
A BB Seguridade, holding vinculada ao Banco do Brasil, tem enfrentado sérias acusações de assédio moral envolvendo sua área de Controles Internos e Integridade, responsável por combater irregularidades e promover a ética no ambiente corporativo. Nos últimos meses, três funcionários deste setor se afastaram de suas funções devido a problemas de saúde mental, com alegações de perseguições e práticas abusivas por parte de seus superiores.
Esses afastamentos, que ocorreram ao longo de 2024, levantaram preocupações sobre a integridade da empresa, a transparência em seus processos internos e a eficácia do setor de combate à corrupção. O Ministério Público do Trabalho (MPT) em Brasília já iniciou uma investigação preliminar para apurar as denúncias, e os detalhes dos incidentes têm sido revelados a partir de depoimentos que chegaram à imprensa.
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O desmonte da Superintendência de Controles Internos e Integridade

A Superintendência de Controles Internos e Integridade (SCI) da BB Seguridade foi criada para monitorar a conformidade das operações da empresa, especialmente no que diz respeito à ética, governança e combate à corrupção. Contudo, desde o início de 2024, o setor tem sido alvo de críticas internas, com a alegação de que o ambiente de trabalho se tornou hostil e que os funcionários estavam sendo constantemente desvalorizados e pressionados.
A denúncia ao MPT aponta que, entre 2024 e 2025, práticas como o isolamento da área de Controles Internos e Integridade, a limitação do acesso dos funcionários a informações cruciais e a avaliação com notas baixas para barrar a progressão de carreira foram recorrentes. Essas atitudes foram descritas como tentativas de enfraquecer o setor e colocar em risco a fiscalização interna da BB Seguridade.
O papel da SCI e a investigação dos “kits executivos”
Uma das questões centrais que motivaram a crise interna foi a investigação de um caso envolvendo a entrega de “kits executivos” para membros da alta cúpula da empresa e parceiros externos no final de 2023. Esses kits, avaliados em cerca de R$ 4 mil cada, continham itens como malas de bordo, mochilas de couro e carregadores sem fio. A prática gerou um grande desconforto, pois o valor dos presentes ultrapassava o permitido pelo Código de Ética da BB Seguridade.
Embora a auditoria interna tenha concluído a investigação sem responsabilizar ninguém, a pressão sobre o setor de Controles Internos e Integridade aumentou, resultando na diminuição das funções da SCI e no afastamento de seus integrantes. A apuração também apontou falhas no monitoramento de parceiros comerciais e na gestão de contratos com grandes seguradoras, como Mapfre e Odontoprev.
A denúncia de assédio moral
Os relatos de assédio moral indicam que a liderança da BB Seguridade, especialmente o superintendente executivo de Governança, Riscos e Compliance, Maurício Azambuja, teria adotado uma postura autoritária e desrespeitosa com os funcionários da SCI. Em fevereiro de 2024, após assumir o cargo, Azambuja teria declarado que “regras existem para serem flexibilizadas”, o que gerou desconforto entre os membros do setor, que viam isso como uma tentativa de enfraquecer as normas anticorrupção da empresa.
Segundo a denúncia, a chefe da SCI teria sofrido uma crise emocional após essas declarações e, dias depois, formalizou seu descontentamento com a gestão. A situação piorou quando outros membros do setor começaram a ser alvos de ataques pessoais e a sofrer retaliações por não estarem alinhados com a cúpula da empresa.
Em agosto de 2024, a funcionária afastada teve sua situação de saúde reconhecida como acidente de trabalho pelo INSS, o que agrava ainda mais as acusações contra a empresa. Além disso, a denúncia aponta que houve uma tentativa de substituição dos funcionários da SCI por novos integrantes, o que reforçaria a impressão de um desmonte organizado do setor de combate à corrupção.
A questão das avaliações de desempenho

Outra questão que vem à tona nas denúncias é a manipulação das avaliações de desempenho dos funcionários. Um dos membros da SCI recebeu uma nota de 1 (de 5) em sua avaliação, sem explicações claras sobre os critérios utilizados. Quando ele questionou essa nota, uma reunião tensa com Azambuja foi registrada em cartório, onde o executivo afirmou que a avaliação foi influenciada por uma “conversa” do funcionário com terceiros, mas se recusou a detalhar do que se tratava.
Essa postura, descrita como vingativa, teria sido uma forma de perseguição contra os funcionários que não estavam de acordo com as diretrizes da gestão, algo que alimenta a percepção de assédio moral dentro da empresa.
O impacto nas relações de trabalho e as reações externas
A situação na BB Seguridade tem gerado reações de sindicatos e da sociedade em geral. O Sindicato dos Bancários de Brasília se manifestou afirmando que o caso é raro, já que múltiplos afastamentos de funcionários por motivos de saúde mental em um mesmo setor indicam um problema estrutural na gestão da empresa. O sindicato também destacou a importância de proteger os denunciantes e garantir que as investigações sejam conduzidas de forma transparente e rigorosa.
Além disso, a pressão sobre a BB Seguridade pode aumentar, especialmente considerando que a empresa é uma subsidiária do Banco do Brasil, um banco estatal. Isso coloca ainda mais atenção no caso, dada a preocupação com a integridade e a governança das instituições públicas.
O caso comparado com a morte de Sérgio Batista na Caixa Econômica
A situação em torno dos funcionários da BB Seguridade também remete a outro caso envolvendo assédio moral no setor bancário. Em 2022, o diretor de Controles Internos e Integridade da Caixa Econômica Federal, Sérgio Batista, foi encontrado morto em circunstâncias que levantaram suspeitas de suicídio devido ao estresse causado pelo assédio moral. A viúva de Batista entrou com uma ação judicial pedindo uma indenização milionária, argumentando que a morte de seu marido foi consequência da pressão e do assédio no ambiente de trabalho.
O que diz a BB Seguridade
Em nota à imprensa, a BB Seguridade se defendeu afirmando que ainda não foi notificada pelo Ministério Público do Trabalho e que reitera seu compromisso com as melhores práticas de governança corporativa. A empresa também ressaltou que todas as denúncias feitas por funcionários são apuradas com rigor e que adota medidas cabíveis sempre que os fatos forem comprovados.
No entanto, a falta de respostas concretas para as acusações de assédio moral e a frágil transparência nas investigações podem minar a confiança na empresa, especialmente em um momento em que questões de ética e governança são mais importantes do que nunca.
O papel da Controladoria-Geral da União (CGU) e a definição de assédio moral

A Controladoria-Geral da União (CGU), em 2023, editou uma cartilha chamada “Guia Lilás”, para prevenir e combater o assédio moral e sexual no serviço público. A cartilha lista condutas que caracterizam o assédio moral, como privar a pessoa do acesso aos instrumentos necessários para realizar seu trabalho, dificultar promoções e funções diferenciadas, e isolar a pessoa assediada. Esses pontos são diretamente aplicáveis ao caso da BB Seguridade, o que pode reforçar as alegações contra a empresa.
Conclusão
As denúncias de assédio moral na BB Seguridade levantam preocupações sobre a gestão da empresa e a integridade de seus processos internos. O afastamento de três funcionários e os relatos de perseguição indicam falhas na cultura corporativa e na governança. O caso destaca a importância de criar ambientes de trabalho transparentes e respeitosos, onde denúncias sejam tratadas adequadamente. A investigação do Ministério Público e o acompanhamento das entidades competentes são essenciais para determinar as responsabilidades e corrigir práticas prejudiciais.