Escândalo da Memecoin de Milei: Congresso argentino autoriza investigação sobre autoridades

Milei Criptomoeda

A Câmara dos Deputados da Argentina aprovou, nesta terça-feira (8), a criação de uma comissão especial para investigar o colapso da memecoin LIBRA, promovida pelo presidente Javier Milei em fevereiro deste ano.

O caso gerou um grande impacto no mercado financeiro e acendeu um debate sobre a responsabilidade das autoridades no incentivo a investimentos de alto risco.

A investigação surge após o colapso da criptomoeda, que perdeu quase 90% de seu valor em poucas horas, gerando prejuízos superiores a US$ 250 milhões para mais de 75 mil investidores.

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O debate no Congresso e a aprovação da comissão

O projeto de resolução para criar a comissão especial foi aprovado por 128 votos a favor, 93 contrários e 7 abstenções. O deputado Pablo Juliano, um dos proponentes da medida, defendeu a necessidade de uma auditoria para apurar possíveis prejuízos ao país:

“O momento chegou para que o Congresso audite se houve algum prejuízo à Argentina: estamos comprometidos com a verdade.”

Em contraposição, Gabriel Bornoroni, do partido governista La Libertad Avanza, afirmou que a oposição estaria se aproveitando do escândalo para desviar o foco da gestão econômica positiva do governo Milei, destacando o superávit fiscal alcançado em 2024.

As autoridades convocadas para depor

A comissão especial convocará diversas autoridades-chave do governo Milei para prestarem esclarecimentos, incluindo:

  • Luis Caputo, Ministro da Economia;
  • Mariano Cúneo Libarona, Ministro da Justiça;
  • Guillermo Francos, Chefe de Gabinete;
  • Roberto Silva, Presidente da Comissão Nacional de Valores Mobiliários da Argentina.

Os parlamentares também solicitaram informações diretamente ao governo sobre a origem da LIBRA e possíveis relações entre Milei e os criadores da memecoin.

Como surgiu a LIBRA e por que ela colapsou?

A LIBRA foi lançada em fevereiro como uma memecoin baseada na blockchain Solana. O projeto foi promovido pelo presidente Milei em sua conta oficial no X (antigo Twitter), gerando um grande entusiasmo entre investidores. Em poucos dias, o valor de mercado do token chegou a US$ 4,5 bilhões.

No entanto, em 14 e 15 de fevereiro, a criptomoeda sofreu uma queda abrupta de quase 90% de seu valor. Diante do colapso, Milei apagou sua postagem de promoção e declarou que “não conhecia os detalhes do projeto”.

Investigação judicial e possíveis ligações com Milei

Criptomoeda Milei
Imagem: Facundo Florit / shutterstock.com

Paralelamente à investigação no Congresso, a Justiça argentina também abriu um processo criminal para apurar se Milei ou integrantes de seu governo tinham vínculos com os desenvolvedores da LIBRA.

Em março, um advogado argentino solicitou a prisão de Hayden Davis, CEO da Kelsier Ventures, empresa que teria apresentado o projeto LIBRA a Milei durante uma reunião em janeiro.

Nos Estados Unidos, um escritório de advocacia em Nova York iniciou uma convocação para investidores que desejam entrar com uma ação coletiva contra os desenvolvedores da LIBRA.

O impacto econômico do escândalo LIBRA

O caso LIBRA afetou diretamente a confiança dos investidores no setor de criptomoedas da Argentina. Com um histórico de crises econômicas e inflação elevada, muitos cidadãos viram na criptoeconomia uma alternativa para preservar seu capital.

No entanto, eventos como esse reforçam a necessidade de regulamentação e maior transparência no setor.

Os economistas alertam que o episódio pode desestimular investimentos externos no mercado argentino, uma vez que evidencia riscos associados à falta de supervisão e à volatilidade de ativos digitais promovidos por figuras políticas.

Reações internacionais e medidas regulatórias

A repercussão do escândalo LIBRA ultrapassou as fronteiras da Argentina. Órgãos reguladores de outros países começaram a avaliar políticas para evitar a manipulação de mercado por líderes políticos.

A Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) já emitiu alertas sobre o uso de redes sociais por figuras públicas para promover ativos financeiros sem a devida transparência.

No Parlamento Europeu, parlamentares sugeriram medidas para endurecer regras sobre o uso de criptomoedas por agentes públicos, garantindo que influências indevidas não resultem em prejuízos para investidores.

Milei e seu histórico com criptomoedas

Esse não é o primeiro caso polêmico envolvendo Milei e criptomoedas. Em 2022, ele foi processado por investidores após promover a plataforma CoinX, que prometia altos retornos, mas falhou em cumprir os pagamentos aos clientes.

O envolvimento de Milei em casos anteriores levanta questionamentos sobre sua relação com o setor cripto e sua postura em relação à transparência e regulamentação financeira.

Impactos políticos e desafios futuros

Além das consequências econômicas, o escândalo LIBRA também gera instabilidade política para Milei. O presidente, que se elegeu com uma proposta de desregulamentação econômica e liberalismo radical, enfrenta agora um dos maiores testes de sua gestão.

A investigação no Congresso e os desdobramentos judiciais podem comprometer sua base de apoio e abrir espaço para críticas da oposição, especialmente em um momento em que a Argentina busca estabilizar sua economia.

Com a investigação do Congresso e as apurações judiciais em andamento, resta saber quais serão as consequências para Milei e seu governo.

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