China, Canadá e México reagem a Trump e agravam guerra tarifária

O regime da China e os governos do Canadá e do México reagiram à implantação de tributos de importação pelos Estados Unidos, agravando a guerra tarifária que se iniciou em fevereiro deste ano, quando o presidente Donald Trump implantou uma taxa de 10% sobre produtos chineses e anunciou novas barreiras sobre outros bens e países.Nesta terça, os EUA dobraram para 20% as tarifas sobre produtos chineses e impuseram tributo de 25% sobre importados dos dois países vizinhos. China e Canadá retaliaram no mesmo dia, enquanto o México prometeu anunciar novas medidas no próximo domingo (9).À tarde, Trump ameaçou aumentar a tarifa recíproca ao Canadá após o país vizinho reagir e decidir retaliar a taxa de 25% cobrada sobre todos os produtos exportados aos Estados Unidos a partir desta terça. “Por favor, explique ao governador [primeiro-ministro Justin] Trudeau, do Canadá, que, quando ele impõe uma tarifa retaliatória sobre os EUA, nossa tarifa recíproca aumentará imediatamente na mesma proporção!”, escreveu Trump na sua rede social Truth Social, em tom irônico ao se referir a Trudeau novamente como governador.Conteúdo relacionadoItamaraty condena suspensão da ajuda comunitária em GazaLula diz que Zelensky foi humilhado por Trump: “cena grotesca”Trump teme Brics e ameaça taxar membros: “países hostis”A declaração indica que o presidente americano está disposto a escalar o embate comercial.O secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, afirmou que os preços podem subir com a disputa, mas que as tarifas podem ser removidas se os países mostrarem progresso em interromper o fluxo de fentanil. “Pode haver movimentos de preços a curto prazo, mas a longo prazo, será completamente diferente”, disse Lutnick em entrevista à emissora de televisão CNBC.MAIOR CARGA TRIBUTÁRIA DESDE 1943As tarifas elevam as taxas de importação do país ao seu nível médio mais alto desde 1943, de acordo com o Budget Lab da Yale, em levantamento reproduzido pela Bloomberg.Isso custaria até US$ 2.000 em gastos adicionais para as famílias norte-americanas. Também significará um crescimento econômico significativamente mais lento nos EUA, especialmente se outros países retaliarem, de acordo com um relatório publicado na segunda-feira.Com o temor da guerra comercial, o dólar se desvalorizou ante pares globais. Ao fim do pregão nos EUA, o índice do dólar dos EUA, que compara a moeda contra seis moedas de outros países, recuava 0,9% para 105,57 pontos, seu nível mais baixo desde dezembro.As Bolsas americanas também tiveram queda. O S&P 500 perdeu 1,22%, enquanto o Dow Jones recuava 1,55% e o Nasdaq, 0,35%. O mau-humor atingiu também papéis brasileiros no exterior: o EWZ, fundo de índice que acompanha as ações brasileiras, perdeu 0,95% em Nova York. As ADRs (recibos de ações) da Vale caíram 0,32% e as da Petrobras, 1,37% (no Brasil, Bolsa e mercado de dólar não funcionaram no Carnaval).A disputa tarifária dominou as discussões das empresas norte-americanas neste ano. Desde o início de 2025, mais de 750 das maiores empresas dos EUA discutiram o assunto em eventos para investidores ou em teleconferências de resultados, de acordo com dados da LSEG.Nas últimas semanas, algumas empresas correram para se antecipar às tarifas com a pré-encomenda de produtos, mas até agora os executivos têm adotado uma abordagem de esperar para ver os investimentos e despesas, já que Trump alterou seus planos de tarifas várias vezes desde que reassumiu o cargo.CHINA REAGE COM TAXAS SOBRE ALIMENTOSNa China, os ministérios das Finanças e do Comércio anunciaram a imposição de tarifas adicionais a produtos agrícolas e alimentos importados dos Estados Unidos, inclusive milho, algodão e soja. Nas três commodities, as vendas brasileiras para o país hoje superam as americanas.A medida chinesa entra em vigor no próximo dia 10. Será imposta uma tarifa adicional de 15% sobre frango, trigo, milho e algodão e de 10% sobre sorgo, soja, carne suína, bovina, produtos aquáticos, frutas, vegetais e laticínios. Paralelamente, foram listadas empresas americanas que passarão a ter restrições de exportação e investimento.O porta-voz do Ministério do Exterior da China, Lin Jian, afirmou durante coletiva diária poucas horas após o anúncio que Pequim vai jogar “até o fim”, repetindo declaração do chanceler Wang Yi há duas semanas, se Washington avançar com a guerra comercial.PRODUTOS AMERICANOS QUE SOFRERÃO TARIFA DA CHINAAlgodãoCarne bovinaCarne suínaGrãosFrangoFrutasFrutos do marLaticíniosLegumesMilhoSojaSorgoTrigoPor outro lado, também nesta terça, na abertura das chamadas Duas Sessões, evento anual com as lideranças chinesas que aponta a estratégia para o ano, inclusive em economia, o porta-voz da Assembleia Nacional Popular, Lou Qinjian, reiterou que China e EUA, “historicamente, ganham ao cooperar e perdem ao se confrontar”.”O importante é respeitar os interesses um do outro e encontrar uma solução apropriada”, acrescentou. “Nós esperamos trabalhar com o lado americano através de diálogo e consulta.”Um porta-voz do Ministério do Comércio pediu aos EUA “que retirem imediatamente as tarifas unilaterais irracionais”, argumentando: “Devemos retornar ao caminho em direção a negociações entre iguais, para resolver as diferenças”.Maior concorrente dos EUA na exportação de commodities agrícolas como soja, milho e algodão para a China, o Brasil pode ser beneficiado.Desde a eleição de Trump, o agronegócio brasileiro se prepara para ganhar ou perder espaço na China, com as tarifas propostas pelo presidente americano desde a campanha e com a eventual negociação que faça com Pequim para retirá-las.”Quanto mais [Trump] exagerar na dose, mais oportunidades eu vejo para o Brasil”, disse o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro. “Os EUA competem na área agrícola conosco, [Trump] pode fazer uma negociação e impor produtos agrícolas para a China”, disse a senadora Tereza Cristina, ex-ministra da pasta.Em janeiro, logo após sua posse e um telefonema com o líder chinês, Xi Jinping, o presidente americano chegou a responder, ao ser questionado pelo canal Fox News se faria um acordo comercial com a China: “Eu posso fazer isso”.Pequim também mostrou disposição para negociar o acordo, com o Ministério do Exterior dizendo que “os dois países têm enormes interesses comuns e espaço para cooperação” e com o vice-primeiro-ministro Ding Xuexiang acrescentando: “Nós não queremos superávit comercial. Nós queremos importar mais” dos EUA.Ao anunciar a aplicação de tarifas sobre produtos dos EUA já a partir desta terça, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, afirmou que “nada justifica essas medidas (dos EUA)”.”Se as tarifas dos Estados Unidos entrarem em vigor, o Canadá responderá a partir da meia-noite aplicando taxas de 25% sobre 155 bilhões de dólares canadenses (US$ 107,59 bilhões) em produtos americanos”, afirmou o premiê. Clique aqui para ver a lista completa de produtos.A tarifa sobre produtos que movimentam até 30 bilhões de dólares canadenses (US$ 20,82 bilhões) já passa a valer nesta terça, enquanto os impostos sobre 125 bilhões de dólares canadenses (US$ 86,77 bilhões) terão início em até 21 dias, caso os impostos dos EUA prossigam até lá.Durante o mês passado, Trudeau afirmou que a medida teria como alvo a cerveja norte-americana, o vinho, o bourbon, os eletrodomésticos e o suco de laranja da Flórida. Porém, no mesmo mês, o governo do Canadá havia divulgado que a medida seria aplicada para vários produtos como carne, legumes, laticínios, utensílios domésticos, eletrônicos e até aviões.Na ocasião, a medida foi suspensa, já que houve um acordo entre as partes.Os únicos bens a serem isentos dos 25% que Trump cobrará do Canadá são o petróleo e produtos energéticos do país, que terão tarifa de 10%. O Canadá é o maior fornecedor estrangeiro de petróleo para os EUA, representando cerca de 60% de suas importações de petróleo bruto.O ministro de energia e recursos naturais do Canadá, Jonathan Wilkinson, afirmou nesta segunda que os americanos vão experimentar alta no preço de energia e gasolina com as novas tarifas.”Veremos preços mais altos de gasolina como uma função da energia, preços mais altos de eletricidade da hidreletricidade do Canadá, preços mais altos de aquecimento residencial associados ao gás natural que vem do Canadá e preços mais altos de automóveis”, afirmou o ministro em entrevista à CNBC.Nesta segunda, ao confirmar a imposição de tarifas, Trump disse que as taxas só seriam amenizadas caso os países transferissem duas fábricas e manufatura para dentro dos EUA.”Então, o que eles têm que fazer é construir suas fábricas de automóveis, francamente, e outras coisas nos Estados Unidos, caso em que não terão tarifas”, disse ele.PRODUTOS DOS EUA QUE SOFRERÃO TARIFAS DO CANADÁCervejaEletrodomésticosEquipamentos esportivosGeladeirasLavadoras de pratosMadeiraManteiga de amendoimMelMóveisPerfumesPlásticoProdutos de porcelana, como vasos sanitários e banheirasRoupasSapatosTomatesUísqueVegetaisVinhoPRESIDENTE DO MÉXICO PROMETE ANÚNCIO EM PRAÇA PÚBLICAEm sua entrevista à imprensa diária, a presidente do México, Claudia Sheinbaum, disse que “não há motivo, razão ou justificativa” para as tarifas de 25% impostas pelo governo de Donald Trump sobre as importações de produtos mexicanos.Sheinbaum afirmou que o governo está preparando medidas “tarifárias e não tarifárias” em retaliação à taxação de 25% impostas pelo governo de Donald Trump. A lista de produtos, segundo ela, será anunciada no domingo (9) em um evento público na praça central da Cidade do México.A presidente mexicana também afirmou que o México é um país “soberano”, mas que não quer iniciar um confronto comercial com os Estados Unidos.Quer ver mais notícias? Acesse nosso canal no WhatsAppO CALENDÁRIO DAS TARIFAS DE TRUMPJá implantadas4.fev – 10% sobre todas as importações da China4.mar – 10% adicionais sobre todas as importações da China4.mar – 25% sobre todas as importações do México4.mar – 25% sobre a maioria das importações do Canadá, com redução para energia/combustíveisPrevistas12.mar – 25% sobre importação de aço e alumínio2.abr – alíquota não especificada sobre todos os produtos agrícolas2.abr – alíquota não especificada sobre veículos estrangeirosPode haver novas tarifas sobre importações de cobre e madeira, ainda sem data especificad
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