Governo descarta adoção de moeda comum no BRICS, mas quer reduzir dependência do dólar

Imagem de um celular com a palavra BRICS. Ao fundo, um globo terrestre.

O governo brasileiro não pretende utilizar sua presidência do BRICS em 2025 para propor a adoção de uma moeda comum entre os países-membros. Em vez disso, o foco estará na interligação dos sistemas de pagamento entre as nações do bloco, com o objetivo de fomentar o comércio, estimular investimentos e ampliar o uso de moedas locais como alternativa ao dólar.

A informação foi confirmada por quatro fontes do governo, que destacam a importância da redução de custos e maior eficiência nas transações internacionais.

Alternativas à moeda única

Bandeiras dos Brics em uma mesa de escretório
Imagem: William Potter/shutterstock.com

Apesar das especulações sobre a criação de uma moeda comum para o BRICS, todas as fontes consultadas afirmaram que essa possibilidade nunca esteve oficialmente em discussão nas reuniões técnicas do grupo. Os países que compõem o bloco são Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Indonésia.

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A discussão sobre alternativas ao dólar ganhou força especialmente após as sanções ocidentais à Rússia, em resposta à guerra na Ucrânia. O interesse do BRICS está em criar um sistema que permita transações em moedas locais de forma mais eficiente e menos onerosa.

O papel do Brasil na presença do BRICS

O Brasil busca promover avanços na digitalização financeira e na interconexão entre sistemas de pagamentos. O Banco Central e o Ministério da Fazenda têm debatido propostas para reduzir a dependência do dólar sem criar embates diretos com os Estados Unidos, especialmente considerando a postura do presidente Donald Trump, que já demonstrou resistência a qualquer iniciativa que enfraqueça o papel da moeda americana.

A expectativa é que a estratégia brasileira seja apresentada na próxima reunião do BRICS, que ocorrerá na África do Sul, paralelamente às reuniões do G20. O Brasil pretende sugerir o uso de novas tecnologias, como blockchain, para tornar os pagamentos transfronteiriços mais baratos e eficientes.

Como funcionaria um sistema de pagamentos interligado?

A interconexão dos sistemas de pagamento entre os países do BRICS poderia seguir o modelo do Sistema de Pagamentos em Moeda Local (SML), já adotado pelo Brasil em relação à Argentina, Uruguai e Paraguai. Esse sistema permite transações diretas em reais, eliminando a necessidade do dólar como moeda intermediária. No entanto, ele ainda apresenta desafios, como o prazo de liquidação de três dias útis e uma adoção limitada pelos agentes econômicos.

Com a ascensão de sistemas de pagamentos instantâneos, como o Pix, o Brasil acredita que é possível modernizar as transações internacionais. O próprio presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, destacou que a programabilidade do Pix pode facilitar sua integração com outros sistemas internacionais.

Repercussão e desafios políticos

bandeiras de países do Brics
Imagem: Oleg Elkov / Shutterstock

A iniciativa do Brasil é vista como um movimento estratégico para fortalecer o BRICS sem criar tensões desnecessárias. O governo evita antagonizar os Estados Unidos ao apresentar a proposta como um meio de redução de custos e eficiência, e não como uma tentativa de desdolarização da economia global.

Contudo, Trump já sinalizou que poderia retaliar países do BRICS que reduzam sua dependência do dólar. Ele ameaçou impor tarifas de até 100% sobre esses países caso avançassem com planos de substituição da moeda americana em suas transações internacionais.

Considerações finais

O Brasil não pretende propor a criação de uma moeda comum para o BRICS, mas sim facilitar o uso das moedas locais nos comércios bilaterais do bloco. A interconexão dos sistemas de pagamento, aliada à adoção de novas tecnologias, pode representar um avanço significativo na redução da dependência do dólar. O desafio estará em equilibrar essas mudanças sem gerar conflitos geopolíticos, principalmente com os Estados Unidos.

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