Parteira do AC é escolhida para projeto musical e grava forró com cantor Geraldo Azevedo: ‘Viram meu potencial’


Parteira, cantora e compositora, Zenaide é de Tarauacá e foi escolhida entre mais de mil inscrições de 25 estados do Brasil e de mais de 300 cidades diferentes. Música ‘No balanço dela’, com o cantor nordestino, será lançada no segundo semestre de 2025. A acreana, mestra Zenaide, grava forró com Geraldo Azevedo em projeto de resgate de músicas regionais
Rafael Batista
A mestra Zenaide Parteira, de Tarauacá, interior do Acre, foi uma das 10 pessoas escolhidas, de todas as cinco regiões do país, para fazer parte de um projeto de música regional brasileira. Com mais de mil inscrições de 25 estados do Brasil e mais de 300 cidades diferentes, a acreana gravou um forró com o cantor Geraldo Azevedo, que será lançado no segundo semestre deste ano.
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A parteira foi ao Rio de Janeiro para gravar a canção com um dos maiores artistas da música popular brasileira (MPB), com grande contribuição para a música nordestina, incluindo o forró.
“Fiquei muito feliz, me senti muito privilegiada por ter ido naquele lugar e me encontrar com um cantor tão espetacular, um cantor tão maravilhoso. Eles viram meu potencial. Ainda estou feliz com tudo”, destacou.
A cantora e compositora assegura que Geraldo Azevedo é uma pessoa exemplar, e toda a equipe a recebeu de uma forma muito carinhosa para a gravação da música. Dona Zenaide, como também é chamada, agradeceu a oportunidade e disse que estava muito feliz durante a gravação.
“Foi um orgulho muito grande. O Geraldo foi muito humilde, gostei demais do jeito dele, eu dei um colar de presente pra ele e ele pôs no pescoço na mesma hora. Fiquei muito feliz que eles me escolheram”, disse ela.
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Arquivo pessoal
Música com essência acreana
O produtor artístico, Rafael Batista, que faz a tutoria da mestra e que a inscreveu para o projeto, explicou que a música gravada foi escolhida por uma questão estratégica e cultural.
“A gente queria apresentar algo que representasse bastante o Acre, a Amazônia, mas que também trouxesse essa essência do forró, que é também muito tradicional aqui do estado”, relembrou.
Ele conta que em 2023 foi feito um trabalho da Zenaide junto com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), com o objetivo de proteger as matrizes tradicionais do forró do Acre.
Música regional gravada por parteira e compositora acreana teve produção de Maria Gadú, Pretinho da Serrinha e Mestrinho.
Arquivo pessoal
“A música ‘No balanço dela’ representa bastante tudo isso. É uma música que a gente percebeu que combinaria perfeitamente com as vozes da Mestra Zenaide e com a do Geraldo Azevedo. Desde o início, nosso objetivo foi criar uma obra que tivesse a alma da Amazônia, e que conseguisse alcançar um grande público”, afirmou o produtor artístico.
As produções das músicas foram feitas por Pretinho da Serrinha, Mestrinho e Maria Gadú. A gravação do forró, definido por ela como envolvente, foi uma produção musical de Mestrinho no Rio de Janeiro (RJ).
Alcance do trabalho da parteira
Rafael Batista explicou que foi através do trabalho feito pelo Baquemirim que a voz de Zenaide passou a alcançar mais pessoas, pois antes ela cantava apenas em casa, na igreja e fazia os partos.
“Hoje todo seu cotidiano alcançou um novo patamar, desde 2017 que é quando ela passou a fazer filmagens, gravações de músicas e a trabalhar o desenvolvimento de sua carreira” contou ele.
O Baquemirim é uma organização que se dedica a proteger o patrimônio cultural imaterial da Amazônia Sul Ocidental. O diretor musical da parteira Zenaide, Alexandre Anselmo, é o responsável pela realização de uma grande pesquisa no Acre acerca da música dos povos indígenas e seringueiros.
Por esse motivo, o Baquemirim esteve presente também nas gravações. No estúdio foram levados vários instrumentos musicais tradicionais do Acre, como o Pandeirão de Apuí, Balde de Seringa e colheres, que foram gravados ampliando a representatividade do forró acreano junto do forró nacional.
Seleção Nacional
A seleção dos 10 artistas brasileiros foi feita por uma comissão de curadoria independente, composta por Roberta Martinelli, apresentadora, radialista e curadora musical, pela gerente de A&R da Warner Music Brasil, Ana Paula Paulino, e por Aíla, que é cantora, compositora, diretora artística e uma das principais artistas da música pop contemporânea da Amazônia.
Além de Zenaide, artistas do Pará, Bahia, Rio Grande do Sul, Amazonas, São Paulo, Pernambuco, Mato Grosso do Sul e Pará foram escolhidos para cantar músicas de diversos gêneros. São eles:
Amanda Pacífico, Belém (PA), canta carimbó com Dona Onete e Suraras do Tapajós;
Coral, de Jequié (BA), cantaram axé com Daniela Mercury;
Juliano Guerra, de Canguçu (RS), canta milonga com Filipe Catto;
Ketlen Nascimento, de Caruari (AM), canta Boi da Amazônia com os bois Caprichoso e Garantido;
Maíra da Rosa, de Vargem Grande Paulista (SP), canta samba com Péricles;
Meire D’Origem, de São José dos Campos (SP), canta RAP de São Paulo com Rappin´Hood;
Mestre Anderson Miguel, de Nazaré da Mata (PE), canta maracatu com Lenine;
P0CKET, de Cuiabá (MS), canta funk carioca com Valesca Popozuda;
Walder Wolf, de Cametá (PA), canta tecnobrega do Pará com Gaby Amarantos;
O projeto é uma iniciativa do Ministério da Cultura e da Elo, empresa 100% brasileira de tecnologia de pagamentos, e realizado pela Cingulado, especialista em projetos culturais e sociais. A ação conta com recursos incentivados pela Lei Federal de Incentivo à Cultura.
Zenaide é parteira e iniciou cantando para as crianças que dava à luz
Arquivo pessoal
Trajetória
Descendente de indígena, do povo Ashaninka, nascida no seringal Bela Vista, em Tarauacá, aprendeu a partejar com a avó e a mãe. Ela fez seu primeiro parto aos 10 anos.
Em 2021, em uma entrevista para o g1, a parteira estava com mais de 50 anos e já tinha feito 306 partos – 306 crianças que nasceram embaladas pelas tradicionais cantigas de Zenaide. À época, ela participou de um projeto de salvaguarda de ritmos acreanos e, com a ajuda da ONG Baquemirim, gravou algumas dessas canções que embalaram tantos partos no Acre.
Em 2021, ela lançou o álbum “Mulher Vagalume”. Em 2024, lançou uma série de videoclipes gravados no estúdio do Baquemirim, no bairro Irineu Serra em Rio Branco.
Um dos videoclipes é justamente, “No balanço dela” música gravada esse ano com o Geraldo Azevedo, no Estúdio Visom Digital em São Conrado, no Rio de Janeiro.
VÍDEOS: g1
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