Brasil pode ter 119 milhões de adultos com peso acima do ideal em 2030

Dados do Atlas Mundial da Obesidade divulgados nesta segunda-feira (3) mostram que o número de brasileiros com mais de 18 anos vivendo com obesidade deve passar por um crescimento acelerado até 2030.De acordo com o documento da Federação Mundial da Obesidade, estima-se que 68% dos adultos do Brasil tenham alto IMC (Índice de Massa Corporal). O IMC é considerado elevado quando está acima de 25 kg/m2, o que indica sobrepeso. Quando ultrapassa 30 kg/m2, passa a configurar obesidade.O número de homens com IMC alto subiu de 32,6 milhões em 2010 para 38,5 milhões em 2015 e poderá chegar a 55,8 milhões em 2030. Já as mulheres saíram de 34,4 milhões em 2010 para 41,4 milhões em 2015. Em cinco anos, poderão ser 63,3 milhões.Isso significa que o número de adultos com IMC alto pode passar de 79 milhões em 2015 para 119 milhões até 2030. Não há uma projeção feita para caso medidas efetivas sejam adotadas.Hoje, mais de 1 bilhão de pessoas vivem com obesidade em todo o mundo, número que pode ultrapassar 1,5 bilhão em cinco anos caso medidas efetivas não sejam implementadas.A obesidade é grande impulsionadora de doenças não transmissíveis como câncer, derrame, diabetes tipo 2 e doenças cardíacas. Estima-se quase 4 milhões de mortes podem ser atribuídas à condição.Em 2021, o país registrou 60.913 mortes prematuras atribuídas a doenças crônicas não transmissíveis relacionadas ao IMC elevado, incluindo diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e alguns tipos de câncer.Uma das preocupações dos especialistas é o fato de que muitos países estão despreparados para lidar com o problema, que torna-se mais sério a cada ano.Presidente da Federação Mundial da Obesidade, Simon Barquera afirma que mais pessoas morrem devido à obesidade do que em acidentes de trânsito a cada ano. “Ficaríamos horrorizados se um país não tivesse uma política para reduzir as fatalidades nas estradas, mas muitos governos em todo o mundo não têm um plano sério para reduzir a morte e a doença causadas pela obesidade.”Os pesquisadores reforçam que a obesidade não é apenas uma questão individual, mas reflexo de sistemas de saúde, alimentares e ambientais. Afirmam, ainda, que as ações precisam ser coordenadas em escala mundial.A federação analisou ainda a existência de cinco políticas-chave para promover dietas saudáveis e atividade física: impostos sobre bebidas adoçadas e sobre alimentos ricos em gorduras, gorduras saturadas, açúcar e sal; subsídios para alimentos mais saudáveis; restrições à publicidade de alimentos para crianças; e impostos e incentivos para promover a atividade física.Os autores descobriram que dois terços dos países (126 de 194) não têm nenhuma ou apenas uma dessas políticas em vigor para enfrentar o aumento das taxas de obesidade. Apenas 7% das nações dispõem de sistemas de saúde adequadamente preparados, e a situação é mais crítica em países de baixa e média renda.Embora o Brasil esteja entre os 17 países com mais políticas na área —que inclui diretrizes nacionais para o manejo de IMC elevado, inatividade física e doenças crônicas não transmissíveis em adultos na atenção primária—, ainda há uma proporção alta de adultos que não praticam atividade física o suficiente (40% a 50%). Além disso, o consumo de bebidas adoçadas fica entre 1 e 2,5 litros por semana por pessoa, de acordo com o levantamento.Os pesquisadores reforçam, contudo, que a existência de políticas não garante sua implementação, especialmente em contextos de poucos recursos.Em termos comparativos, os pesquisadores também analisaram oito indicadores de prontidão do sistema de saúde pública para lidar com a obesidade. Apenas um país (Tonga) respondeu ‘sim’ a 12 dos 13 indicadores das duas categorias combinados, enquanto outros cinco países (México, Índia, Reino Unido, Finlândia e Malásia) responderam ‘sim’ a 11 dos 13 indicadores. Do total, 67 países não tiveram nenhum ou apenas 1 dos 13 indicadores avaliados positivamente.Segundo Fábio Trujilho, presidente da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica) e coordenador de Departamento de Obesidade da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), no Brasil a obesidade tem relação com menores níveis de educação e renda, segundo estudos.Isso significa que não basta indicar que as pessoas comam de forma saudável, é necessário criar o ambiente para que a alimentação natural e nutritiva seja mais acessível do que os ultraprocessados, por exemplo.Também entra na discussão a questão da segurança pública, que pode limitar a ida até espaços que promovem exercício físico. “Como é que você fala para um pai que a criança precisa se exercitar se ela não pode ir para a rua por causa da insegurança?”, questiona Trujilho.Como prevenção à obesidade, ele defende que medidas sejam tomadas na atenção básica do SUS (Sistema Único de Saúde).”Não é uma diretriz hoje, mas seria importante alguém que acompanhasse a jornada da pessoa, que identificasse a vulnerabilidade que ela tem em casa e como auxiliá-la nesse sentido. Porque muitas vezes ela vai a uma unidade básica de saúde e não recebe orientações de pessoas treinadas em relação a isso [atividade física].””Nós estamos vivendo em um ambiente obesogênico, ou seja, em que o sedentarismo muitas vezes prevalece, em que a alimentação ultraprocessada é mais barata, em que andar na rua é perigoso. Hoje você vê as pessoas só falando em emagrecimento com drogas. Não que os medicamentos não sejam importantes, mas a gente precisa pensar além”, diz Trujilho.Os dados da Federação Mundial da Obesidade não são os únicos que tratam do assunto: um estudo nacional apresentado em 2024 no Congresso Internacional sobre Obesidade (ICO), em São Paulo, apontava que, até 2044, 48% dos adultos brasileiros poderão atingir a obesidade e outros 27% o sobrepeso. Esse cenário representa um universo de 130 milhões de pessoas com um dos dois índices —ou 83 milhões com obesidade e 47 milhões com sobrepeso.
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