Rios de Minas Gerais têm vazão comprometida, alerta estudo da USP

Mais da metade dos rios brasileiros, incluindo cursos de água em Minas Gerais, apresenta risco de redução de fluxo devido à infiltração da água em direção aos aquíferos subterrâneos. É o que mostrou um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP). Conforme as análises, a bacia do rio Verde Grande, que se estende pelo Norte de Minas Gerais, tem 74% dos rios comprometidos.

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Os dados são da pesquisa “Widespread potential for streamflow leakage across Brazil” (Potencial generalizado de vazamento do fluxo dos rios no Brasil, em tradução livre), publicada no periódico internacional Nature Communications.

O estudo analisou 17.972 poços em todo o Brasil e descobriu que, em 55,4% deles, o nível da água estava mais baixo que o dos rios próximos. Essa diferença provoca a infiltração da água dos rios em direção aos aquíferos do subsolo, reduzindo o fluxo hídrico disponível nos cursos d’água.

Em conversa com o BHAZ, José Gescilam C, aluno de doutorado da USP e primeiro autor da pesquisa, explica o fenômeno: “Essa interação entre rios e aquíferos ocorre de forma natural. Um rio perene, por exemplo, tem água o ano inteiro porque o aquífero cede água constantemente. Também existem naturalmente rios que cedem água para aquíferos. E essa relação depende do clima, do solo, entre outros fatores”.

“E a gente enquanto ser humano também pode intereferir nesse processo: quando se faz um poço próximo ao rio e começa a bombear muita água, o nível do lençol freático pode baixar e, se ele baixar muito, um rio que estava ganhando água de um aquífero, pode começar a perder”, pontua. Os dados indicam que pelo menos 69% dos rios brasileiros estejam perdendo água.

Na bacia hidrográfica do São Francisco, 61% dos rios analisados apresentam risco de perda de água para o aquífero. O cenário é ainda mais grave na bacia do rio Verde Grande, afluente do São Francisco, que atravessa Minas Gerais e o sudoeste da Bahia, onde a perda de fluxo pode afetar até 74% dos rios.

“Devido a condições climáticas e à intensa atividade agrícola, são áreas especialmente críticas a bacia do rio São Francisco e a região do Matopiba [que abrange os Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia], ambas muito dependentes de águas subterrâneas para irrigação e abastecimento humano”, diz Paulo Tarso Sanches de Oliveira, segundo autor do estudo, professor de hidrologia e recursos hídricos na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Hidráulica e Saneamento da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC-USP).

“Essas duas bacias são cruciais para a agricultura e geração de energia hidrelétrica no Brasil. O que está acontecendo põe em risco não apenas a sustentabilidade local, mas também a segurança hídrica, alimentar e energética em grande escala”, comenta Oliveira.

Perfuração de poços

Um forte fator de impacto é a perfuração indiscriminada de poços, para irrigação agrícola ou consumo privado. As análises indicaram que existem cerca de 2,5 milhões de poços tubulares no Brasil e que mais de 88% deles são ilegais, sem licença ou registro para bombeamento. O volume de água bombeada, por volta de 17,6 bilhões de metros cúbicos por ano, seria suficiente para atender toda a população brasileira, mas é usufruído por menos de 20% da população.

Além de o bombeamento comprometer seriamente a vazão dos rios, afetando a disponibilidade de água para o consumo humano, os ecossistemas aquáticos e a própria paisagem, o uso excessivo de água subterrânea pode causar a subsidência do solo – isto é, o afundamento e até mesmo o colapso da superfície.

Para Uchôa, planejamento e controle são indispensáveis, pois, apesar de deter 15% da água doce renovável do mundo, o Brasil já enfrenta grandes problemas hídricos, que o acirramento da crise climática deverá agravar. “Isso chama um alerta. São regiões que têm muita importância para o Brasil na questão da agricultura, geração de energia. E não só para o Brasil, para o mundo. São regiões que se tem algum problema ali, isso pode afetar a cadeia global de alimentação”

O que fazer?

Para enfrentar esse cenário, os pesquisadores envolvidos no estudo enfatizam a necessidade de integrar a gestão de águas superficiais e subterrâneas. Ferramentas baseadas em sensoriamento remoto e dados de campo podem ajudar a mapear regiões críticas e a orientar políticas públicas. Além disso, investimentos em monitoramento hidrogeológico são cruciais.

“O Brasil tem potencial para ampliar a irrigação de forma sustentável, mas é necessário planejar melhor o uso integrado das águas subterrâneas e superficiais para evitar impactos negativos”, completa.

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