Classe média sofre com a crise: poder de compra diminui e consumo muda

Nos últimos cinco anos, a classe média brasileira passou por uma transformação econômica profunda, marcada pela redução de renda e a mudança nos hábitos de consumo. O orçamento mais apertado, somado às consequências da pandemia de Covid-19, resultou em uma diminuição significativa da renda disponível para consumo, especialmente para as famílias da classe C.

Segundo levantamento da consultoria Tendências, a renda disponível para consumo da classe C caiu quase 10%, passando de R$ 286 milhões para R$ 259 milhões.

Este cenário reflete uma realidade de escolhas difíceis para muitas famílias que, diante da inflação elevada, da alta taxa de desemprego e do aumento dos preços dos alimentos, foram forçadas a revisar seus hábitos de consumo.

A classe média brasileira, antes consumidora ativa de produtos como eletrodomésticos, carros novos e planos de saúde, passou a repensar suas prioridades. O que era antes considerado essencial, agora foi relegado a segundo plano.

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O encolhimento da classe média: como a pandemia intensificou a desigualdade

A classe média brasileira, especialmente a classe C, foi fortemente impactada pela crise econômica e pela pandemia. De acordo com Márcio Pochmann, professor de economia da Unicamp, a pandemia contribuiu para aumentar a polarização entre a classe média alta e a classe média baixa, criando uma lacuna significativa entre essas duas camadas sociais.

“A crise aumentou a desigualdade e muitas famílias da classe média baixa passaram a se assemelhar mais à classe baixa”, explicou Pochmann.

Além disso, a taxa de desemprego no Brasil, que no trimestre encerrado em janeiro foi de 14,2%, a mais alta desde o início da série histórica do IBGE, afetou diretamente a classe média. Com uma parte significativa da classe C sendo composta por trabalhadores, o desemprego agravou ainda mais a queda da renda, e a recuperação econômica do país tem sido lenta.

Mudanças no consumo: a classe média cortando despesas essenciais

Com menos dinheiro disponível, a classe média foi forçada a cortar despesas não essenciais. De acordo com Isabela Tavares, economista da Tendências Consultoria, muitos itens que antes faziam parte do orçamento familiar foram eliminados da lista de compras, como:

• Roupas: As compras de roupas deixaram de ser prioridade, uma vez que o orçamento precisou ser redirecionado para despesas básicas, como alimentação e transporte.
• Carros novos: A venda de veículos novos sofreu uma queda significativa durante a pandemia, e muitos consumidores passaram a optar por carros usados ou seminovos, quando essas aquisições ainda cabiam no orçamento.
• Eletrodomésticos: A compra de novos eletrodomésticos foi adiada, já que as famílias preferiram preservar o dinheiro para gastos mais urgentes.
• Plano de saúde: Muitos brasileiros reduziram ou cortaram seus planos de saúde devido ao alto custo, buscando alternativas mais baratas ou se deslocando para o Sistema Único de Saúde (SUS).

Alta dos preços dos alimentos: um dos maiores desafios para a classe média

Outro impacto significativo para as famílias de classe média foi o aumento do custo de vida, especialmente com a alta nos preços dos alimentos.

O índice Custo de Vida por Classes Sociais de março mostrou que, nos últimos 12 meses, o custo de alimentação da classe C na Região Metropolitana de São Paulo teve uma variação de 12,4%. Para a classe A, a variação foi de 9,34%. Esses aumentos afetaram diretamente o poder de compra das famílias, tornando as compras no supermercado uma preocupação crescente.

A inflação alta, combinada com o dólar elevado, também teve um impacto direto nas contas domésticas. Muitos consumidores se viram obrigados a comprar menos produtos ou a trocar itens de marca por opções mais baratas.

O mercado de carros: de novos para usados

A crise econômica e a alta nos preços dos carros novos também impactaram o mercado de veículos no Brasil. A Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) informou que a venda de carros novos caiu 23% entre 2008 e 2020, passando de 2 milhões para 1,6 milhão de unidades vendidas. Para 2021, a retração foi de 6,5% no comparativo com o mesmo período do ano anterior.

Com menos recursos para investir em um carro novo, as famílias de classe média buscaram alternativas, como carros seminovos ou usados, que passaram a ser uma opção viável dentro do orçamento mais apertado. A oferta limitada de carros novos também foi um fator importante para essa mudança no consumo.

Impacto no turismo: menos viagens e lazer

Outro setor duramente afetado pela crise foi o de turismo. De acordo com a Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), a pandemia causou uma nova queda no número de brasileiros que viajaram por agências de turismo, após um breve período de recuperação nos anos de 2018 e 2019. Isso está diretamente relacionado à queda da renda disponível e à incerteza quanto ao futuro econômico.

Com a impossibilidade de viajar para destinos internacionais ou até mesmo nacionais, muitas famílias tiveram que cortar as viagens de lazer e priorizaram os gastos essenciais, como saúde e alimentação.

O futuro da classe média: perspectivas de recuperação

Embora o cenário atual seja desafiador, existem perspectivas para uma recuperação da classe média no futuro. Guilherme Dietze, assessor econômico da FecomercioSP, acredita que a vacinação em massa e a retomada da economia poderão trazer alívio para a classe média nos próximos anos.

No entanto, ele alerta que a recuperação será lenta e dependerá de investimentos públicos no setor produtivo e de uma estabilização da economia brasileira.

Ainda assim, os desafios fiscais e a deterioração do poder de compra da classe média continuam a ser obstáculos significativos. A desigualdade social, aumentada pela pandemia, poderá perdurar por um longo período, e a classe média precisará se adaptar a essa nova realidade, onde as escolhas de consumo serão mais limitadas.

Os novos desafios da classe média brasileira

O encolhimento da classe média brasileira é um reflexo de uma série de fatores econômicos, como a inflação elevada, o desemprego, a alta dos preços e a pandemia de Covid-19.

As famílias da classe C tiveram suas finanças profundamente afetadas, e isso resultou em mudanças drásticas nos hábitos de consumo. O que antes era considerado essencial, agora passou a ser cortado ou substituído por alternativas mais baratas.

No entanto, a classe média brasileira segue adaptando-se à crise econômica, com esperança de uma recuperação gradual nos próximos anos. Será necessário que o país adote medidas para reverter a deterioração do poder de compra e incentivar o crescimento do setor produtivo para que a classe média volte a ter uma participação ativa na economia.