Data centers: Brasil precisa agir para não perder janela de oportunidade

Por Claudio Gonçalves*

O setor de data centers está crescendo exponencialmente, impulsionado por avanços em inteligência artificial (IA), computação em nuvem e o crescimento do volume de dados. No Brasil, essa expansão vai enfrentar desafios significativos, especialmente no acesso à energia, infraestrutura digital e regulação.

Para que o País não perca mais esta janela de oportunidade, serão necessários uma adaptação regulatória e novos modelos de incentivo, sem os quais o Brasil pode não se consolidar como um hub de data centers na América Latina. Mas qual o tamanho desta oportunidade? O mercado global de data centers está projetado para ultrapassar US$ 500 bilhões até 2030, com forte crescimento nos EUA, Europa e Ásia. No Brasil, os investimentos devem superar R$ 50 bilhões na próxima década, impulsionados por empresas como Google, AWS, Microsoft e Ascenty.

Neste contexto, o Brasil oferece uma série de atrativos para estes investimentos, tais como matriz energética renovável: a energia brasileira é majoritariamente hidrelétrica, eólica e solar, o que é um diferencial importante para empresas focadas em ESG. Ele também conta com demanda crescente por computação em nuvem e IA, com empresas de todos os setores acelerando sua digitalização; localização estratégica, o que pode torná-lo um hub de dados para toda a América Latina.

Por outro lado, o País ainda enfrenta barreiras significativas que dificultam novos investimentos. No setor de infraestrutura elétrica e custo de energia, contamos com capacidade de produção, mas a distribuição da rede e a burocracia para novas conexões criam gargalos para data centers. Além disso, o tempo para garantir fornecimento estável de energia pode ser um impeditivo para grandes projetos.

Na área de conectividade, nossa malha de fibra óptica e infraestrutura de telecomunicações precisam de melhorias para garantir baixa latência e eficiência operacional. E, quando falamos em tributação, a carga elevada e a burocracia no licenciamento ambiental e urbanístico encarecem projetos. Além disso, falta uniformidade regulatória, com cada estado adotando regras diferentes e tornando a expansão mais complexa.

Tudo isso indica que a regulação do setor precisa evoluir para que o Brasil seja competitivo no mercado global. Essa evolução deveria começar por alguns pontos urgentes. Um deles é a reforma no acesso à energia, que deve trazer simplificação do processo de conexão elétrica para novos data centers; estimular o uso de fontes renováveis e autoprodução de energia, reduzindo a dependência da rede pública; e incentivar PPAs (Power Purchase Agreements) para garantir previsibilidade de custos.

Outro ponto é a atualização da Regulação Ambiental e Urbanística, permitindo a harmonização das regras de licenciamento ambiental para reduzir prazos sem comprometer sustentabilidade e a revisão das normas para uso de água e emissões de carbono, garantindo equilíbrio entre crescimento e impacto ambiental. Também são necessários incentivos Tributários e Financeiros que permitam a criação de zonas de incentivo fiscal para atrair investimentos em infraestrutura digital; a redução da tributação sobre equipamentos de data centers, estimulando a adoção de tecnologias mais eficientes; e o financiamentos subsidiados para construção de infraestruturas críticas de conectividade.

Por fim, para transformar todo este potencial em realidade, o País precisa de uma agenda conjunta entre setor privado e governo que priorize investimentos em infraestrutura elétrica e de telecomunicações e crie um ambiente regulatório mais previsível e eficiente, permitindo a expansão do uso de energias renováveis e práticas ESG e a simplificação da tributação e incentivos para novos projetos. O fato é que a digitalização da economia depende da expansão dos data centers, mas sem ajustes regulatórios e estratégicos, o Brasil pode perder espaço para outros mercados latino-americanos.

E o momento de colocar estas medidas em prática é agora, porque a demanda por data centers só tende a crescer e o Brasil ainda precisa superar estes desafios. O setor privado já está investindo pesado, mas sem mudanças no modelo energético, tributário e regulatório, a expansão pode ser mais lenta e custosa do que deveria.

*Claudio Gonçalves é sócio da Kearney especializado no setor de Utilities

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