Alckmin propõe excluir alimentos e energia do cálculo da Selic; Haddad responde: ‘Medida já é adotada’

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O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, sugeriu na última segunda-feira (24) que o Banco Central altere a forma de calcular a Selic, a taxa básica de juros do Brasil. Segundo ele, alimentos e energia deveriam ser desconsiderados na fórmula, pois são itens sujeitos a fatores externos, como clima e crises internacionais.

Segundo Alckmin, o modelo americano já exclui essas categorias ao analisar a inflação, e isso tornaria a política monetária mais eficaz. “Se eu tenho uma seca muito forte, uma alteração climática muito grande, vai subir o preço do alimento. E não adianta eu aumentar os juros que não vai fazer chover”, argumentou.

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Haddad rebate e diz que BC já adota essa metodologia

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Imagem: Freepik

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, respondeu na quinta-feira (27) que o Banco Central já analisa a inflação separadamente por grupos ao definir a Selic. Ele destacou que a autoridade monetária avalia “núcleos de inflação”, que desconsideram variações temporárias de preços de determinados produtos.

“Na verdade, o Banco Central avalia os núcleos de inflação, que muitas vezes desconsideram certa volatilidade de determinados preços”, explicou Haddad. Ele ressaltou que a prática já faz parte da rotina da instituição e que os relatórios do BC incluem esse tipo de análise.

Como a Selic influencia a economia?

A Selic, definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, é a taxa de juros que orienta o custo do crédito e os investimentos no Brasil. Seu principal objetivo é manter a inflação sob controle.

Inflação e política monetária

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo IBGE, é o principal indicador da inflação no país. Em fevereiro de 2024, o IPCA registrou alta de 1,31%, puxado principalmente pelo custo da energia elétrica. Esse foi o maior aumento para o mês desde 2003.

A meta de inflação estabelecida pelo Banco Central é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Para conter a inflação quando ela ultrapassa esse limite, o BC pode aumentar a Selic, tornando o crédito mais caro e desestimulando o consumo.

Impacto na população e no mercado

Especialistas avaliam que excluir alimentos e energia do cálculo da Selic pode “maquiar” a inflação. Esses itens têm grande impacto sobre o custo de vida da população, especialmente para os mais pobres.

“Se retirarmos esses componentes da análise, podemos criar uma falsa impressão de estabilidade econômica, enquanto o poder de compra das famílias segue diminuindo”, alerta um economista ouvido pelo R7.

Modelos internacionais e a proposta de Alckmin

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Imagem: Flickr

Nos Estados Unidos, o Federal Reserve utiliza o índice de inflação conhecido como PCE (Personal Consumption Expenditures), que exclui alimentos e energia em algumas de suas análises para tomar decisões sobre a taxa de juros. No entanto, o índice geral de inflação ainda considera esses itens.

A proposta de Alckmin sugere que o Brasil adote abordagem semelhante, o que, segundo ele, tornaria a política monetária mais eficiente ao focar em fatores controláveis pelo Banco Central.

O Banco Central pode mudar a forma de calcular a Selic?

Mudanças na política monetária exigem amplo debate e envolvem a autonomia do Banco Central. O presidente da instituição, Roberto Campos Neto, ainda não se pronunciou sobre a sugestão de Alckmin.

O tema promete seguir em discussão, principalmente diante da preocupação do governo em reduzir os juros para impulsionar a economia.

Conclusão

A proposta de Geraldo Alckmin de excluir alimentos e energia do cálculo da Selic gerou um debate sobre a eficácia das políticas monetárias no Brasil. Embora Haddad tenha explicado que o Banco Central já adota métodos que consideram a volatilidade desses itens, a discussão revela a complexidade de controlar a inflação e seus impactos. A autonomia do Banco Central e sua abordagem técnica serão cruciais para equilibrar o controle da inflação e o estímulo ao crescimento econômico. O futuro dessa proposta dependerá da reação das autoridades e do mercado.

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