‘Cafake’ já está circulando no mercado brasileiro

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Nos últimos dias, um novo produto tem ganhado notoriedade nas redes sociais: o “cafake”. Com embalagens que imitam as do café tradicional, esse produto, na verdade, não é café. Trata-se de um pó para preparo de bebida à base de café, misturado com impurezas que, segundo a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), não possuem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O produto, que tem sido comercializado por valores significativamente mais baixos do que o café convencional, é um exemplo claro de uma tendência que se espalha no mercado brasileiro, especialmente durante períodos de alta inflação. Neste artigo, exploraremos o impacto dessa proliferação de produtos semelhantes e suas implicações para a saúde e o consumo.

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O Crescimento dos Produtos Similares

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Imagem: Art_Photo / Shutterstock.com

O Contexto Econômico e a Busca por Alternativas

O aumento dos preços de alimentos básicos, como o café, tem levado muitas famílias brasileiras a buscar alternativas mais baratas. A inflação de 2024 fez com que itens como o café, um dos produtos mais consumidos nos lares brasileiros, sofressem uma alta de 39,6%, enquanto o índice geral de inflação foi de 4,83%. Esse cenário tem impulsionado o crescimento de produtos similares, como o “cafake”.

A principal motivação para a existência desses produtos é econômica: o aumento do custo dos produtos tradicionais leva os consumidores a optar por versões mais baratas, muitas vezes de qualidade inferior.

Luciana Medeiros, sócia e líder do setor de varejo da PwC, destaca que, com a pressão econômica, muitas famílias de baixa renda acabam trocando produtos de maior qualidade por versões mais acessíveis. “Quando o orçamento apertado não permite a compra do suco de maior qualidade, por exemplo, as famílias optam por alternativas mais baratas, como o suco em pó”, explica.

Produtos que “Parecem, Mas Não São”

O “cafake” é apenas um exemplo de uma tendência que se fortalece com o aumento da inflação: a proliferação de produtos que imitam alimentos tradicionais, mas que não são exatamente o que aparentam. De acordo com a Abic, o “cafake” é uma mistura de café com impurezas como casca, pau, pedra e palha, que não são apropriadas para consumo humano. Essa prática não é nova e pode ser observada em outros segmentos do mercado, como o leite, os queijos e até carnes processadas.

Ana Paula Bortoletto Martins, professora da Faculdade de Saúde Pública da USP, explica que essa prática surge devido a um aumento nos custos de produção. “Quando a matéria-prima mais cara é substituída por algo mais barato, o produto final perde em qualidade”, afirma. Esse processo, muitas vezes, é realizado sem que o consumidor tenha ciência do que está realmente comprando.

O Caso da Linguiça “Tipo Calabresa”

Outro exemplo recorrente de produtos similares são as linguiças “tipo calabresa”. Essas linguiças, que aparentam ser feitas de carne suína, frequentemente contêm proteína vegetal e ossos de animais, o que gera confusão no consumidor. A rotulagem, muitas vezes, omite essas informações, induzindo o consumidor a acreditar que está comprando o produto tradicional. Esse tipo de engano, como no caso do “cafake”, é um dos principais problemas quando se trata de produtos similares.

A Legislação e a Regulamentação

A Falta de Regulação do “Cafake”

A Abic alertou que o “cafake” não tem registro na Anvisa e, portanto, não está aprovado para comercialização. Isso é um problema, pois a Anvisa exige que novos alimentos e ingredientes sejam autorizados previamente, garantindo que sejam seguros para o consumo. O produto que circula nas redes sociais está apresentando resoluções revogadas pela Anvisa, o que coloca em risco a saúde dos consumidores. Em relação a outros produtos similares, como o óleo composto ou o creme culinário, a legislação permite sua comercialização, desde que fique claro para o consumidor que se trata de uma versão mais barata e não do produto tradicional.

O Impacto da Rotulagem Enganosa

A rotulagem inadequada ou enganosa é uma questão importante quando se trata de produtos similares. Mariana Ribeiro, nutricionista do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), aponta que muitos consumidores não percebem a diferença entre o produto que compraram e o produto original até consumi-lo. Ela alerta que, na correria do dia a dia, muitos consumidores compram produtos com embalagens semelhantes e só se dão conta do engano quando chegam em casa e leem o rótulo. Isso é especialmente preocupante quando se trata de alimentos que têm um apelo de saudabilidade ou que são consumidos por pessoas com restrições alimentares.

Os Riscos à Saúde

Ultraprocessados e Seus Efeitos

Os produtos similares, especialmente os ultraprocessados, podem representar um risco à saúde. Esses alimentos, que passam por uma série de etapas industriais até chegarem à prateleira do supermercado, geralmente contêm altos níveis de açúcares, sal e gorduras, o que pode levar ao aumento do risco de obesidade, doenças cardiovasculares e síndrome metabólica. Produtos como refrigerantes, sorvetes, pizza e massas congeladas estão frequentemente presentes nesse grupo.

A nutricionista Mariana Ribeiro explica que, para identificar ultraprocessados, é importante verificar três ingredientes no rótulo: corantes, aromatizantes e edulcorantes. Se o açúcar aparecer no topo da lista de ingredientes, isso indica que o produto contém uma quantidade significativa de açúcar. A recomendação do Idec é que esses produtos sejam evitados, especialmente por crianças menores de dois anos.

O “Cafake” e Seus Riscos

O “cafake”, apesar de não ser um ultraprocessado, também pode representar um risco, já que o consumo de impurezas como cascas e pedras não é seguro para a saúde humana. Mesmo que o produto não apresente efeitos imediatos, o risco de contaminação e a baixa qualidade do produto são motivos suficientes para que os consumidores optem por produtos que sejam regulados e tenham a qualidade garantida pelas autoridades sanitárias.

O Papel da Educação no Consumo

Cafake
Imagem: Marcello Casal Jr / Agência Brasil

A Proposta de Trocar Produtos Caros por Similares

A recente declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a troca de produtos caros por similares gerou polêmica. O presidente sugeriu que os consumidores adotassem essa prática como uma forma de reduzir os preços no mercado. Porém, essa estratégia pode não ser a melhor solução, especialmente quando os produtos similares não são regulamentados e podem representar riscos à saúde. A educação sobre a leitura de rótulos e a compreensão do que está sendo consumido é fundamental para que o consumidor tome decisões informadas.

Luciana Medeiros, da PwC, aponta que a consciência sobre o que estamos comprando pode ajudar a evitar problemas. “O consumidor precisa entender o que está comprando e os impactos que isso pode ter em sua saúde e bem-estar”, diz.

Conclusão

O “cafake” é apenas um dos muitos exemplos de produtos similares que estão invadindo o mercado brasileiro. A proliferação desses produtos, embora seja uma resposta ao aumento dos preços, traz desafios para a regulamentação e para a saúde pública. A falta de controle sobre esses itens e a rotulagem inadequada podem induzir os consumidores a fazer escolhas erradas, colocando sua saúde em risco. Em tempos de crise econômica, a educação sobre consumo consciente e a leitura atenta dos rótulos são ferramentas essenciais para garantir que os consumidores façam escolhas informadas e seguras.

A situação exige uma reflexão mais profunda sobre a qualidade dos produtos consumidos e a necessidade de um maior controle por parte das autoridades sanitárias.

Imagem: NoemiEscribano/Shutterstock

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