Além da segurança: situação de usuários de drogas em Brusque se torna problema de saúde pública

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Segundo dados do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD) de Brusque, a unidade atendeu no ano passado mais de 300 pessoas, totalizando quase dez mil procedimentos. A metade deles estava relacionada ao consumo de bebidas alcoólicas, enquanto entre 30% a 40% envolveram o uso de drogas. Além disso, o Caps AD realizou 32 internações hospitalares e 25 acolhimentos em comunidades terapêuticas.

Inajá Gonçalves de Araújo, coordenadora municipal de Saúde Mental, afirma que a situação dos usuários é complexa e exige uma abordagem integrada. Apesar de avaliar que o cenário não é considerado fora de controle, ela vê uma crescente demanda por serviços especializados.

“No nosso município, a procura por atendimento no Caps AD tem sido constante, refletindo a necessidade urgente de um sistema de saúde pública que possa dar conta da crescente população afetada por esse problema. A saúde pública enfrenta um grande desafio ao oferecer uma resposta à altura dessa demanda, não só no que diz respeito ao atendimento médico, mas também em relação ao acompanhamento psicossocial e ao suporte familiar”, diz.

A coordenadora afirma que não é possível saber o número de pessoas que sofreram overdose ou morreram pelo uso de drogas, pois os dados são referentes a intoxicação exógena, que podem incluir medicamentos, produtos químicos, venenos e substâncias ilícitas.

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Além da segurança pública

O delegado da Divisão de Investigação Criminal (DIC) da Polícia Civil de Brusque, Fernando Farias, afirma que o cenário do uso de drogas em Brusque sempre foi visto com preocupação, sobretudo em relação às pessoas em situação de rua. No ano passado foram registrados 164 boletins de ocorrência envolvendo apreensão de drogas.

Fernando explica que o número não representa as prisões em flagrantes do ano, pois alguns desses procedimentos não tem autoria e outros se transformaram em termo circunstanciado.

“Por serem pessoas vulneráveis socialmente, elas estão mais propícias a praticarem e serem vítimas de crimes das mais variadas espécies, com destaque para o furto, a lesão corporal, o tráfico de drogas”, diz.

Outro ponto que Fernando aborda é a facilidade do usuário em comprar drogas pela internet. Ele diz que, com o avanço das tecnologias de comunicação, o indivíduo não precisa ir até uma ‘boca de fumo’ para conseguir a substância, bastando uma breve negociação por mensagem.

“Usuário e traficante combinam valores, métodos de pagamento e local de entrega por meio das redes sociais, havendo aproximação entre os envolvidos. O usuário não precisa mais deslocar até a ‘boca de fumo’ para comprar drogas, basta fazer o pedido e receber no local combinado. Esse fenômeno é levado em consideração nas diversas investigações realizadas pela DIC”.

Por fim, o delegado afirma que em todos os bairros do município existe tráfico de drogas. Porém, o Azambuja demanda uma atenção maior da polícia.

Mais de 100 atendimentos a pessoas em situação de rua

No período de dezembro de 2024 a fevereiro de 2025, o Centro Pop atendeu 200 pessoas, sendo 141 em situação de rua. O jornal O Município recebe com frequência reclamações de moradores próximos a rodoviária e também do comércio ao redor da praça Gilberto Colzani, conhecida como Chafariz.

Um dos problemas do tratamento é a negação do usuário em aceitar a doença. Segundo Inajá, a questão está relacionada a fatores como a naturalização do consumo, o estigma social e a falta de conscientização sobre os danos causados pelo uso excessivo de substâncias.

“No município, observamos que uma parcela significativa da população faz uso abusivo de álcool e outras drogas, mas não procura serviços de saúde especializados. Muitas dessas pessoas não se identificam como dependentes ou não reconhecem que seu uso de substâncias está afetando sua saúde e sua vida social.”

Pessoas em situação de rua são abordadas em operação da Prefeitura de Brusque

Sobrecarga no serviço e outros problemas

Com a crescente demanda, os serviços enfrentam desafios no atendimento aos usuários de drogas. Até pouco tempo atrás, o Caps AD enfrentava limitações de horários e recursos. Para sanar essa situação, a prefeitura tem ampliado a carga horária da unidade, que agora segue aberta das 7h às 19h.

Outro problema é a falta de profissionais capacitados, especialmente nas áreas de apoio psicológico e terapias complementares. A coordenadora afirma que a gestão está buscando qualificar a equipe por meio de parcerias técnicas.

“Estamos organizando e buscando parcerias para realizar futuramente capacitações técnicas voltadas à área de saúde mental e dependência química, a fim de aprimorar o atendimento e garantir que os profissionais estejam preparados para lidar com as demandas crescentes”, afirma.

A integração entre os serviços de emergência, atenção primária e reabilitação também é um desafio significativo. Inajá afirma que a aproximação dos serviços é fundamental para garantir que os usuários recebam o acompanhamento completo e contínuo.

“Para resolver essa questão, estamos trabalhando em conjunto com o Conselho Municipal de Saúde (Comusa) e o Conselho Municipal Antidrogas (Comad) para buscar uma maior integração com o Hospital Azambuja, que tem atendido à demanda de usuários em situações mais graves. Além disso, a diretoria da Atenção Primária e Atenção Especializada está avaliando formas de aproximar e integrar mais os Caps e a atenção primária, buscando um atendimento mais fluido e eficaz”, explica. O Hospital Azambuja registrou, no último ano, 176 atendimentos relacionados aos consumo de álcool ou uso de drogas.

Um problema crítico, na visão da coordenadora, é a falta de leitos especializados para desintoxicação. Essa lacuna se torna uma perda significativa para as pessoas que precisam de cuidados intensivos para a remoção de substâncias do organismo de forma segura.

Para enfrentar essa questão em nosso município, a prefeitura elaborou o Programa de Internação Humanizada, que tem como objetivo fornecer leitos para pessoas em situação de vulnerabilidade que passaram por avaliação no Caps AD.

“Caso seja identificada a necessidade de internação, esses indivíduos poderão ser encaminhados para um processo de desintoxicação adequado e monitorado. Este programa visa garantir um atendimento mais humanizado e digno, respeitando as necessidades específicas de cada paciente e assegurando sua segurança durante o processo de recuperação”, detalha Inajá.

“Além disso, a prefeitura tem estreitado os laços com as casas de apoio e comunidades terapêuticas que existem em nossa região. Essas parcerias têm sido fundamentais para oferecer um atendimento voluntário e de suporte àqueles que necessitam de acompanhamento e reabilitação”, finaliza.


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