Americanas Surpreende e Fecha 2024 com Lucro de R$ 8,3 Bilhões

A Americanas (AMER3) encerrou 2024 com um impressionante lucro líquido de R$ 8,3 bilhões, revertendo o prejuízo de R$ 2,3 bilhões registrado no ano anterior. O resultado marca uma virada significativa para a companhia, que vinha enfrentando desafios desde a descoberta de fraudes contábeis em 2023.

Apesar do saldo positivo no consolidado anual, o quarto trimestre de 2024 trouxe um prejuízo de R$ 586 milhões. O número contrasta com o lucro de R$ 2,6 bilhões registrado no mesmo período de 2023. No entanto, a própria empresa ressalta que a comparação deve ser analisada com cautela, pois os resultados do ano anterior foram fortemente impactados por créditos fiscais de R$ 4,8 bilhões. Sem essa diferença contábil, o prejuízo líquido do quarto trimestre de 2023 teria sido de R$ 2,2 bilhões — bem superior ao registrado no mesmo período de 2024.

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Receita e Estruturação: Ajuste no Modelo de Negócio

A receita líquida anual da Americanas totalizou R$ 14,3 bilhões, uma leve queda de 3% em relação ao ano anterior. O recuo reflete a decisão estratégica da empresa de enxugar sua operação e priorizar unidades mais rentáveis.

Redução de lojas físicas

Em 2024, a varejista contava com 1.587 lojas, 91 a menos do que no ano anterior. O fechamento ocorreu tanto em unidades convencionais quanto no modelo de conveniência:

• 31 lojas tradicionais foram fechadas devido à baixa rentabilidade.
• 60 lojas Americanas Express foram desativadas, refletindo mudanças na estratégia de conveniência.

Essa reestruturação gerou um impacto inicial na receita, mas contribuiu para a melhoria da rentabilidade operacional.

Aumento da lucratividade

Mesmo com a leve retração no faturamento, a empresa conseguiu aumentar sua margem bruta, que avançou 3,9 pontos percentuais, chegando a 32,3%. Isso significa que, apesar de vender menos, a Americanas conseguiu melhorar sua eficiência operacional e aumentar seus ganhos sobre cada venda realizada.

Ebitda e a Recuperação Judicial

O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da Americanas apresentou uma evolução significativa. Enquanto em 2023 a companhia registrou um déficit de R$ 2,7 bilhões, em 2024 o indicador reverteu para um superávit de R$ 1,7 bilhão.

Essa mudança está diretamente relacionada às medidas adotadas no âmbito da recuperação judicial, solicitada em janeiro de 2023 após a descoberta de fraudes contábeis que mascaravam a real situação da empresa.

Redução Drástica da Dívida: De R$ 39,4 Bi para R$ 1,8 Bi

Uma das conquistas mais notáveis da Americanas foi a redução de 96% de sua dívida bruta. Em apenas um ano, o endividamento da companhia caiu de R$ 39,4 bilhões para R$ 1,8 bilhão.

Essa melhora se deve a um conjunto de fatores, incluindo:

• Renegociação de débitos com credores no processo de recuperação judicial.
• Baixa contábil de operações de risco sacado, anteriormente usadas para inflar os balanços.

No auge da crise, a Americanas reconheceu que tinha R$ 15,9 bilhões em operações de risco sacado — um esquema pelo qual a empresa ocultava dívidas de fornecedores para aparentar uma situação financeira melhor do que a realidade. Em 2024, essa prática foi completamente eliminada, reduzindo o risco sacado para apenas R$ 49 milhões.

Liquidez: Americanas Agora Tem Caixa Positivo

Outro fator positivo para a companhia é a sua posição de caixa líquido positivo.

• Saldo de caixa e equivalentes: R$ 2,7 bilhões (incluindo recebíveis de cartão de crédito).
• Liquidez líquida: R$ 933 milhões (ou seja, mesmo pagando todas as suas dívidas, ainda sobraria dinheiro).

Esse cenário é um grande avanço em relação à crise enfrentada anteriormente, quando a empresa se viu com dificuldades para honrar compromissos financeiros.

Como a Americanas Conseguiu Reverter a Crise?

A impressionante recuperação da Americanas não foi fruto do acaso. Algumas das principais ações que garantiram a reversão do cenário incluem:

1. Corte de custos e fechamento de lojas deficitárias

A varejista adotou uma estratégia mais rígida na seleção de seus pontos de venda, priorizando lojas mais rentáveis e encerrando operações que traziam prejuízo.

2. Maior foco no e-commerce

Diante da digitalização do varejo, a Americanas reforçou seus investimentos no comércio eletrônico, buscando competir com gigantes do setor.

3. Recuperação judicial e renegociação de dívidas

A reestruturação financeira foi essencial para aliviar o peso das dívidas e permitir que a empresa voltasse a operar com maior fôlego.

4. Transparência e fortalecimento da governança corporativa

Após os escândalos contábeis, a Americanas precisou reconstruir sua credibilidade no mercado, reforçando mecanismos de controle e auditoria.

O Que Esperar da Americanas em 2025?

Com uma estrutura financeira mais equilibrada, a Americanas entra em 2025 com desafios e oportunidades. Entre os principais focos da empresa estão:

• Expansão digital: a companhia pretende ampliar sua participação no e-commerce e fortalecer parcerias no marketplace.
• Crescimento sustentável: manter um equilíbrio entre rentabilidade e expansão, evitando os erros do passado.
• Melhoria na experiência do cliente: fortalecer sua base de consumidores, investindo em logística e atendimento.

Riscos e desafios

Apesar dos avanços, a empresa ainda precisa consolidar sua recuperação e reconquistar a confiança total do mercado. Alguns dos principais desafios incluem:

• Concorrência acirrada no varejo digital, especialmente contra players como Amazon e Mercado Livre.
• Riscos regulatórios e jurídicos decorrentes do processo de recuperação judicial.
• Necessidade de manter uma gestão financeira rigorosa para evitar novos problemas contábeis.

Conclusão: Americanas Está de Volta ao Jogo?

Após um dos períodos mais turbulentos de sua história, a Americanas conseguiu dar a volta por cima e encerrar 2024 com um lucro bilionário. A redução expressiva da dívida, o crescimento da margem bruta e o caixa positivo são sinais de que a empresa está no caminho certo.

No entanto, a recuperação ainda não está completa. O sucesso da Americanas nos próximos anos dependerá de sua capacidade de inovar, manter um crescimento sustentável e evitar os erros do passado. O mercado observa com atenção os próximos passos da varejista, que agora busca consolidar seu retorno ao protagonismo no setor.

Imagem: caioacquesta/shutterstock.com