Don L chega a BH com ‘novas versões’ de clássicos e comenta próximo disco: ‘a todo vapor’

A expectativa pro próximo disco de Don L segue forte, sobretudo em BH, onde o rapper ostenta uma base fiel de fãs e se apresenta nesta sexta-feira (13), a partir das 21h, na Autêntica. “Tô em processo de produção, a todo vapor”, revela o artista ao BHAZ. A afirmação pode até gerar ansiedade sobre o encerramento da trilogia decrescente “Roteiro Pra Aïnouz”, que já possui dos volumes — o três, de 2017, e o dois, de 2021 —, mas o rapper descarta: “Na real, eu tô produzindo o volume dois de ‘Caro Vapor’”. Antes de pensar em novos lançamentos, entretanto, o artista se dedica a revistar clássicos do passado sob novas roupagens.

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“A gente tá fazendo um show novo que tá bem interessante. É um rolê maior, por outras partes da minha carreira. Antes a gente tava bem focado no último disco”, antecipa sobre o encontro do fim de semana. “São novas versões das músicas do ‘Caro Vapor’, do RPA volume três, e algumas participações que eu fiz em outros projetos também. Tá muito quente, estamos tendo uma receptividade bem positiva”. A perspectiva para a apresentação em Minas segue a linha: “Eu gosto muito dos shows por aí, ainda mais agora com a oportunidade de mostrar esse novo projeto. A forma como as pessoas vivem a cultura em BH é foda”, elogia.

A ideia de revistar trabalhos do passado às vésperas de um novo lançamento parece oportuna para o artista, mesmo não sendo inédita. “Pra construir seu futuro, você precisa entender o passado”, diz. E antepassados, claro. Em “Roteiro Pra Aïnouz Volume Dois”, por exemplo, Don L apresenta narrativas divididas entre passados longínquos e presentes comuns. Ambos duramente cruéis. “Em RPA 2 eu pensei em contar a minha história, mas dentro de um contexto coletivo. É algo que tem a ver com o nosso processo de país subdesenvolvido, colonial”. No vaivém temporal do disco, o eu lírico passeia pela antiga Vila Rica, onde hoje é situada a cidade de Ouro Preto, em Minas, e a atual Fortaleza, onde Gabriel cresceu e se tornou Don.

Terceiro mundo

A trilogia “às avessas” intriga parte dos fãs do rapper, mas não tanto quanto o título escolhido. Ele explica que a obra foi pensada para ser mesmo um roteiro de cinema para o cineasta cearense Karim Aïnouz. “Eu me identifico muito com os filmes dele, então achei que seria pertinente. Em termos de narrativa, em termos estéticos, pensei: ‘quem poderia dirigir esse roteiro?’”, conta. A resposta não poderia ser outra. Em maio, Karim estreou no Festival de Cannes com o filme “Motel Destino“, gravado no nordeste brasileiro.

“Eu sou um cara que veio de um lugar geograficamente desfavorecido dentro da cultura nacional. O Ceará é um estado que sempre teve grandes artistas e tem movimentos musicais interessantíssimos, mas que sempre envolvem essa migração, de você ter que sair para o Sudeste”, destaca Don L. A afirmação reforça a homenagem ao cineasta conterrâneo. “Nós temos que fazer por nós mesmos, saca? Não estamos pegando uma estrada pavimentada, a gente tá construindo a nossa estrada”, diz.

(Vitor Cazuza/Divulgação)

Durante a entrevista, sobrou espaço, ainda, para elogiar o trabalho feito pela produtora Filmes de Plástico, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. “Sou muito fã, acho que os caras são muito brabos”, levantou. “A gente já chegou a fazer um roteiro com o André Novais (cineasta da produtora), mas acabou não saindo o vídeo. Pros projetos de RPA 2, que tem um conteúdo mais político, é muito difícil conseguir financiamento. Mas a gente tem essa vontade, mais pra frente deve rolar alguma coisa”.

Neste mês, a Filmes de Plástico divulgou o trailer de seu novo longa–metragem, “O Dia Que Te Conheci“, com participação do rapper e amigo de Don L, FBC.

Aquela fé

Apesar da carga política incontornável, o rapper evita apontar o papel social dos próprios discos. “Acho que isso é um trabalho pras pessoas que estudam a coisa. O que eu posso dizer por mim, no meu sentimento, é que toda obra, principalmente de rap, é política. Se ela quiser não ser política, ela vai tá sendo mais ainda, agindo no sentido de despolitizar, fingir que não tem um papel na história”, aponta. “Até nossos atos da vida pessoal são políticos, né?”.

Assumidamente comunista, Don L critica a cultura materialista da sociedade contemporânea, fortemente presente na música moderna. “Tem esse movimento que tá em ascensão de falar cada vez mais sobre coisas que a maioria da população não tem acesso. Acaba virando a construção de um sonho hipercapitalista”, reflete. “Eu quero ter um carro bom, claro, mas isso não me tira da minha classe. Eu não vou fazer parte do um por cento da população que ganha cinquenta por cento do dinheiro desse país”.

Pra superar o “cenário desanimador”, o rapper recorre ao próprio repertório. “A gente vive num mundo que é aniquilador da fé, né? A gente pensa sempre na vitória como algo individual, mas a derrota é coletiva”, lança.

“Às vezes isso cansa, porque não é nosso sonho de criança. E aí nós vamos perdendo essa camada de sonhos mais singelos, mais lúdicos, humanos. Sem perceber a gente vai projetando uma forma de vida baseada exclusivamente em bens materiais que parece que vai resolver todos os problemas, mas não resolve nada. Então, sim, eu quero aquela fé de volta”, finaliza, em referência a sua música de maior sucesso.

Então se liga!

Don L em BH
Local: Autêntica | R. Álvares Maciel, 312 – Santa Efigênia. BH
Data: 13 de setembro
Horário: a partir de 21h
Ingressos: a partir de R$ 45, no Sympla

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