Trabalhadores em risco: vapor de gasolina pode ser cancerígeno!

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A inalação do vapor de gasolina automotiva foi oficialmente classificada como cancerígena para humanos pela Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (IARC). A descoberta foi publicada na prestigiada revista The Lancet Oncology e traz preocupações sérias para a saúde pública, principalmente para os trabalhadores expostos diariamente ao combustível, como os frentistas de postos de gasolina.

Segundo o estudo, o contato frequente com os vapores emitidos durante a produção, transporte e reabastecimento de veículos está diretamente associado a dois tipos de câncer: câncer de bexiga e leucemia mieloide aguda em adultos.

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Mão abastecendo carro em posto de gasolina
Imagem: CC7 / Shutterstock.com

Profissionais em risco: frentistas são os mais vulneráveis

A Federação Nacional dos Empregados em Postos de Serviços de Combustíveis e Derivados de Petróleo (Fenepospetro) afirma que essa classificação da IARC apenas reforça o que os trabalhadores do setor já vinham alertando. O secretário de saúde da entidade, Eduardo Silva, divulgou nota dizendo que é urgente a implementação de sistemas de recuperação de vapores nas bombas de abastecimento.

“É urgente que sejam reforçadas políticas públicas e normas de segurança ocupacional para minimizar os riscos à saúde dos frentistas e da população em geral. A divulgação dessa nova classificação pela IARC deve servir como um alerta para a necessidade de medidas mais rígidas de prevenção e fiscalização”, afirmou Silva.

Outros efeitos à saúde: mais doenças associadas à exposição

Além do câncer de bexiga e da leucemia mieloide aguda, o estudo aponta evidências, ainda que limitadas, de que outros tipos de doenças também possam estar ligados à exposição contínua aos vapores da gasolina:

  • Linfoma não-Hodgkin, incluindo leucemia linfocítica crônica
  • Mieloma múltiplo
  • Síndromes mielodisplásicas
  • Câncer de estômago e rim em adultos
  • Leucemia linfoblástica aguda em crianças

Essas condições estão sendo associadas principalmente aos componentes tóxicos presentes na gasolina e aos aditivos químicos utilizados para melhorar o desempenho do combustível.

Os compostos químicos mais perigosos na gasolina

Mão segurando bomba de gasolina enquanto abastece o carro
Imagem: Pavel Kubarkov/shutterstock.com

A gasolina automotiva é composta por uma complexa mistura de hidrocarbonetos e aditivos químicos, muitos deles comprovadamente tóxicos. Entre os mais perigosos estão:

Aditivos reconhecidos como cancerígenos:

  • Benzeno
  • Cumeno
  • Xileno
  • Tolueno
  • Etilbenzeno

Aditivos com evidência limitada de risco cancerígeno:

  • ETBE (Éter etil terciário-butílico)
  • MTBE (Éter metil terc-butílico)

Aditivos considerados não cancerígenos:

  • DIPE (Éter di-isopropílico)
  • TAME (Éter terc-amilmetílico)
  • TBA (Álcool terc-butílico)

Medidas recomendadas para frentistas

Para mitigar os riscos, o Instituto Nacional de Câncer (INCA), por meio da Coordenação de Prevenção e Vigilância, listou uma série de recomendações de segurança para os trabalhadores de postos de combustíveis.

Medidas individuais:

Durante o abastecimento:

  • Nunca encher o tanque após o “click” automático da bomba.
  • Não cheirar a tampa do tanque de combustível.
  • Evitar o uso de panos ou flanelas para conter respingos.

Cuidados com o uniforme:

  • Roupa molhada com combustível deve ser imediatamente substituída.
  • Uniformes devem ser lavados regularmente, de preferência pela empresa.

Monitoramento da saúde:

  • Realização de exames periódicos (sangue e urina) para detecção precoce de doenças.

Equipamentos de proteção:

  • Utilização de luvas impermeáveis, máscaras e aventais durante o manuseio do combustível.

O papel das empresas: normas que devem ser cumpridas

A segurança dos trabalhadores também depende da responsabilidade das empresas que operam postos de combustíveis. O INCA aponta obrigações específicas que devem ser seguidas:

Medidas estruturais e operacionais:

  • Instalar sistemas de recuperação de vapores nos bicos de abastecimento.
  • Realizar manutenção periódica dos bicos automáticos.
  • Adotar leitores eletrônicos nos tanques subterrâneos, para eliminar a necessidade da leitura manual com réguas.
  • Implementar peças protetoras contra respingos, proibindo o uso de flanelas.

Capacitação e fornecimento de EPIs:

  • Oferecer cursos de capacitação sobre riscos e segurança.
  • Fornecer uniformes completos, calçados fechados e impermeáveis, com garantia de limpeza semanal.
  • Garantir luvas e proteção respiratória durante todas as etapas do abastecimento e manuseio do combustível.

Fiscalização e políticas públicas: um chamado urgente

O estudo da IARC, aliado às recomendações do INCA e aos apelos da Fenepospetro, reforça a necessidade de fiscalização rigorosa por parte dos órgãos reguladores.

A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) foram contatadas para informar se haverá atualização nas normas de segurança vigentes. Até o momento, segundo a Agência Brasil, ainda não houve retorno.

A legislação e as normas de segurança aplicáveis

Entre as normas já existentes que tratam da segurança dos trabalhadores expostos a produtos inflamáveis e tóxicos, destacam-se:

  • NR 20: trata da segurança e saúde no trabalho com inflamáveis e combustíveis.
  • NR 09: aborda a prevenção de riscos ambientais no ambiente de trabalho.

Ambas são fundamentais para orientar e regulamentar práticas seguras nos postos de combustíveis e devem ser rigorosamente cumpridas pelas empresas.

Conscientização e mobilização coletiva

Imagem de uma pessoa abastecendo um carro em posto da Petrobrás.
Imagem: Joa Souza / shutterstock.com

A luta por melhores condições de trabalho e segurança não é recente. Diversos sindicatos e associações vêm se mobilizando para:

  • Aumentar a conscientização pública sobre os riscos.
  • Exigir do governo políticas mais efetivas.
  • Estimular a adoção de tecnologias mais seguras, como o sistema de recuperação de vapores.
  • Fiscalizar o cumprimento das leis trabalhistas e sanitárias.

Imagem: prakob/ Shutterstock

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