Moradores de Brumadinho sofrem com falta de água e acusam fábrica da Coca-Cola em Itabirito pelo problema

Com a onda de calor, moradores das comunidades de Campinho e Suzana, na Serra da Moeda, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, estão sofrendo ainda mais com a falta de água. O problema se arrasta há oito anos, desde que a fábrica da Coca-Cola Femsa se instalou na cidade vizinha de Itabirito. Os moradores denunciam que a operação da empresa causou a escassez hídrica na localidade.

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Com as altas temperaturas, os moradores precisaram regrar a água que recebem de caminhão pipa, diariamente, desde 2016, segundo Cláudio Antônio Bragança, presidente da Associação de Moradores de Campinho. “Todo dia tem morador que não tem água nem para tomar banho. A gente precisa comprar galão de água para beber. Tem famílias com crianças sofrendo com isso”, relata. De acordo com as denúncias, o problema também afeta a comunidade de Suzana.

O dilema dos dois povoados foi tema de uma audiência Pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nesta terça-feira (10). Em entrevista ao BHAZ, Bragança explicou que o abastecimento das quase 300 casas da comunidade Campinho é feito com poços artesianos, mas a vazão teria ficado prejudicada após a chegada da produtora de bebidas.

“A Coca-Cola passou a enviar um caminhão pipa com 40 mil litros de água para distribuir para todos os moradores. Essa quantidade não nos atende”, declarou. “Está ficando desconfortável viver na comunidade. Está gerando um atrito entre vizinhos por falta de água”, completou.

Causa da falta de água ainda será investigada

Isadora Pinho Tavares de Filippo, gerente de regulação do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), revelou durante a audiência que o órgão recebeu relatórios que indicam problemas no fluxo de água da região, mas a causa ainda não foi identificada.

“Após início [da operação da Coca-Cola], foram entregues quatro estudos que mostram indícios de impacto da captação em relação a algumas nascentes, inclusive localizadas nessas localidades. Mas, às vezes, isso pode estar ligado a questões multifatoriais, pois estamos falando de uma serra com vários empreendimentos localizados nela”, comentou.

“Por isso, o Igam pediu adensamento da rede para verificar se a causa está nesse empreendimento. Com a telemetria que vai ser instalada, vamos verificar se há impacto direto do empreendimento com a redução da evasão das águas”, completou.

Isadora disse que os primeiros estudos recebidos pelo Igam datam de 2019, mas não soube precisar em qual ano o problema foi registrado pela primeira vez.

O geólogo Ronald Fleischer, membro da ONG Abrece a Serra da Moeda, alertou para a falta de análises nas nascentes antes da instalação da fábrica. “Não existe dados para avaliar de antes do bombeamento e constatar se houve ou não rebaixamento [do lençol freático]. Se não tem referência inicial, não se sabe qual o impacto depois”, comentou sobre aparelhos de monitoramento instalados depois entre 2015 e 2016.

Histórico

A captação de água para atender a fábrica, assim como para os moradores de Itabirito, é feita pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) da cidade. Dessa forma, a autarquia municipal é a responsável pela captação águas subterrâneas do aquífero Cauê, segundo o Igam.

A unidade da produtora de bebidas foi instalada em região próxima à Serra de Moeda, que abriga nascentes e riquezas de fauna e flora.

No dia 26 de junho deste ano, o Saae Itabirito, a Prefeitura de Itabirito e a Coca-Cola Femsa Brasil assinaram um acordo com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) para garantir segurança hídrica para as comunidades de Campinho e Suzana e minimizar os impactos do bombeamento dos poços subterrâneos de Itabirito nas nascentes das duas comunidades.

O documento determinou que as empresas devem realizar estudos e projetos para mitigar os impactos. A fabricante de bebidas também deve destinar R$ 800 mil para ações de reparação na região e fazer um poço na comunidade capaz de abastecer o reservatório.

Durante a audiência na ALMG, os moradores do Campinho denunciaram que a obra está parada e que não participaram da negociação do acordo.

O MPMG não enviou representantes à audiência. Convidados, os promotores Ludmila Costa Reis e Lucas Pardini Gonçalves enviaram à ALMG uma carta afirmando que “o tema foi amplamente discutido com a comunidade, órgãos públicos e com a empresa”.

A reportagem procurou a Coca-Cola Femsa Brasil e a Saae Itabirito e aguarda retorno.

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