Crítica: “Mickey 17” tem poucas vidas para tanta trama paralela

Cinco anos depois de vencer o Oscar de Melhor Filme, Bong Joon Ho retorna às telonas com “Mickey 17”. O diretor de “Parasita” retorna à direção em co-produção entre Estados Unidos e Coreia do Sul. O novo longa, contudo, tem mais ligação com trabalhos como “Expresso do Amanhã” e “Okja”. Mas a escolha estética e o tom usado não são o principal problema do longa-metragem, que chega aos cinemas brasileiros em 06 de março.

A história

“Mickey 17” é inspirado em um livro de ficção científica, trazendo temas como ética, a finitude da vida e poder a um contexto de exploração espacial – e do trabalho manual. No futuro, a impressão humana é possível, como uma clonagem. Porém, por ser arriscado, é questionado e proibido no planeta. Um bilionário tecnocrata decide, então, levar essa tecnologia para o espaço, aliando à sua decisão de explorar outros planetas.

Mickey está fugindo de uma dívida e acaba se inscrevendo em um programa suspeito. Ele viajará para o espaço como um Descartável, a qualidade mais baixa da camada social da nave. O personagem é usado como cobaia para experimentos que levam à morte, sendo reimpresso logo depois, com as memórias que teve. Até que, por um erro, imprimem uma segunda versão, e as duas tentam conviver – sendo uma delas, muito mais perigosa. Junto disso, tem até alienígenas e ditadores.

Atuação

As atuações são ponto alto do filme. Robert Pattinson consegue mostrar muito claramente dois personagens diferentes interagindo, os dois muito complexos e bem construídos. Mark Ruffalo faz uma chacota de Donald Trump, quase caindo no caricato, mas que diverte. Evoca Maryl Streep em “Não Olhe Para Cima”, filme que também tem um teor cômico na linha de “Mickey 17”. O elenco traz ainda nomes como Steven Yeun, Naomi Ackie e Toni Collette, todos ótimos. A construção de personagem nos filmes do diretor são ótimas.

Joon Ho escolhe uma crítica ao capitalismo muito escrachada, sem segurar nuances. A escolha de Mark Ruffalo é uma delas, e o filme com certeza ganha um novo tom com a reeleição de Trump. A exaustão do trabalho e o fato do personagem dar a vida, e são muitas vidas, pelo trabalho sem nenhum reconhecimento, são bem explícitas.

Militarismo

Em tempos de crescente ultradireita na Europa, o diretor não perde tempo com sutilezas. Evoca um clássico mal compreendido, “Tropas Estelares”, que tirava sarro do militarismo e escrachava a falta de humanidade do culto ao exército. O clima do texto é esse. As jogadas são rápidas, diálogos são diretos e o filme tem fôlego em mais de duas horas. O problema mesmo é querer tratar de tantos assuntos de uma vez só.

Mickey acaba representando um personagem que se torna apático frente a todos os problemas pessoais e sociais. O que funciona por um tempo, mas não tem duração de filme capaz de aprofundar os assuntos que Joon Ho quer tratar. Da falta de contato humano até jornadas de trabalho, supremacia branca, exploração mental e física e até ética do consumo e ética da guerra pululam no longa.

É tanto assunto que “Mickey 17” precisaria de mais que as 17 vidas para resolver. E talvez nem tudo precisasse ser resolvido, se devidamente apresentado e criticado. O filme diverte com momentos até engraçados e deixa claro sua crítica, mas se perde antes do fim.

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