Funcionários da Petrobras decidem por greve de 24 horas na próxima quarta-feira

CONCURSO PUBLICO

Funcionários da Petrobras aprovaram em assembleia uma greve de 24 horas para a quarta-feira (26), em protesto contra a decisão da empresa de reduzir o regime de teletrabalho. A mobilização, articulada pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), representa uma medida de advertência diante do que a categoria considera uma política autoritária da atual gestão da estatal.

A paralisação tem como foco central a defesa do modelo híbrido com dois dias presenciais por semana, adotado durante e após a pandemia. A Petrobras, no entanto, anunciou no início de janeiro que o comparecimento presencial dos funcionários será aumentado para três dias por semana.

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Fachada de um posto de combustível com logo da Petrobras
Imagem: SERGIO V S RANGEL / Shutterstock.com

Entenda o motivo da greve

A principal motivação da paralisação é a insatisfação dos trabalhadores com a nova política de teletrabalho da Petrobras. A medida foi anunciada em 9 de janeiro de 2025, e, de acordo com a estatal, não se aplica a pessoas com deficiência (PCDs) e seus responsáveis. Para os demais, o retorno presencial passa a ser obrigatório em três dias da semana, alterando o regime atual de dois dias.

Críticas à decisão

A FUP afirma que a mudança foi implementada sem diálogo com os sindicatos e sem apresentar dados técnicos que comprovem a necessidade da alteração. A entidade classifica a postura da presidente da Petrobras, Magda Chambriard, como autoritária, acusando a direção da empresa de enfraquecer os fóruns de negociação coletiva.

“A greve é uma resposta à falta de diálogo e à forma impositiva como as decisões estão sendo tomadas pela atual gestão”, declarou a FUP em comunicado oficial.

A posição do Sindipetro-RJ e da FNP

Embora o movimento tenha sido puxado pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), outras entidades da categoria também se posicionaram contra a medida da estatal. É o caso do Sindipetro-RJ, filiado à Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), que também criticou a decisão da Petrobras.

Em entrevista ao portal Poder360, o diretor do Sindipetro-RJ, Antony Devalle, afirmou que não há evidências de queda na produtividade desde a adoção do modelo híbrido com dois dias presenciais. Segundo ele, a estatal não apresentou estudos técnicos ou dados concretos que justifiquem a medida.

“A produtividade se manteve alta desde a pandemia, e os resultados da empresa continuam excelentes. Questionamos a Petrobras sobre a base dessa decisão, mas até agora só recebemos respostas genéricas”, disse Devalle.

FUP x FNP: as duas federações dos petroleiros

Fachada do prédio da Petrobras, com foco no logo da empresa.
Imagem: Simon Mayer / shutterstock.com

A greve de 24 horas convocada para o dia 26 de março tem origem na FUP, mas encontra apoio em parte das bases da FNP, mesmo que não seja uma ação conjunta formal entre as duas federações.

Como são compostas as federações:

  • FUP (Federação Única dos Petroleiros): reúne 13 sindicatos regionais e é ligada à CUT (Central Única dos Trabalhadores);
  • FNP (Federação Nacional dos Petroleiros): agrega 5 sindicatos, entre eles o Sindipetro-RJ, com atuação mais crítica e autônoma em relação à direção da estatal.

Embora existam divergências políticas e estratégicas entre as duas entidades, ambas têm criticado publicamente as mudanças no teletrabalho e o estilo de gestão de Magda Chambriard.

Impactos da greve na quarta-feira

Como se trata de uma greve de advertência de 24 horas, os impactos diretos na operação da Petrobras devem ser pontuais, mas simbolicamente fortes. Os sindicatos afirmam que haverá atos em refinarias, unidades administrativas e prédios corporativos da estatal em todo o país.

Entre as atividades previstas estão:

  • Paralisações nos turnos de trabalho
  • Atos públicos nas entradas das refinarias
  • Campanhas nas redes sociais com a hashtag #RespeitoAoTeletrabalho
  • Entrega simbólica de documentos denunciando o autoritarismo na gestão

A mobilização também pretende chamar a atenção da sociedade e do governo federal sobre os rumos da maior empresa pública do país.

Por que o teletrabalho virou pauta central?

Durante a pandemia de Covid-19, a Petrobras — assim como várias outras empresas — adotou o home office em larga escala. Após a crise sanitária, o modelo foi mantido parcialmente, com retorno híbrido de dois dias presenciais por semana.

Segundo os sindicatos, o modelo atual vem funcionando bem tanto para a empresa quanto para os trabalhadores, equilibrando produtividade e qualidade de vida. A decisão de ampliar os dias presenciais, na visão da categoria, representa um retrocesso e desrespeita acordos prévios.

Benefícios do modelo híbrido segundo os trabalhadores:

  • Redução de custos com transporte e alimentação
  • Mais tempo para convívio familiar
  • Aumento da motivação e da produtividade
  • Diminuição do estresse e de problemas de saúde relacionados ao deslocamento

Para a FUP e o Sindipetro-RJ, a Petrobras desconsidera esses fatores ao tomar uma decisão unilateral, sem apresentar justificativas técnicas.

O que diz a Petrobras

Procurada pela imprensa, a Petrobras não se pronunciou diretamente sobre a greve, mas, em notas anteriores, defendeu que a revisão do regime de trabalho presencial visa melhorar a integração das equipes, fortalecer a cultura organizacional e otimizar processos internos.

A empresa afirma que a nova política foi construída com base em práticas de mercado e experiências observadas em empresas do setor de energia, nacionais e internacionais. No entanto, não apresentou dados quantitativos ou estudos específicos sobre produtividade.

Histórico de embates entre sindicatos e a gestão atual

Desde a posse de Magda Chambriard como presidente da Petrobras, os sindicatos têm relatado aumento da tensão nas relações com a empresa. A FUP acusa a nova gestão de dificultar o diálogo, ignorar pautas importantes e buscar enfraquecer o poder de negociação dos trabalhadores.

Essa não é a primeira vez que medidas internas da Petrobras causam revolta entre os petroleiros. Nos últimos meses, outras ações da diretoria também geraram insatisfação:

  • Mudanças nos contratos de trabalho sem consulta prévia;
  • Atrasos em negociações de reajuste salarial;
  • Falta de transparência em relação aos planos de reestruturação.

A greve de 24 horas, portanto, não é um ato isolado, mas sim parte de um crescente clima de insatisfação com a condução da estatal.

Efeitos políticos e institucionais

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Imagem: Alf Ribeiro/shutterstock.com

Embora o governo federal ainda não tenha se posicionado sobre a greve, o movimento ganha relevância política por envolver uma empresa pública estratégica e por ocorrer num momento em que a gestão da Petrobras tem sido cobrada por maior diálogo com os trabalhadores.

A expectativa dos sindicatos é que o movimento sirva como alerta para o Palácio do Planalto sobre os rumos da empresa e a necessidade de reconstruir canais efetivos de negociação.

Reprodução: Seu Crédito Digital/Freepik

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