Dentes desalinhados ou encavalados: como a saúde pública de Brusque atua para prevenir problema nas crianças

Garantir a saúde bucal desde a infância é essencial para o desenvolvimento. Em Brusque, a rede pública de saúde amplia o atendimento nas UBS por meio das Equipes de Saúde da Família (ESF), compostas por médicos, enfermeiros, dentistas, técnicos e agentes comunitários.

Desde o pré-natal, as equipes oferecem atendimento e orientações às gestantes e atuam na puericultura, com as Equipes de Saúde Bucal (ESB) sendo fundamentais nas primeiras etapas do desenvolvimento dos bebês.

Quando necessário, a ESF encaminha os bebês para o atendimento odontopediátrico especializado, garantindo prevenção e tratamento de problemas como a maloclusão, caracterizada por alterações na base óssea, desalinhamento ou relação incorreta entre os dentes dos dois arcos dentários, o que deixa os dentes encavalados ou desalinhados.

Maloclusão

A Associação Brasileira de Ortodontia e Ortopedia Facial (ABOR) aponta que as maloclusões, segundo maior problema de saúde bucal, podem causar dificuldades respiratórias, disfunções temporomandibulares, problemas na fala, mastigação e deglutição, além de dificultar a higiene bucal.

As mais comuns são mordida aberta, cruzada, sobremordida e apinhamento, e a Organização Mundial da Saúde (OMS) as classifica como um problema de saúde pública.

Além de afetar a função, as maloclusões impactam a estética, prejudicando a qualidade de vida, autoestima e o convívio social de crianças e adolescentes.

Por esses fatores, a ABOR e a American Orthodontics Association reforçam a importância do diagnóstico e tratamento desde os primeiros dias de vida para prevenir complicações futuras.

Apesar da relevância do tratamento, em Brusque a procura pela atenção odontológica precoce ainda é baixa, e os profissionais enfrentam dificuldades em conscientizar as famílias sobre a importância dessa abordagem na saúde pública.

Problema que afeta muitas pessoas

Segundo estatísticas atualizadas, cerca de 75% das crianças desenvolvem algum tipo de maloclusão até os 5 anos de idade, geralmente causada por disfunções dos tecidos moles da cavidade oral, resultantes de maus hábitos de higiene bucal.

Em Brusque, o Centro de Especialidades Odontológicas (CEO) atendeu 676 bebês em 2023 e 662 em 2024. Já os atendimentos a crianças de até 3 anos foram 720 em 2023 e 705 em 2024. 

“Ações oportunas na primeira infância são fundamentais para garantir resultados eficazes. O acesso à informação por parte dos pais é essencial para a prevenção e o tratamento precoce”, afirma Jeison Alexandre, cirurgião-dentista e coordenador das equipes de Saúde Bucal da Atenção Primária de Saúde (APS) de Brusque.

Segundo Jeison, que também é especialista em endodontia, o município se destaca por iniciativas pioneiras no atendimento individualizado de recém-nascidos no CEO, dentro da Policlínica.

“Entre os procedimentos realizados, está o tratamento da anquiloglossia (“língua presa”), essencial para o fortalecimento do aleitamento materno e para evitar problemas respiratórios”.

O coordenador destaca que Brusque adota estratégias interdisciplinares para o desenvolvimento infantil, com programas como o Brasil Sorridente, que reforçam a prevenção e assistência odontológica.

Nas UBS, gestantes recebem orientações sobre aleitamento materno para reduzir o uso de chupetas e mamadeiras.

Desde agosto de 2024, os testes em bebês são feitos pela fonoaudióloga no Hospital Azambuja, com encaminhamento imediato ao CEO em caso de alterações. Nos nascimentos no fim de semana, os pais devem procurar a UBS para agendar a consulta.

Importância do tratamento precoce

A especialista em odontopediatria e ortodontia, Rosana Gama Martins, com 30 anos de experiência na saúde pública, destaca que muitas maloclusões começam nos primeiros meses de vida, especialmente devido à alimentação e ao uso de bicos artificiais.

Ela alerta que, sem tratamento precoce, o paciente pode enfrentar longas filas para atendimento especializado, e muitas complicações seriam evitadas com cuidados iniciais.

Rosana, pioneira no teste para detectar anquiloglossia em Santa Catarina, reforça que o sucesso do tratamento depende do envolvimento familiar.

“Se os pais não se comprometerem, os problemas serão mais graves, mas temos profissionais qualificados e o tratamento não exige alta tecnologia”, conclui.

Otávio Timm/O Município

Rosana ainda afirma que a maloclusão tem forte influência genética paterna, afetando de 8% a 10% da população. “Se o pai ou tio teve, o bebê pode ter também”, ressalta.

Outro desafio apontado é a diversidade cultural dos pacientes, já que em algumas culturas a introdução alimentar ocorre já aos dois meses, o que difere das recomendações consideradas padrão.

“Explicar isso às famílias exige sensibilidade e respeito. O acolhimento não envolve apenas a saúde bucal, mas também as características sociais e culturais das famílias”, observa.

A estilista Magali Kreich, moradora de Brusque, deu à luz Augusto na última semana. O bebê nasceu com 40 semanas e foi diagnosticado com anquiloglossia ainda no Hospital Azambuja. Como era fim de semana, a fonoaudióloga orientou a mãe a procurar a UBS do bairro São Luiz.

“Lá, a enfermeira confirmou a perda de peso do Augusto, o que dificultava a amamentação”, conta a mãe.

Após a triagem, o bebê foi encaminhado para atendimento especializado pelo SUS. A consulta com Rosana ocorreu poucos dias depois no CEO.

“Ficamos surpresos ao saber que Brusque oferece odontopediatria pelo SUS. Muitas famílias precisam desse serviço, mas nem sempre sabem que existe. Fomos bem atendidos e surpreendidos pela agilidade”, diz Magali. 

Rosana explica que Augusto passou por reavaliação no consultório, procedimento padrão. “Analisamos a gravidade da anquiloglossia e outras condições que poderiam interferir na alimentação. Ele estava magrinho, um indicativo de que não se alimentava bem”, explica.

A dentista identificou, ainda, o uso de chupeta. “Se o bebê fez cirurgia, a chupeta deve ser eliminada. Além de ser um objeto contaminado, impede a recuperação adequada e interfere na posição da língua”, esclarece.

Ela também alerta para os impactos da sucção artificial, pois essa prática pode dificultar a diferenciação entre o peito da mãe e o bico artificial, prejudicando a amamentação. “Isso afeta a produção de leite e pode levar ao desmame precoce”, afirma.

Apesar das campanhas de conscientização, ela destaca que há resistência, principalmente entre avós, que minimizam os efeitos da chupeta. “Não é apenas questão de estética dental. O uso prolongado afeta a função oral e a respiração”, alerta.

Acompanhamento contínuo

Thaina Gerônimo Alves leva o filho Bryan, de 6 meses, às consultas com a dentista Rosana desde o nascimento. O primeiro encaminhamento ocorreu um dia após o parto, quando uma fonoaudióloga da UBS detectou uma alteração no frênulo lingual, tecido que direciona o crescimento da língua na fase embrionária.

“Viemos à Policlínica e a doutora fez a avaliação. No início, ele mamava bem, então não foi necessário nenhum procedimento. Mas, um mês depois, houve a necessidade de intervenção, e seguimos com o acompanhamento. O Bryan foi atendido rápido e não teve nenhuma reação negativa”, lembra Thaina.

Ela admite que não sabia que o SUS de Brusque oferecia atendimento odontopediátrico e acredita que falta divulgação sobre o serviço, além de maior interesse da população em buscar informações. “Para ajudar outras mães, participo de um grupo de amamentação, onde compartilho orientações que recebo da doutora Rosana”, complementa. 

Otávio Timm/O Município

A médica destaca Thaina como exemplo de acompanhamento da saúde bucal infantil e explica que bebês submetidos à cirurgia são acompanhados até completarem um ano, com retornos estratégicos.

“Este é o terceiro retorno, aos seis meses, fase importante devido à introdução alimentar. Orientamos sobre higiene oral e o uso adequado de copos de transição, evitando mamadeiras e modelos inadequados”, ressalta.

Persistência como essência

Com décadas de experiência e há 10 anos trabalhando ao lado da auxiliar de Saúde Bucal Rosinha Libardo, Rosana reforça a importância da persistência na saúde pública, especialmente no atendimento odontológico.

“Essa é a essência da atenção básica. Acompanhamos os pacientes desde os primeiros dias de vida e seguimos com eles. Persistimos porque sabemos que o acompanhamento precoce evita problemas futuros e facilita o trabalho de outros profissionais. Seguimos firmes na luta”, conclui.

“Com a união das Equipes de Atenção Básica e Especializada, aliada ao apoio da nossa gestão, sob a administração da secretária de Saúde, Thayse Rosa, e da diretora da Atenção Básica, Cristiane Schmitz, seremos cada vez mais atuantes e fortes. Nossa maior satisfação é colher os frutos do nosso trabalho desde a prevenção, garantindo que, no futuro, tenhamos adultos saudáveis e com um belo sorriso”, complementa o coordenador Jeison Alexandre.


Assista agora mesmo!

Icônica danceteria 1020 traz histórias de diversão e fuga de namorados em Brusque:
YouTube Video

Siga-nos no Instagram
Entre no canal do Telegram
Siga-nos no Google Notícias

O post Dentes desalinhados ou encavalados: como a saúde pública de Brusque atua para prevenir problema nas crianças apareceu primeiro em O Município.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.