A demolição do Edifício Pamplona e as mudanças na paisagem da Centralidade de Blumenau

Capa: Edifício Pamplona demolido em 2 de fevereiro de 2025, localizado na região central de Blumenau SC, nas proximidades do Shopping Neumarkt.

Edifício Pamplona em 2011. Demolido em 2 de fevereiro de 2025.

Lemos a matéria de 3 de fevereiro de 2025, no jornal O Município Blumenau, de autoria do jornalista Victor Guerreiro – sobre a demolição do Edifício Pamplona localizado na centralidade da cidade, em uma região que está recebendo novos edifícios de gabaritos altos, mesmo contando com a proximidade da histórica Rua XV de Novembro.

Nos próximos anos haverá mudanças profundas nas paisagens natural e construída nesta região de Blumenau. Observem-se algumas das intervenções em processo, no local.

Edifício construído no terreno do antigo Lanche do Feio – fevereiro de 2025.
Lanche do Feio em 2011.

Edifício quase totalmente construído. Ocupou o terreno do Lanche do Feio – em frente à sede da NSC Total, antiga RBS TV.

Edifício construído no terreno de uma das Casas da Família Deeke, demolida em fevereiro de 2020.
Edifício em construção onde se localizava uma das casas mais charmosas da família Deeke.
Edifício que será construído no terreno da antiga Casa Royal, esquina da Rua Namy Deeke e Rua 7 de Setembro.
Paisagem do local do Edifício Pamplona na década de 1950. Harmonia entre os gabaritos dos edifícios, rua e paisagem natural.
Sede da antiga Cara Royal – será substituída.
Construção nova sobre o terreno da antiga Casa Royal.
Ampliação.
Ampliação de uma clínica, praticamente aos fundos do Centenário Colégio Santo Antônio, atual Bom Jesus e na mesma rua do Teatro Carlos Gomes.
Em breve, uma nova paisagem no entorno do local onde ficava o Edifício Pamplona.

Houve algum estudo técnico, a partir da escala da cidade, para esse processo estar em andamento, a curto, médio e a longo prazos? Quais as consequências para a memória e para a história de Blumenau? Houve um estudo do conjunto paisagístico?

Decidimos registrar e publicar este material para a história. E iniciaremos a análise deste edifício de uso misto residencial/comercial com 4 pavimentos, o Edifício Pamplona. Fotografamo-lo em 2020 ciente de seu volume e aspectos arquitetônicos dentro da paisagem urbana, daquele momento.

Ao lado esquerdo do Edifício Pamplona está o Edifício Charilam – resultado da fusão dos nomes da esposa e filhos de Arthur Rabe Júnior – que eram Charlotte, lona e Ivan. Sua construção teve início no final da década de 1950, o que comprova, sua parede estar desprovida de reboco, após a demolição do Pamplona, que já estava no local.

Em um momento recente o vimos totalmente vazio. Por isso, novamente o fotografamos. Não encontramos o registro em nossos arquivos. Assim que o encontrar, publicaremos neste espaço.

O Edifício Pamplona estava localizado na frente da antiga “Casa Royal”, próximo às muitas propriedades históricas dos Deekes e da Wurststrasse (Estrada da Linguiça), atual Rua XV de Novembro.

Wurststrasse (Estrada da Linguiça), atual Rua XV de Novembro. Em primeiro plano, à esquerda da foto, a casa comercial e residencial de Gustav Ermlich, edificada com a técnica construtiva enxaimel.

Estava localizado, na Rua 7 de Setembro, Nº 1359, região do entorno do Shopping Neumarkt (área com grande potencial histórico, cultural, público comercial e imobiliário). Isso evidencia definitivamente, que esta região, parte da área central de Blumenau, com características única, terão modificadas suas paisagens natural e construída modificadas ainda na próxima década. O processo de mudança nesta região teve início há aproximadamente 10 anos.

Localização.
Em cidades desenvolvidas existe a intermodalidade e espaços públicos de qualidade, priorizando a menor escala de usuário para a maior. Depois do pedestre, em importância, está o ciclista. O gabarito dos edifícios é outro quesito observado dentro do Projeto de cidade.

A transformação da paisagem e dos espaços urbanos na centralidade de Blumenau, que possui um grande valor de mercado imobiliário, é atraente para “os negócios” desprovidos de cuidados, tal como ocorre em muitas outras cidades brasileiras, uma característica de um país subdesenvolvido e nada tem a ver com o “progresso”, argumento que muitos erroneamente utilizam para justificar estas ações e suas consequências nas paisagens das cidades. Em países realmente desenvolvidos, a realidade é outra e está relacionada com a manutenção e valorização da paisagem histórica compostas por edificações de valor histórico e a presença de espaços públicos de qualidade dentro das muitas escalas, sempre privilegiando a escala do homem.
No caso do processo que ocorre nas cidades brasileiras, é consequência imediata das iniciativas de cada um dos proprietários, de maneira isolada, os quais, necessariamente, não são técnicos e muito menos apresentam diretrizes lógicas que os orientem dentro do Urbanismo, a partir da municipalidade.

Em Paris, capital centenária da França, é perceptível a “textura” do tecido urbano, a partir do período histórico (cuidado), do gabarito, dos caminhos e equipamentos urbanos, do paisagismo. Desenvolvimento. Aos fundos, fragmento de tecido de cidade construído no presente, com critério e qualidade, criando espaços novos valorizados para o mercado imobiliário, também. Pois o foco é qualidade da cidade de todos.

Nem sempre a responsabilidade do ocorrido em lugares, como este de Blumenau, está com o proprietário, mas sim, acontece pela ausência de diretrizes, normatizações adequadas, fiscalizações justas, assessoria e orientações técnicas por parte dos órgãos públicos (atualmente muitos assumem o papel de parceiros), apoio técnico e financeiro para edificações dotadas de grande valor histórico e valorização do mesmo enaltecendo o bem feito de quem contribui para a elaboração da boa paisagem urbana e caminhos de sua cidade.

Fonte: WITTMAMM, 2021.

O edifício residencial Pamplona foi demolido em 2 de fevereiro de 2025, domingo e, na segunda-feira, dia 3 de fevereiro, foi iniciada a remoção do “lixo criado” no local, algo totalmente inviável em um país realmente sustentável. Esta questão exatamente é que tornou a técnica construtiva enxaimel, a primeira opção na construção unifamiliar residencial em algumas regiões da Alemanha atual. Não “cria” lixo.

Casa com estrutura enxaimel contemporânea – a técnica mais sustentável não somente na Alemanha, mas em outros países da Europa, construída com madeira de reflorestamento e dentro da fábrica com máquinas de última geração. Não há desperdício de materiais e o mínimo de geração de lixo e demanda de energia. Casa sustentável, com objetivo em obter selos de qualidade. No caso de sua “demolição” todo o material é reaproveitado em uma nova construção. Não é um Neoenxaimel, e sim parte da evolução da técnica construtiva enxaimel no tempo presente. Fonte: Lumipolar, 2020.

Na técnica construtiva enxaimel, além de apresentar o uso da estrutura de encaixes e sua versatilidade mediante a disponibilidade de diversos materiais alternativos para seu fechamento, apresenta também, o aspecto ecológico e seu uso relacionado à sustentabilidade do bem morar sem gerar lixo, pois ao “desmontá-lo”, se permite o uso do material com sua reutilização. Pode-se até mesmo reconstruir a edificação em questão, em outro local, sem qualquer perda ou desperdício enérgico. Também em alguns lugares de Santa Catarina, a técnica construtiva enxaimel é considerada (a partir de narrativas convenientes) de coisa velha.
De acordo com o professor da FURB, do curso de Engenharia Florestal, e também pesquisador do uso da madeira na arquitetura, Dr. Jackson Roberto Eleotério: “[…] a madeira é o único material que pode atingir a sustentabilidade. Concreto, vidro, cerâmicas, plásticos só emitem carbono em seus processos produtivos, enquanto a madeira acumula carbono.” WITTMANN, 2019.

Entulho do Edifício Pamplona fotografada por Guerreiro. O entulho tem a presença de tijolos maciços – comunicando parte da técnica construtiva adotada e que poderia ser reaproveitável.

Observando alguns elementos arquitetônicos e materiais usados no edifício, estimamos que a época de sua construção se reporta à década de 1940 ou 1950, e com isto, afirmamos que foi um dos primeiros de uso misto: residencial e comercial, construído em Blumenau.


O edifício possuía o uso comercial no pavimento térreo e contava com seis apartamentos residenciais nos demais três pavimentos, sendo que a circulação se localizava no centro da planta geral de um pavimento. As escadas estavam localizadas na parte dos fundos, criando um “colchão” de ar, equilibrando a temperatura interna dos ambientes, que também recebiam influência da mata localizada aos fundos do edifício.

Fotografia: Victor Guerreiro.

Arquitetura

A arquitetura do Edifício Pamplona, foi pioneira na cidade de Blumenau a partir de sua técnica construtiva, estilo e uso, mediante a adoção de linhas retas, uma das características da arquitetura Moderna que chegou ao Brasil no final da década de 1920 pelas mãos do arquiteto ucraniano sediado neste país, Gregori Warchavchik que projetou sua casa modernista em 1927 e a construiu em 1928, em São Paulo. Era tão “limpa” de adornos que o Setor de Análise de projeto da Prefeitura de São Paulo o devolveu para que fosse terminado, pois deduziram que estivesse incompleto. Isso tudo após o evento da semana de Arte Moderna em 1922, responsável pelo ideário modernista na área das artes, também em São Paulo e de lá para o Brasil. Nessa época o engenheiro blumenauense Emil Heinrich Baumgart, já construía suas primeiras obras em concreto armado no Rio de Janeiro

Arquitetura com informações simplificadas em sua volumetria a partir da racionalidade, funcionalidade e simplicidade das linhas, porém com aberturas de madeira, envidraçadas.

O estilo Modernista, com características presentes no Edifício Pamplona, é um estilo arquitetônico que simplifica a informação em sua volumetria a partir da racionalidade, funcionalidade e simplicidade das linhas. Esse movimento revolucionou porque negou o modo de se produzir arquitetura até a sua criação contestando os ornamentos decorativos em excessos e priorizando as linhas e formas simples. Não vem ao caso agora, mas era quase uma necessidade a limpeza das fachadas, para reconstruir as cidades bombardeadas na Europa Pós-Guerra.
A técnica construtiva usada na arquitetura Moderna, a exemplo da casa do arquiteto pioneiro em São Paulo, nem sempre era totalmente assimilada e compreendida pelas pessoas que estavam habituadas aos adornos decorativos adquiridos em catálogos franceses.
Com isto, ousamos concluir que o Edifício Pamplona é um dos primeiros edifícios construídos em Blumenau, com linhas retas, porém com técnica construtiva usada no século XIX, como o estuque e paredes autoportantes. A título de esclarecimento o edifício projetado pela arquiteto Hans Broos, considerado o primeiro de Santa Catarina, construído com concreto, conhecido como Grande Hotel, foi inaugurado somente em 1962.
Outro indício da longevidade da arquitetura do edifício demolido está no material e tipologia de suas aberturas, feitos em madeira como eram usados ainda em residências construídas com a técnica construtiva enxaimel.

Janelas com duas folhas envidraçadas e dotadas de bandeiras, também envidraçadas. A construção mais antiga do Vale do Itajaí, construída em 1858, localizada no Stadtplatz de Blumenau e que corre o risco de ter uma loja Havan no seu entorno. Essa casa foi construída pela personalidade histórica Hermann Wendeburg.

Decorativismo

Fonte: Google Earth.

No quadro da elevação frontal a partir da simplicidade das linhas e a simetria da distribuição das aberturas de outra época, se destaca o ornamento no cobogó de cimentos que adornam o guarda-corpo das sacadas do Edifício Pamplona.
O cobogó é um revestimento vazado, como este que tem a forma de um tijolo, mas não é um tijolo. Foi muito usado na produção arquitetônica brasileira. Este elemento construtivo pode ser feito de barro, vidro, gesso, cerâmica ou cimento como o usado no guarda-corpo do Edifício Pamplona.

Estrutura

A estrutura do edifício demolido é mista, observando-se as fotografias dos escombros feitas por Guerreiro. Percebe-se que no pavimento térreo onde estariam locados os espaços comerciais, há a presença de ferragem e concreto, sendo que os demais pavimentos, contam com paredes autoportantes construídas com tijolos maciços e contando com parte em madeira, que em determinados locais recebeu o estuque. Mesmo que o blumenauense Emil Heinrich Baumgart, considerado o pai do concreto armado no Brasil, tenha feito uso do mesmo ainda na década da 1920 na capital do país, Rio de Janeiro e, em Santa Catarina, em 1926, quando usou o material estrutural na ponte que leva o seu nome, na cidade de Indaial, no edifício foi somente usado no primeiro pavimento.
A parede autoportante de tijolos maciços foi muito usual na arquitetura do início do século XX. Era comum na forma de construir do Sul da Alemanha, influência do Império Romano, e também entre os italianos que migraram para a região do Vale do Itajaí, na virada do século, porque marcou a adoção de uma nova maneira de construir que ilustrava a mudança social em Blumenau e região com a presença de novos comerciantes e da indústria regional. Esta nova elite social adotou a arquitetura internacional vigente, na época o neoclássico (de berço italiano) e o eclético. Já apontamos o tema em alguns artigos que apresentam casarões locais construídos nesse período, virada do século XIX para o século XX.

Casa Salinger & Cia. e residência de Peter Christian Feddersen, Altona – atual Itoupava Seca -Ano 1890. A edificação ainda não tinha a presença do Dachgaube no telhado/sótão.
A preocupação com o acabamento do forro, apresenta a opção do estuque fixado nos barrotes de madeira, perceptível na fotografia dos escombros.
Nesta fotografia é possível observar a estrutura de concreto através da presença das vigas e ferragens e os tijolos maciços das paredes autoportantes. Fotografia: Victor Guerreiro.

Aberturas

As aberturas lembram as da tipologia adotada na arquitetura dos pioneiros da região do Vale do Itajaí – antiga Colônia Blumenau. Portas e janelas de madeira envidraçadas, porém, de correr com bandeiras envidraças fixas e ou, com venezianas para ventilação. Este ponto afasta muito a tipologia em questão do objetivo de quem a construiu: uma tipologia de arquitetura Moderna. Os materiais e formas das aberturas eram clássicos e se reportavam à casa pioneira da região.

Janelas de madeira, envidraçadas, com bandeiras veneziana, de correr. Lembram as aberturas da casa pioneira da região.
Fotografia de 2020, quando sua volumetria nos chamou atenção e de quanto estava exposto dentro do espaço da cidade mostrando a ausência de manutenção.

Cobertura

Na vista superior observada no mapa fornecido pelo Google Earth é possível observar 3 panos de telhados inclinados e escondidos atrás de platibandas, criando uma volumetria final de um volume simples formado por linhas retas.
Se fosse feito esse mesmo volume com tecnologia predominante na arquitetura Moderna, esta cobertura seria construída com laje de concreto impermeabilizada e talvez, dotada de revestimento cerâmico como acabamento. Sua construção era pioneira e de vanguarda, na região.
O teto dos apartamentos, de acordo com observações dos registros fotográficos de Guerreiro foi construído com estrutura de madeira, o que leva a crer sobre a possibilidade de que o piso era assoalho de madeira, com estuque na parte inferior, criando o teto em cada um dos apartamentos e também da circulação do edifício. Mais uma vez, evidenciando a idade de sua construção, de acordo as técnicas adotadas nos elementos arquitetônicos.

Meus pais moraram no Edifício Pamplona em 1970 e 1971. Bateu uma boa recordação desse tempo. O piso era de assoalho, sim. Marilda Sueli Stinghen – 11 de fevereiro de 2025, Redes Sociais.

Registros do jornalista Victor Guerreiro

Pós demolição em 2 de fevereiro de 2025.

Fotografia: Victor Guerreiro.
Fotografia: Victor Guerreiro.
Fotografia: Victor Guerreiro.
Fotografia: Victor Guerreiro.

Terreno limpo, espaço livre. Estivemos no local em 9 de fevereiro de 2025.

Ao lado esquerdo do local onde estava o Edifício Pamplona está o Edifício Charilam – nome encontrado a partir da fusão dos nomes da esposa e filhos do seu construtor Arthur Rabe Júnior – que eram Charlotte, lona e Ivan. Sua construção teve início no final da década de 1950, o que comprova, sua parede estar desprovida de reboco, após a demolição do Pamplona, que já estava no local.

Fundo Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural Edificado de Blumenau – COPE

Há mais de 30 anos existe um fundo, junto ao COPE, para auxílio de proprietários de imóveis históricos, sem condições de efetuar necessária manutenção do imóvel, ante a possibilidade de comprometimento de seu estado físico.

Vamos compreender o funcionamento desse fundo que pode auxiliar proprietários que não estão conseguindo meios econômicos para manter seu imóvel cadastrado como Patrimônio Cultural Edificado de Blumenau.

Lei Complementar N° 794 de 19 de abril de 2011

Em 1994/1995 foi criada a Lei Complementar Nº 79, legislação ainda vigente no tempo presente com outra nomenclatura, para destinar apoio aos proprietários de imóveis antigos de valor histórico, devidamente cadastrados. Este cadastro deve ser periodicamente observado, de conformidade com a realidade vigente. De acordo com a entrevista do Professor Vilmar Vidor ao jornalista Altair Carlos Pimpão em 2015, ele afirmava que de todos os imóveis cadastrados no Projeto Memorvale, em 2015, existiam somente 1/3 do total, na paisagem. E hoje?
Atualmente existe a Lei Complementar N° 794, originada da Lei Complementar Nº79, sancionada pelo ex-prefeito de Blumenau Renato de Mello Vianna em 22 de outubro de 1994, segundo orientação do presidente do IPUUB, professor e arquiteto Vilmar Vidor.
A Lei Complementar Nº 79 foi regulamentada pelo Decreto n° 5.100, de 8 de março de 1995. Seu objetivo era criar um programa de proteção e valorização do patrimônio histórico arquitetônico de Blumenau. Para isso, concedia – e ainda concede – poucos o sabem, incentivos tributários ao proprietário que esteja contemplado no Cadastro do Patrimônio Histórico Arquitetônico da cidade.

Para pleno funcionamento da Lei Complementar N° 79, foi criado o Conselho Municipal de Patrimônio Histórico Arquitetônico e o Fundo Municipal de Conservação do Patrimônio Histórico Arquitetônico, atual Fundo Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural Edificado de Blumenau – FUMPACE.
Nós fizemos parte desse momento histórico do Patrimônio Histórico Arquitetônico de Blumenau, em 1995, e atuamos como conselheira da primeira formação do Conselho, atual COPE, em que eram analisados projetos dos proprietários que reivindicavam auxílio de custo para a manutenção de sua edificação tombada e pertencente ao Patrimônio Cultural Edificado de Blumenau. E muitos o recebiam.

Primeira Formação do “COPE”, na época Conselho Municipal de Patrimônio Histórico Arquitetônico – após sua criação. Destes conselheiros, continuam nesse cargo, no momento: Sueli Maria Vanzuita Petry, Angelina Wittmann e Valdecir Mengarda.

Desde a época da gestão e trabalho do arquiteto e professor Vilmar Vidor, idealizador da Lei Complementar N° 79 e que deu origem a esta, Lei de 2011, N° 794, existe este fundo de apoio aos proprietários de imóveis tombados no município de Blumenau.

Participamos deste trabalho como estagiária de arquitetura. A comunidade tinha interesse em demolir uma tipologia neogótica. Houve um trabalho de conscientização e depois auxílio com valores e suporte técnico, por parte da Prefeitura Municipal de Blumenau.

Portanto, a Lei N° 794 existe para legitimar o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural Edificado de Blumenau – COPE e o Fundo Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural Edificado de Blumenau – FUMPACE, amplamente divulgada e de conhecimento de parte da sociedade interessada, no século XX. Anos atrás, os proprietários eram organizados em uma Associação de Moradores de Imóveis Antigos e possuíam uma cadeira cativa nos Conselhos da Prefeitura Municipal de Blumenau, principalmente no COPE.

Lei Complementar N° 794

O Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural Edificado de Blumenau – COPE, órgão de caráter permanente, de natureza deliberativa e consultiva, integrante da estrutura administrativa municipal, vinculado à Secretaria Municipal de Planejamento Urbano, é responsável pela Política de Preservação do Patrimônio Cultural Edificado de Blumenau, e será composto de forma paritária, com representantes do Poder Executivo e da Sociedade Civil. (Redação dada pela Lei Complementar 1257/2019)
Compete ao COPE:

I – fixar critérios, definir diretrizes e estratégias para a implementação da Política de Preservação do Patrimônio Cultural Edificado de Blumenau, observada a legislação que rege a matéria;

II – decidir sobre o tombamento de imóveis considerados como Patrimônio Cultural;

III – sugerir ao Chefe do Executivo a formalização de convênios, contratos e acordos em nome do FUMPACE, observadas as formalidades legais;

IV – deliberar sobre a proposta orçamentária, as metas anuais e plurianuais e sobre os planos de aplicação de recursos do FUMPACE, bem como controlar sua aplicação e execução, em consonância com a legislação pertinente;

V – deliberar, acompanhar e fiscalizar a aplicação dos recursos do FUMPACE, solicitando, caso necessário, o auxílio da Secretaria Municipal da Fazenda;

VI – analisar e deliberar sobre os projetos para edificação dos bens imóveis classificados como P3;

VII – cumprir e fazer cumprir, no âmbito municipal, a Política de Preservação do Patrimônio Cultural Edificado do Município, bem como toda a legislação pertinente;

VIII – convocar, através da maioria de seus membros, justificando por escrito ao Presidente do COPE, reunião extraordinária;

IX – promover e articular, quando necessário, reuniões com os demais Conselhos existentes no Município;

X – emitir resoluções de suas decisões;

XI – aprovar o Regimento Interno e promover suas alterações, quando necessário, que será homologado por ato do Poder Executivo;

CAPÍTULO III

Do Fundo Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural Edificado de Blumenau – FUMPACE

Seção I
Da Natureza, Gestão e Competência

O Fundo Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural Edificado de Blumenau – FUMPACE, órgão de natureza contábil, tem como objetivo centralizar e gerenciar os recursos orçamentários para a restauração, preservação e utilização dos bens de interesse cultural, vinculado à Secretaria Municipal de Planejamento Urbano, que lhe dará estrutura de execução e controle contábeis, sendo o Secretário Municipal de Planejamento Urbano, o ordenador de despesas.

Parágrafo único. A movimentação bancária dos recursos do FUMPACE será realizada em conjunto pelo Secretário Municipal de Planejamento Urbano e pelo Diretor de Planejamento Urbano. (Redação dada pela Lei Complementar nº 1257/2019)

Os recursos do FUMPACE, em consonância com as diretrizes e normas do COPE e demais legislações que regem a matéria, serão aplicados, obrigatoriamente, na proteção, conservação e restauração dos bens de Patrimônio Cultural Edificados, tombados pelo Município, especialmente em:

I – ajuda financeira aos proprietários de imóveis tombados que, comprovadamente não tenham condições para fazê-lo, para preservação do Patrimônio Cultural Edificado – PCE tombado, na forma do regulamento.

II – campanhas, palestras, cursos e material de divulgação e valorização sobre a importância dos bens culturais constantes do acervo da cidade;

III – estudos, levantamentos, projetos e execução de obras de proteção, conservação e restauração do Patrimônio Cultural Edificado – PCE tombado, de propriedade do Município de Blumenau, na forma de regulamento. (Redação acrescida pela Lei Complementar nº 1443/2022).

Um Registro Para a História!

Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
@angewittmann (Instagram)
@AngelWittmann (X)

Referências

  • AMARAL, Max Tavares d´. Contribuição à história da colonização alemã do Vale do Itajaí. São Paulo: Instituto Hans Staden, 1950.
  • AYMONINO, Carlo. O significado das Cidades. Coleção Dimensões n.15. Ed Presença. Lisboa, 1984.
  • CARVALHO, Maria João Esperança. O Centro Histórico na Dinamização das Cidades – O Centro Histórico do Porto. Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Dissertação para obtenção do grau de Mestre em Riscos Cidades e Ordenamento do Território – Variante Políticas Urbanas. Setembro de 2011. Porto
  • CASTELLS, Manoel (1983). A questão urbana. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
  • DEEKE, José. Traçado dos primeiros lotes Coloniais da Colônia Blumenau. 1864. In: FUNDAÇÃO CULTURAL DE BLUMENAU. Arquivo Histórico José Ferreira da Silva. Colônia Blumenau. Mapas.
  • DEEKE, José. O município de Blumenau e a história de seu desenvolvimento. Blumenau : Nova Letra, 1995. 295 p. il.
  • GERLACH, Gilberto Schmidt. Colônia Blumenau no Sul do Brasil / Gilberto Schmidt-Gerlach, Bruno Kilian Kadletz, Marcondes Marchetti, pesquisa; Gilberto Schmidt-Gerlach, organização; tradução Pedro Jungmann. – São José: Clube de Cinema Nossa Senhora do Desterro, 2019. 2 t. (400 p.): il., retrs.
  • GUERREIRO, Victor. GALERIA – Edifício residencial no Centro de Blumenau é demolido. Blumenau, 03 de fevereiro de 2025. O Município Blumenau. Disponível em: https://omunicipioblumenau.com.br/galeria-edificio-residencial-no-centro-de-blumenau-e-demolido/. Acesso em: 09/02/2025.
  • MENEGUELLO, Cristina. O Coração da cidade: observações sobre a preservação dos centro históricos. IPHAN. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/temp/coracao_da_cidade.pdf.pdf. Acesso em 9 de março de 2021 – 10:17h.
  • LINCH, Kevin. A Imagem da cidade. Martins Fontes. São Paulo, 1985.
  • SANTIAGO, Nelson Marcelo; PETRY, Sueli Maria Vanzuita; FERREIRA, Cristina. ACIB: 100 anos construindo Blumenau. Florianópolis: Expressão, 2001. 205 p, il. 
  • SILVA, José Ferreira da. História de Blumenau. Florianópolis: EDEME, 1972. 380p. il.
  • VIDOR, Vilmar. Indústria e urbanização no nordeste de Santa Catarina. Blumenau: Ed. da FURB, 1995. 248p, il.
  • WETTSTEIN, Phil. Brasilien und die Deutsch-brasilieniche Kolonie Blumenau. Leipzig, Verlag von Friedrich Engelmann, 1907.
  • WITTMANN, Angelina C.R. Análise Morfológica do Primeiro Núcleo Urbano de Blumenau – Stadtplatz – Entre 1850 – 1880. Pós-Graduação Em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade – 2005/02. Disciplina: Morfologia Urbana, Parcelamento da Terra e Tipologia Arquitetônica. Professoras Orientadora: Gilcéia Pesce.
  • WITTMANN, Angelina. Enxaimel e Sustentabilidade. UIA 2021 RIO: 27th World Congress of Architects. Paper Procedings – Paper Proceedings – Volumes I – III – ISBN 978-1-944214-31-9. Rio de Janeiro. 2021. Páginas 1568/1571. Disponível em: https://www.acsa-arch.org/chapter/enxaimel-e-sustentabilidade/. Acesso em 26 de agosto de 2021 – 00:45h.
  • WITTMANN, Angelina C.R. Fachwerk – A Técnica Construtiva Enxaimel. Blumenau: AmoLer, 2019. 408pp.:Il.:

 

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