Mais da metade dos brasileiros de baixa renda não possuem cartão de crédito

A falta de acesso a serviços bancários continua sendo um obstáculo significativo para uma parcela considerável da população brasileira, especialmente entre os mais pobres. De acordo com uma pesquisa divulgada no último domingo (16) pela Quaest, mais da metade dos brasileiros de baixa renda ainda não possuem cartão de crédito.

A pesquisa, que traz um panorama sobre a bancarização e os hábitos financeiros da população, também aponta que o cartão de crédito ainda é uma ferramenta de uso majoritário nas classes média e alta.

Este levantamento revela uma realidade onde a digitalização das transações financeiras, facilitada principalmente pelo Pix, ainda não foi suficiente para promover uma inclusão financeira mais ampla. O estudo sugere que, embora a ferramenta de pagamento instantâneo tenha ajudado a acelerar a digitalização para os brasileiros de baixa renda, ainda existem limitações significativas no acesso a outros serviços financeiros.

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O impacto do Pix na bancarização

O Pix, criado em 2020 pelo Banco Central, se consolidou rapidamente como uma solução prática e acessível para as transações financeiras no Brasil. De acordo com a pesquisa da Quaest, 65% dos brasileiros de baixa renda que possuem uma conta bancária também utilizam a chave Pix para realizar suas transações.

Esse dado evidencia como o sistema tem se mostrado uma ferramenta essencial na inclusão financeira de quem antes dependia exclusivamente do dinheiro em espécie.

Apesar do avanço representado pela adesão ao Pix, a pesquisa revela que a bancarização dessa faixa da população ainda enfrenta desafios consideráveis. Embora mais da metade dos brasileiros de baixa renda (68%) tenha conta bancária, a verdadeira inclusão financeira parece estar distante. A adesão ao cartão de crédito, um dos serviços bancários mais utilizados, é muito menor nessa faixa de renda, com apenas 40% dessa população possuindo o benefício.

O acesso limitado ao crédito

Os dados da pesquisa reforçam uma disparidade importante no acesso ao crédito entre as classes sociais. Enquanto a maior parte dos brasileiros de baixa renda não tem acesso ao cartão de crédito, essa modalidade é uma realidade para 58% da classe média e 73% da classe alta. Esse cenário indica que, apesar dos avanços no campo da digitalização com o Pix, ainda há uma grande desigualdade no acesso a serviços financeiros que podem facilitar a gestão da vida econômica e o financiamento de projetos pessoais.

Outro dado preocupante revelado pela pesquisa é o nível de endividamento da população. Os brasileiros de baixa renda continuam sendo os mais afetados por dívidas, com 25% dessa população enfrentando dificuldades financeiras. Este cenário de endividamento é ainda mais acentuado em comparação com as classes média (19%) e alta (14%).

Endividamento e a desigualdade financeira

O endividamento é um problema crônico no Brasil, que atinge particularmente os mais pobres. Embora o cartão de crédito seja uma ferramenta importante para o acesso ao consumo e à construção de um histórico financeiro, a falta de um planejamento adequado e a alta taxa de juros acabam colocando muitas pessoas em uma situação financeira delicada.

O endividamento não é apenas um reflexo da falta de educação financeira, mas também das condições econômicas que tornam o crédito caro e de difícil acesso para a população de baixa renda.

A desigualdade no endividamento é evidente. De acordo com a pesquisa, 27% dos brasileiros da classe alta conseguem viver sem dívidas, enquanto na classe baixa esse número cai para apenas 15%. Isso mostra que, apesar de uma maior adesão ao Pix e à bancarização, as ferramentas de crédito ainda não estão amplamente acessíveis a quem mais precisa.

A promessa de um novo programa de crédito consignado

O levantamento da Quaest surge em um momento chave para o cenário financeiro brasileiro. O governo federal, com o intuito de aumentar a inclusão financeira e facilitar o acesso ao crédito para os trabalhadores da iniciativa privada, está planejando o lançamento de um programa de crédito consignado, com juros mais baixos, para esse público. Segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o novo programa será o maior da história do Brasil e buscará ampliar o acesso ao crédito com condições mais favoráveis, por meio do eSocial.

Em declarações recentes, Lula ressaltou que o objetivo do programa é garantir que mais pessoas tenham acesso ao crédito de forma mais justa e menos onerosa. “Eu acho que pouco dinheiro nas mãos de muitos significa distribuição de renda e muito dinheiro nas mãos de poucos significa miséria”, afirmou o presidente, destacando a importância de um sistema financeiro mais equilibrado e acessível para todos os brasileiros.

O futuro da inclusão financeira no Brasil

A pesquisa da Quaest reflete um panorama claro das desigualdades financeiras no Brasil. Embora o Pix tenha sido um marco importante na digitalização das transações bancárias e na bancarização da população, o acesso a serviços essenciais como o cartão de crédito ainda é limitado para a grande maioria dos brasileiros de baixa renda. O lançamento do programa de crédito consignado promete ser uma das ações mais significativas do governo para melhorar essa situação e ampliar o acesso ao crédito de forma mais inclusiva.

O próximo passo para a inclusão financeira no Brasil passa pela democratização do acesso aos serviços bancários e pelo controle do endividamento, especialmente entre os mais pobres. Só assim será possível garantir que a digitalização das finanças seja um verdadeiro motor de transformação econômica para todos os brasileiros, e não apenas para uma parte da população.

Imagem: Suradech Prapairat / shutterstock.com