico da Bahia

De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e a Secretaria de Avaliação, Gestão da Informação e Cadastro Único (Sagicad), a Bahia ocupa a terceira posição no Brasil com maior discrepância entre beneficiários do Bolsa Família e trabalhadores formais.

Comparação nacional

  • Maranhão: Diferença de 564.869 beneficiários a mais que trabalhadores.
  • Pará: Diferença de 363.648.
  • Bahia: Diferença de 340 mil beneficiários a mais.

Dados econômicos e sociais

  • Bolsa Família: O benefício social tem valor mínimo de R$ 600 por família.
  • Salário mínimo: O piso salarial para trabalhadores formais é de R$ 1.412 em 2025.
  • Taxa de desocupação: A Bahia registra a segunda maior taxa do país, com 9,7%, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) Trimestral do IBGE.

Esses números demonstram que a dependência do benefício social não é apenas uma questão individual, mas uma consequência estrutural de desafios econômicos persistentes.

Impactos no mercado de trabalho e na economia

Vulnerabilidade econômica

Para o economista Edval Landulfo, vice-presidente do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-BA), a disparidade entre beneficiários e trabalhadores formais enfraquece o poder de compra da população.

“O poder de compra fica enfraquecido. Muitos enfrentam alimentação precária, dificuldades com transporte e outras necessidades básicas, o que não favorece a economia local”, afirma Landulfo.

Além disso, a ausência de um mercado de trabalho robusto impede a emancipação econômica das famílias, perpetuando a dependência do Bolsa Família.

Reflexos na previdência social

A assistente social Micaela Vergne destaca que a falta de formalização no mercado de trabalho impacta diretamente as contribuições previdenciárias.

  • Redução de arrecadação: Com menos trabalhadores formais, há menos contribuições para a Previdência.
  • Falta de direitos básicos: Sem carteira assinada, muitos não têm acesso a direitos como aposentadorias, auxílios-doença e pensões.

Nesse cenário, o sistema de assistência social se torna a única alternativa para garantir a subsistência de milhões de baianos.

O Bolsa Família: impacto e limitações

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Imagem: Freepik/ Edição: Seu Crédito Digital

Importância do programa social

Criado em 2003, o Bolsa Família é uma política pública reconhecida por sua capacidade de combater a pobreza e reduzir desigualdades. Estudos, como o The Long-Run Effects of Conditional Cash Transfers da Universidad Nacional de la Plata, apontam resultados positivos, como:

  • Aumento de escolaridade: Beneficiários apresentaram aumento de 0,8 ano de escolaridade.
  • Melhoria de renda futura: Rendimento médio do trabalho cresceu em US$ 250.

Esses dados confirmam o impacto positivo do programa na vida de milhões de brasileiros.

Limitações do Bolsa Família

Apesar dos benefícios, especialistas concordam que o programa não resolve os problemas estruturais do mercado de trabalho.

“A dependência do Bolsa Família reflete a precarização do trabalho e a desindustrialização, especialmente em estados do Norte e Nordeste”, afirma Umeru Bahia, doutor em Ciências Sociais pela UFBA.

Políticas públicas para reduzir a desigualdade

A importância da formalização

Promover a formalização do trabalho é uma das principais estratégias para reduzir a dependência de benefícios sociais.

Soluções propostas

  1. Incentivos à formalização: Reduzir encargos trabalhistas para pequenos empresários pode estimular a criação de empregos formais.
  2. Inclusão produtiva: Investir em capacitação profissional e educação técnica para ampliar a empregabilidade.
  3. Fomento ao empreendedorismo: Oferecer linhas de crédito e suporte técnico para micro e pequenos negócios.

Educação e capacitação como ferramentas de emancipação

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Imagem: Wikipedia / Fotos Gov/Ba

O acesso à educação de qualidade é apontado como um fator-chave para romper o ciclo de pobreza. Políticas que integrem educação e mercado de trabalho são fundamentais para preparar jovens para ocupações mais qualificadas.

  • Educação técnica: Parcerias entre instituições de ensino e empresas podem preparar mão de obra especializada.
  • Estímulo ao ensino superior: Programas de bolsas e financiamento estudantil são essenciais para ampliar o acesso à universidade.

Considerações finais

O fato de a Bahia ter mais beneficiários do Bolsa Família do que trabalhadores com carteira assinada é um reflexo direto de desigualdades estruturais e econômicas. Embora o programa social seja essencial para garantir a sobrevivência de milhões, ele não substitui a necessidade de políticas públicas voltadas para o fortalecimento do mercado de trabalho.

Investir em educação, capacitação profissional e formalização do trabalho são passos essenciais para reduzir a dependência do Bolsa Família e promover a emancipação econômica da população baiana. O desafio é grande, mas ações integradas podem transformar a realidade do estado e gerar um futuro mais equilibrado e próspero.

Imagem: Freepik/ Edição: Seu Crédito Digital

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