Crítica: “Conclave” é um thriller construído de forma primorosa

Nos menores detalhes estão respostas grandiosas ao drama de “Conclave”, filme de Edward Berger que já está em cartaz no Brasil. Ao estilo thriller, acompanha a difícil escolha de um novo papa e suas implicações nos esquemas políticos do Vaticano. Acusações, segredos e esquemas maquiavélicos são amarrados com atuações memoráveis e cenários simbólicos.

Ralph Fiennes, em uma atuação que merece sua indicação a Melhor Ator, é o cardeal encarregado de comandar a eleição de um novo papa. Com a morte do pontífice atual, as tramas para a escolha do próximo representante católico começam rápido. Antes da retirada do corpo, já surgem fofocas e intrigas pelos corredores do Vaticano. Conspirações, intrigas e acusações acontecem sob uma trilha sonora instigante.

Detalhes

Cada olhada tem dramaticidade, cada mínimo movimento traz significado em “Conclave”. Longe de ser um filme cheio de ação, o longa consegue manter o espectador tenso a cada minuto com os esquemas e brigas internas. Não é à toa que a Igreja Católica criticou o filme. Mostrar as tramas políticas por trás de uma escolha dessa magnitude expõe um lado que a Igreja prefere deixar para trás das cortinas. E Berger faz questão de nos mostrar o que está por trás delas.

Cada pintura das paredes do Vaticano, cada anel e cada batina é cercada de simbolismo religioso e dramático. O diretor se aproveita disso para explorar nuances, enquanto seus personagens discutem. A ala conservadora e a ala liberal da Igreja estão em constante embate, mas também há rachas internos – e alguns ali são capazes de qualquer coisa para garantir sua chance ao papado. Isso torna um filme que, a princípio, é sobre um tema simples e lento, em um longa-metragem ágil e intenso.

Acerto

Berger vem de um trabalho muito elogiado, “Nada de Novo no Front”. O remake de um clássico do cinema conseguiu trazer algo novo com a qualidade técnica de Berger por trás das câmeras. Seu desempenho como diretor alcança outro nível com “Conclave”. Longe do estilo de tomada única que o filme anterior explorou, tirando a ação da guerra, há outro movimento no novo trabalho. O diretor explora a dualidade de grandes cenários em ambientes fechados, os salões enormes do Vaticano guardando conversas sussurradas e olhares que podem derrubar um Papa.

O auge da atuação minimalista é Isabella Rosselini. Digna de Oscar, tanto que foi indiciada a Melhor Atriz Coadjuvante, ela entrega em poucos minutos de tela uma personagem amedrontadora, que sabe exatamente até onde ir para mostrar seu poder e influência nos esquemas religiosos. Isabella constrói uma personagem única e marcante.

Todas as atuações do longa beiram o impecável. John Lightgow é um dos destaques, uma performance que define sua carreira. Até Carlos Diehz, um ator com pouca experiência que iniciou a carreira depois dos 50 anos, tem uma entrega cheia de presença. Berger soube aproveitar o melhor de cada ator e colocá-los em um elenco primoroso.

“Conclave” é um trabalho cinematográfico para ser lembrado, estudado e apreciado por muito tempo, merece atenção muito além da temporada de premiações.

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