Como os brasileiros estão ‘driblando’ a alta nos preços do feijão e café?

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A inflação dos alimentos tem afetado diretamente a mesa dos brasileiros, forçando muitas famílias a adotarem novas estratégias para driblar os altos preços. Ionara de Jesus, moradora do Parque Santo Antônio, em São Paulo, é um exemplo dessa realidade.

Com três filhos e um orçamento apertado, ela precisou mudar hábitos alimentares e encontrar alternativas para garantir comida na mesa.

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Imagem: stevepb / Pixabay

Inflação dos alimentos: um desafio crescente

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação dos alimentos atingiu 7,69% no último ano, um aumento expressivo em relação aos 1,11% registrados em 2023. Mesmo com uma leve desaceleração nos últimos meses, a alta dos preços continua impactando o dia a dia das famílias brasileiras.

Produtos básicos como arroz, feijão, leite e carne registraram aumentos significativos, tornando-se um grande desafio para quem já tem dificuldades financeiras.

A alimentação representa um dos principais gastos das famílias brasileiras, principalmente para aquelas de baixa renda. Com os preços subindo, muitas pessoas têm precisado reorganizar suas compras e reduzir o consumo de determinados produtos, priorizando alimentos mais baratos e acessíveis. Além disso, a busca por promoções e mercados populares se tornou parte da rotina de muitos consumidores.

Causas da inflação alimentar

De acordo com o economista André Braz, do FGV-Ibre, diversos fatores explicam essa inflação:

  • Resquícios da pandemia de covid-19: A crise sanitária afetou a produção e a logística dos alimentos, provocando um desequilíbrio na oferta e demanda. Esse impacto ainda é sentido no setor agropecuário.
  • Questões climáticas: Secas e enchentes prejudicaram colheitas de produtos essenciais, como café e azeite, reduzindo a oferta e elevando os preços.
  • Valorização do dólar: O aumento da cotação da moeda norte-americana impacta os preços dos insumos importados, como fertilizantes e rações para animais, elevando o custo final dos alimentos.
  • Aumento dos combustíveis: A alta dos preços dos combustíveis encarece o transporte de mercadorias, o que reflete diretamente no valor dos alimentos nas prateleiras dos supermercados.

Estratégias para economizar na alimentação

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Imagem: Andrzej Rostek/shutterstock.com

Diante do aumento dos preços, os brasileiros estão adotando diferentes estratégias para economizar e garantir uma alimentação adequada para suas famílias. Entre as principais mudanças de comportamento estão:

Substituição de alimentos

A troca de produtos tradicionais por alternativas mais acessíveis se tornou comum. Algumas substituições incluem:

  • Feijão tradicional por feijão fradinho, que custa quase a metade do preço.
  • Café por chás, reduzindo o consumo de cafeína e economizando.
  • Carne bovina por frango, suã e carcaça de frango, opções mais baratas e nutritivas.
  • Manteiga por margarina, que tem um preço mais acessível.
  • Leite integral por leite em pó, permitindo maior controle da quantidade utilizada.

Redução de desperdício

O aproveitamento máximo dos alimentos tem sido uma prática crescente. Algumas ações incluem:

  • Reaproveitamento de sobras: O arroz do dia anterior pode se transformar em bolinhos, enquanto cascas de legumes podem ser usadas em caldos e sopas.
  • Aumento do rendimento das refeições: Ionara, por exemplo, adiciona água ao feijão requentado para aumentar a quantidade. Já Luiz Benedito, motorista de aplicativo, compra produtos em grandes embalagens para garantir maior rendimento e evitar múltiplas idas ao supermercado.
  • Congelamento de alimentos: Muitas famílias estão congelando carnes e vegetais para evitar desperdícios e garantir um estoque maior de comida por um período mais longo.

Mudanças nos hábitos de consumo

Além das trocas e da redução do desperdício, muitos consumidores têm alterado sua forma de comprar. A gestora de marketing Marcella Dragone, da Vila Madalena, não abre mão de alimentos saudáveis, mas passou a priorizar marcas nacionais e a comprar certos produtos apenas quando recebe visitas. Já outras famílias optam por fazer compras em feiras livres ou mercados de bairro, onde os preços costumam ser mais acessíveis do que nos grandes supermercados.

Impactos da inflação na segurança alimentar

A alta dos preços dos alimentos não afeta apenas o orçamento das famílias, mas também tem consequências graves para a segurança alimentar no país. A advogada Léa Vidigal, autora do livro Direito Econômico e Soberania Alimentar, alerta para os riscos da falta de acesso às proteínas:

  • Deficiência nutricional: O consumo reduzido de carnes e laticínios pode comprometer o desenvolvimento infantil e a saúde de idosos e gestantes.
  • Desigualdade alimentar: Enquanto classes mais altas conseguem manter o consumo de alimentos frescos e saudáveis, as famílias de menor renda acabam optando por produtos ultraprocessados, que são mais baratos, mas menos nutritivos.
  • Aumento da insegurança alimentar: Segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN), cerca de 33 milhões de brasileiros enfrentam algum grau de insegurança alimentar, com dificuldades para garantir refeições diárias.

Medidas do governo para conter a inflação

Imagem de uma pessoa analisando recibos em um mercado
Imagem: Denys Kurbatov/Shutterstock.com

Nos últimos meses, o governo federal adotou medidas para tentar frear a alta dos preços. Entre as ações implementadas, destacam-se:

  • Isenção de impostos sobre produtos básicos, como café, azeite e sardinha, para reduzir os preços nas prateleiras.
  • Ampliação do Programa de Alimentação Escolar (PNAE), garantindo refeições nutritivas para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade.
  • Apoio à agricultura familiar, com incentivos à produção de pequenos produtores para fortalecer a oferta interna de alimentos.

Porém, especialistas afirmam que essas medidas têm efeito limitado se não forem acompanhadas de um maior controle fiscal e de incentivos à produção agrícola. O economista André Braz destaca que uma solução a longo prazo passa pela estabilização da economia e pelo fortalecimento da produção nacional, reduzindo a dependência de importações.

Imagem: Freepik/Edição: Seu Crédito Digital

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