Alckmin sugere retirar alimentos do cálculo da Selic para estimular a economia

Alckmin sugere retirar alimentos do cálculo da Selic para estimular a economia

O presidente em exercício e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, sugeriu que o Banco Central (BC) exclua a inflação de alimentos e energia ao definir a taxa básica de juros, a Selic. A declaração foi feita durante um evento promovido pelo jornal Valor Econômico e levanta um importante debate sobre a política monetária brasileira.

Contexto da declaração

Geraldo Alckmin
Imagem: BW Press / shutterstock

A fala de Alckmin ocorre em um momento em que a taxa Selic está fixada em 14,25% ao ano, patamar considerado elevado e que encarece o custo do capital. Ele citou como referência o Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, que exclui alimentos e energia do cálculo da taxa de juros.

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De acordo com Alckmin, esses itens são impactados por fatores externos e não possuem uma relação direta com a política monetária. Dessa forma, uma Selic alta poderia prejudicar a economia sem resolver o problema da inflação nesses setores.

Impacto dos preços de alimentos e energia na inflação

Os preços dos alimentos e da energia são altamente voláteis e dependem de variáveis fora do controle do Banco Central. Entre os principais fatores estão:

  • Clima: Secas, chuvas excessivas e outros eventos climáticos podem reduzir a oferta de alimentos, elevando seus preços.
  • Geopolítica: Conflitos internacionais podem afetar o preço do petróleo e, consequentemente, a energia.
  • Oferta e demanda global: O mercado global de commodities influencia diretamente os preços internos.

Inflação e o papel do Banco Central

A principal meta do Banco Central é manter a inflação sob controle, assegurando a estabilidade econômica. Contudo, quando a inflação é causada por fatores externos, elevar a taxa Selic pode não ser a resposta mais eficaz para resolver o problema.

Alckmin argumenta que, ao aumentar a Selic para conter esses aumentos, a medida pode prejudicar a atividade econômica sem reduzir efetivamente os preços dos alimentos e da energia.

Debate sobre a eficiência da Selic

Quando a Selic sobe:

  • O consumo e os investimentos diminuem à medida que o crédito se torna mais caro.
  • Os juros da dívida pública aumentam, encarecendo o custo para o governo.
  • A inflação tende a cair, mas o crescimento econômico também pode ser afetado.

Quando a Selic é reduzida:

  • O custo do crédito diminui, incentivando tanto o consumo quanto a produção.
  • O governo gasta menos com os juros da dívida.
  • Pode haver pressão inflacionária devido ao aumento da demanda.

Impacto da Selic na dívida pública

Alckmin também destacou que cada aumento de 1 ponto percentual na Selic representa um custo adicional de cerca de R$ 48 bilhões para os cofres públicos. Esse valor é significativo e pode dificultar a gestão fiscal do governo, limitando investimentos em áreas essenciais.

Comparando com a política monetária dos EUA

Nos Estados Unidos, o Federal Reserve adota um modelo diferente, no qual os índices de inflação excludente (“core inflation”) desconsideram os preços dos alimentos e da energia. Isso permite que a política monetária seja conduzida de maneira mais flexível, focando em variáveis que realmente podem ser controladas pelos juros.

A adoção de uma estratégia semelhante no Brasil poderia mitigar os impactos negativos de uma Selic alta sobre o crescimento econômico, mantendo o foco em elementos mais estruturais da inflação.

Reações do mercado e especialistas

imposto de renda
Imagem: Billion Photos / shutterstock.com

A proposta de Alckmin gerou diferentes reações entre economistas e investidores. Alguns defendem que a exclusão de alimentos e energia poderia tornar a política monetária mais eficiente, enquanto outros temem que isso possa comprometer a credibilidade do Banco Central no controle da inflação.

Analistas também destacam que essa medida exigiria uma mudança na forma como o Conselho Monetário Nacional define a meta de inflação, o que poderia levar tempo para ser implementado.

Considerações finais

A sugestão de Alckmin de retirar alimentos e energia do cálculo da Selic levanta um debate importante sobre a condução da política monetária no Brasil. Embora haja argumentos sólidos a favor da proposta, sua viabilidade depende de uma análise aprofundada e de mudanças na estrutura do sistema de metas de inflação.

Com a Selic em um patamar elevado, a preocupação com o impacto dos juros sobre o crescimento econômico e as contas públicas se torna cada vez mais relevante. O debate sobre a eficiência da política monetária brasileira continuará a evoluir nos próximos meses, especialmente diante dos desafios econômicos globais e internos.

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