Comprado por R$ 1 mi, casarão da família Moreira vive abandono na Grande Florianópolis

O casarão da família Moreira, localizado na rua Getúlio Vargas, 2870, no Centro Histórico de São José, está em estado de abandono. Adquirido pela prefeitura, em 2015, por R$ 1 milhão, o imóvel foi tombado em 2005, por sua relevância histórica e arquitetônica para a cidade. No entanto, passados quase dez anos, nenhuma obra de restauração foi iniciada.

Casarão da família Moreira, em São José, visto de fora

Casarão da família Moreira, em São José, segue sem restauro e em estado de abandono – Foto: Divulgação/ND

Moradores do entorno denunciam a situação precária do casarão, que tem paredes pichadas, vegetação alta e estruturas comprometidas. José Ricardo Koerich, que já foi presidente da Associação do Centro Histórico de São José por muitos anos e mora próximo ao terreno, levantou essa questão e expressou sua frustração com o abandono do patrimônio.

“Já houve várias invasões, chamam a polícia, a polícia vai lá e tira os caras. Daqui a pouco invadem de novo, chamam a polícia, tiram os caras, e assim está. No ano passado, em outubro, eu fiz a denúncia na prefeitura, mas disseram que era com a Defesa Civil. Fui à Defesa Civil e eles disseram que não tinham nada a ver com a história. A grande verdade é que, do jeito que está indo, aquilo ali vai cair. Porque, além de tudo, está chovendo dentro.”

Projeto nunca foi concretizado

O vereador Caê Martins (PT), superintendente da Fundação de Cultura de São José na época da aquisição do casarão, relembrou que a compra do imóvel foi motivada também pela falta de manutenção por parte dos herdeiros.

“O casarão estava em risco, e a desapropriação foi uma medida necessária para evitar sua perda. Nossa ideia era restaurá-lo e transformá-lo em um espaço cultural ativo para a comunidade. Chegamos a discutir a possibilidade de sediar ali a gestão da cultura municipal, transferindo para o local a biblioteca e o arquivo histórico, que hoje funcionam em imóveis alugados.”

Ele explica que nos primeiros anos após a aquisição, algumas medidas de preservação foram tomadas, já que o município não tinha condições de fazer uma restauração imediata.

“No início, conseguimos manter a área limpa, instalamos luminárias externas para reforçar a segurança e fizemos um acompanhamento mínimo da estrutura.” No entanto, não ocorreram novas fases que possibilitariam a restauração do espaço.

Casarão da família Moreira, em São José, visto de fora

Projetos de restauração e cuidado contínuo do espaço não foram concretizados – Foto: Divulgação/ND

Atualmente, segundo ele, um diálogo já foi iniciado com o secretário de Cultura e Turismo, Toninho da Silveira. “Esse diálogo tem sido muito produtivo, porque está dentro da garantia das políticas públicas de cultura. E dentro dessas políticas, a preservação do patrimônio histórico é essencial. […] O Casarão Moreira faz parte desse contexto, e nosso papel enquanto fiscalização é garantir sua preservação e a destinação adequada.”

Martins continuou. “Sabemos do tamanho do desafio que é a questão do restauro, porque ele é um prédio grande. Um restauro não é algo barato, mas existe um investimento que haverá um retorno de médio a longo prazo. […] Hoje, a prefeitura aluga um imóvel no Centro Histórico. Por que não restaurar e utilizar um prédio que já pertence ao município?”, questionou. “

O casarão poderia servir não só como sede da gestão cultural, mas também para a ampliação do arquivo histórico, que hoje precisa de mais espaço”, concluiu.

Questionada sobre a manutenção e destinação do imóvel, a Prefeitura de São José respondeu, em nota, que “a sua limpeza é realizada periodicamente pelas equipes da Secretaria de Infraestrutura”, além de informar que “o município analisa a destinação do imóvel.”

Situação do Casarão da família Moreira já foi tema de reportagens do Grupo ND

A situação do casarão já foi tema de reportagens anteriores do ND. Em 2015, quando a prefeitura adquiriu o imóvel, a então Fundação de Cultura de São José, hoje Secretaria de Cultura e Turismo, afirmou que a medida tinha como objetivo evitar a demolição de patrimônios históricos, citando casos anteriores, como a destruição, em 2010, de um casarão do século XIX, que deu lugar a um estacionamento.

Em 2016, quase um ano após a aquisição, a prefeitura afirmou ao ND que ainda não havia previsão para iniciar o restauro, pois a prioridade era a restauração do Teatro Adolpho Mello.

Casarão da família Moreira, em São José, visto de fora

Imbróglio envolvendo o Casarão da família Moreira já foi tema de reportagens do Grupo ND – Foto: Divulgação/ND

Na ocasião, a administração municipal afirmou que estudava três destinações para o casarão, todas elas voltadas para um equipamento cultural: um centro de formação artística, uma galeria de arte ou a sede da Fundação de Cultura. Porém, nenhum desses planos foi concretizado até agora.

A edificação, que possui cobertura de telha colonial, aberturas com guilhotina em vidros de caixilho pequeno e uma base de pedra elevada em relação à via, foi comprada em 1930 por Jaú Guedes da Fonseca, então secretário particular de Nereu Ramos.

Durante décadas, o casarão foi palco de intensa atividade política e social, abrigando figuras influentes do cenário político catarinense. O último morador foi José Henrique Moreira, que viveu ali por quase toda a sua vida.

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