Um registro de São Paulo progressista

Jacob Pinheiro Goldberg, doutor em Psicologia e escritor.Divulgação

Não tenho intenção de produzir uma crítica literária, mas o alinhamento da psicologia imagética através da leitura, tal como sugerido por Proust na subjetividade do livro de Teresa Marco Nigri que, afetivamente endereçado aos netos do casal, faz uma narrativa delicada de Elias Victor Nigri, o engenheiro que emprestou “glamour” e sofisticação ao urbanismo paulista.

Ninguém mais e melhor do que autora e personagem, Teresa e Elias, numa afinidade eletiva privilegiada, autêntica serendipty souberam reunir arte e ciência, com a intenção de formatar uma construção de pedra, cimento, ética e estética, para dar um toque de leveza e inteligência a operosidade singular que São Paulo oferece à engenharia internacional.

Sabemos todos que nossa cidade é a megalópoles da prospectiva futura dum Brasil que deve enfrentar os problemas da explosão populacional e a demanda individual da singularidade.

“Elias Victor Nigri, 50 anos em construção”, Teresa Marco Nigri passa a integrar, obrigatoriamente, o acervo cultural do Brasil que enxerga na elegância, não a ostentação, mas a conquista civilizatória da virtude do trabalho.

A obra de Teresa Marco Nigri transcende o simples registro biográfico e se insere como um documento sensível de uma época, de um ethos que moldou a identidade paulistana. Ao revisitar a trajetória de Elias Victor Nigri, a autora resgata, com rara precisão, o espírito visionário que soube harmonizar progresso e humanidade, técnica e sensibilidade. Trata-se de um testemunho que ilumina não apenas o engenheiro e sua obra, mas também a dinâmica de uma cidade que se reinventa sem perder de vista sua vocação para o requinte e a inovação.

Nesse sentido, a São Paulo de Elias Nigri não é apenas a cidade do concreto e do crescimento desordenado, mas um organismo vivo, em que cada edificação carrega um propósito, um conceito de beleza que não se restringe ao estético, mas se manifesta na funcionalidade, na integração com o meio urbano e na atenção ao humano. A narrativa de Teresa nos conduz por essa tessitura sutil, na qual engenharia e cultura dialogam, reafirmando que a verdadeira modernidade não pode prescindir da inteligência e do bom gosto.

Ao eternizar essa memória, o livro reforça o papel da arquitetura e da engenharia como expressões de uma sociedade que se constrói sobre alicerces sólidos, não apenas materiais, mas éticos e históricos. A São Paulo progressista que emerge dessas páginas não é apenas um retrato nostálgico de um tempo que se foi, mas um convite à reflexão sobre o que queremos para o futuro: uma cidade que continue a crescer sem abdicar de sua sofisticação, de sua capacidade de acolher e de sua vocação para a excelência.

Jacob Pinheiro Goldberg, doutor em Psicologia e escritor.

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