
O mercado de criptomoedas tem experimentado um crescimento exponencial nos últimos anos, atraindo investidores e empresas de diversos setores. No entanto, essa expansão também trouxe desafios significativos, especialmente no que diz respeito à regulamentação e à segurança dos ativos digitais.
Na última terça-feira (8), Natasha Cazenave, diretora-executiva da Autoridade Europeia de Valores Mobiliários e dos Mercados (ESMA), emitiu um alerta sobre os riscos inerentes às criptomoedas. Segundo a executiva, “não existe nenhuma criptomoeda segura” no mercado atualmente, independentemente das regulamentações aplicadas.
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Os argumentos da ESMA sobre os riscos das criptomoedas

A volatilidade do mercado
De acordo com Cazenave, os criptoativos são altamente especulativos e estão sujeitos a flutuações abruptas de preço. A executiva citou a recente queda de mais de 20% no valor das criptomoedas no primeiro trimestre de 2025, atribuída a fatores macroeconômicos, mudanças no sentimento dos investidores e um ataque hacker contra a corretora Bybit.
Essa volatilidade não é uma novidade no setor. Desde a criação do Bitcoin, em 2009, os criptoativos passaram por ciclos de valorização e desvalorização extremos, o que levanta preocupações sobre sua confiabilidade como reserva de valor.
O Impacto no sistema financeiro
A diretora da ESMA também ressaltou que, embora os riscos representados pelas criptomoedas ainda não sejam considerados “significativos”, há um crescimento na exposição de investidores ao setor.
Ela destacou que a maioria dos bancos da União Europeia – mais de 95% – ainda não estão envolvidos com criptoativos, mas que o aumento da adoção pode trazer desafios futuros.
Com a crescente digitalização da economia, instituições financeiras e empresas de tecnologia demonstram interesse em integrar criptoativos a seus serviços, o que pode impactar a estabilidade financeira caso haja um aumento substancial na exposição do sistema bancário tradicional a esses ativos.
Stablecoins: Um risco adicional?
Outro ponto abordado foi o papel das stablecoins, criptomoedas pareadas a ativos reais, como dólares ou euros. Segundo Cazenave, essas moedas digitais demandam atenção especial, pois têm potencial para desestabilizar o mercado financeiro, especialmente se houver problemas de liquidez ou colapsos inesperados.
A estabilidade das stablecoins depende da capacidade de seus emissores garantirem reservas suficientes para lastrear cada unidade emitida. No passado, algumas stablecoins enfrentaram colapsos devido à falta de transparência e à má administração de suas reservas, o que pode gerar impactos em toda a economia digital.
O cenário global e as medidas regulatórias
Regulamentação na União Europeia
A União Europeia tem implementado regulações para tentar reduzir os riscos do setor, incluindo o MiCA (Markets in Crypto-Assets), um conjunto de regras voltadas à regulamentação dos criptoativos no bloco econômico. O objetivo do MiCA é garantir maior transparência, proteger investidores e reduzir riscos financeiros associados ao setor.
Mesmo com regulamentações robustas, especialistas alertam que o setor de criptomoedas evolui rapidamente, tornando difícil prever todos os desafios que surgirão no futuro. Além disso, como o mercado é global, a eficácia da regulação europeia pode ser limitada caso outros países não adotem medidas semelhantes.
Experiências de outros países
Outros países também têm buscado formas de regulamentar o setor. Nos Estados Unidos, a Securities and Exchange Commission (SEC) tem adotado uma abordagem mais restritiva, processando grandes plataformas e exigindo mais transparência das empresas de criptoativos.
No Japão, a regulamentação é mais flexível, mas há exigências rigorosas para custodiantes e exchanges.
Na China, o governo proibiu completamente a negociação e mineração de criptomoedas, alegando preocupações com estabilidade financeira e consumo excessivo de energia. Já em países como El Salvador, houve uma abordagem oposta, com a adoção do Bitcoin como moeda legal para impulsionar a economia local.
O futuro das criptomoedas: Riscos e oportunidades

Os desafios para os investidores
Diante das incertezas regulatórias e da volatilidade do mercado, os investidores devem estar atentos às possíveis oscilações bruscas nos preços dos ativos digitais. A diversificação da carteira e a análise criteriosa das criptomoedas podem ser estratégias essenciais para mitigar riscos.
Outro fator a considerar são as ameaças cibernéticas. Hacks e fraudes são comuns no setor, com criminosos explorando vulnerabilidades em exchanges e carteiras digitais para roubar fundos dos investidores.
Adoção institucional e perspectivas de longo prazo
Apesar das advertências, grandes instituições financeiras e empresas de tecnologia continuam investindo no setor. A adoção institucional pode contribuir para maior estabilidade e segurança no longo prazo, especialmente com a implementação de regulamentações mais abrangentes.
Bancos centrais de diversos países também estudam a criação de moedas digitais próprias (CBDCs, ou Central Bank Digital Currencies), o que pode impactar o papel das criptomoedas privadas no sistema financeiro global.
O desenvolvimento dessas moedas digitais pode oferecer uma alternativa segura e regulamentada para transações digitais sem os riscos associados à volatilidade do mercado cripto.
Considerações finais
O alerta emitido pela ESMA reforça a necessidade de uma abordagem cautelosa em relação às criptomoedas. Embora sejam inovações financeiras promissoras, os riscos associados à volatilidade e segurança precisam ser considerados por investidores e reguladores.
O futuro do setor dependerá de equilíbrio entre inovação e regulação para garantir um mercado mais seguro e confiável.
A tendência global de regulamentação pode tornar o setor mais transparente e protegido contra fraudes, mas também pode limitar a descentralização, um dos pilares do movimento cripto. Para os investidores, compreender os riscos e manter uma estratégia bem fundamentada será essencial para navegar neste mercado dinâmico.