
Em uma decisão que promete revolucionar o cenário da conectividade no Brasil e em toda a América Latina, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) aprovou, em abril de 2025, o lançamento de 7.500 novos satélites Starlink para operação no território brasileiro. O aval mais do que dobra o número de unidades atualmente autorizadas, que era de 4.408, consolidando o Brasil como um dos principais mercados para a internet via satélite da SpaceX.
A medida tem implicações diretas e profundas para a inclusão digital, especialmente em áreas rurais e remotas, onde a infraestrutura de telecomunicações tradicional enfrenta limitações geográficas, logísticas e econômicas. Com o novo leque de autorizações, a Starlink poderá ampliar sua cobertura e velocidade, além de contribuir para o desenvolvimento econômico, educacional e social em regiões até então isoladas digitalmente.
Leia mais:
Starlink terá 7.500 satélites no Brasil com a autorização da Anatel; veja o que muda

O avanço da Starlink no Brasil: do pioneirismo ao protagonismo
Starlink: o que é e como funciona
A Starlink, projeto da empresa norte-americana SpaceX, fundada por Elon Musk, é uma constelação de satélites de órbita baixa (LEO – Low Earth Orbit) com o objetivo de oferecer internet de alta velocidade e baixa latência em qualquer ponto do planeta. Diferente dos satélites geoestacionários, esses pequenos satélites operam em altitudes mais baixas, garantindo uma comunicação mais rápida com a Terra.
Desde que iniciou sua operação comercial em território brasileiro em 2022, a Starlink já demonstrava potencial para transformar a conectividade em locais onde operadoras tradicionais não alcançam com facilidade. Com os novos 7.500 satélites, esse potencial se multiplica.
Expansão da cobertura e uso estratégico
A ampliação da frota autorizada pela Anatel representa um salto estratégico na capilaridade da rede, principalmente em estados do Norte e Centro-Oeste, como Amazonas, Acre, Pará e Rondônia, onde o acesso à internet ainda é precário.
Além do uso residencial, a internet satelital da Starlink também tem aplicações importantes em:
- Educação à distância em comunidades ribeirinhas;
- Telemedicina em regiões remotas;
- Agronegócio conectado, com sensoriamento remoto e gestão inteligente;
- Monitoramento ambiental e de segurança pública, incluindo ações em áreas de difícil acesso.
Desafios regulatórios: o futuro depende de um novo marco legal
Necessidade urgente de atualização normativa
Apesar da autorização massiva, a Anatel foi enfática ao afirmar que o marco regulatório brasileiro precisa ser atualizado com urgência. O crescimento acelerado da presença de satélites em órbita, como no caso da Starlink, exige novas normas para garantir equilíbrio no setor e mitigação de riscos associados.
Entre os principais pontos destacados pela agência estão:
- Soberania digital: garantir que o uso de infraestrutura estrangeira esteja alinhado com os interesses nacionais;
- Domínio de mercado: evitar a concentração excessiva nas mãos de um único operador global;
- Sustentabilidade espacial: prevenir a formação de lixo espacial e colisões em órbita;
- Interferências eletromagnéticas: gerenciar o uso das bandas de frequência para evitar conflitos com outros sistemas de comunicação.
Expansão de faixas de frequência e coordenação internacional
A autorização da Anatel também contempla a ampliação das bandas de frequência utilizadas pelos satélites Starlink, o que permite maior tráfego de dados e estabilidade no serviço. No entanto, isso requer uma coordenação técnica complexa com órgãos internacionais, como a União Internacional de Telecomunicações (UIT), a fim de evitar interferências cruzadas entre constelações de diferentes países.
Impactos socioeconômicos da internet via satélite no Brasil

Inclusão digital como vetor de transformação
A expansão da Starlink tem o potencial de promover um dos maiores saltos em inclusão digital da história recente do país. Estima-se que mais de 40 milhões de brasileiros ainda tenham acesso precário ou inexistente à internet, especialmente em comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas e em pequenas cidades do interior.
Com a chegada da internet satelital, essas populações poderão:
- Ter acesso a educação e informação;
- Participar da economia digital;
- Usar serviços públicos online;
- Integrar-se a redes de apoio social e saúde digital.
Concorrência no setor de telecomunicações
A entrada massiva da Starlink também representa um desafio e uma oportunidade para as operadoras tradicionais, como Claro, Vivo, TIM e Oi. Com uma nova competidora oferecendo alta velocidade, cobertura ampla e independência de infraestrutura terrestre, espera-se:
- Redução de preços nos pacotes de dados;
- Melhorias nos serviços das operadoras locais;
- Incentivo à inovação e à regionalização de ofertas.
A concorrência saudável pode gerar um ciclo virtuoso de modernização e expansão da conectividade em todo o território nacional.
Questões ambientais e de segurança espacial
O risco dos detritos espaciais
Com milhares de novos satélites em órbita baixa, aumenta a preocupação com o acúmulo de detritos espaciais, que podem causar colisões, prejudicar missões espaciais e danificar satélites ativos. A gestão responsável do tráfego espacial será essencial, com protocolos de desativação, manobras autônomas de evasão e reciclagem orbital.
Compromissos de sustentabilidade
A SpaceX afirma que seus satélites têm vida útil programada e sistema de reentrada controlada, o que minimiza o risco de lixo espacial. No entanto, especialistas alertam que o volume crescente de objetos em órbita exige regras mais rígidas, transparência e auditorias internacionais.
Além disso, a Anatel deverá considerar impactos ambientais locais, como o descarte de equipamentos de conexão e a infraestrutura de apoio necessária para uso em larga escala.
O Brasil como referência na conectividade via satélite

Liderança regional em inovação e inclusão
Com a aprovação da Anatel, o Brasil se posiciona na vanguarda da internet via satélite na América Latina, tornando-se um dos primeiros países a autorizar uma constelação desse porte. Isso abre caminho para que o país:
- Exerça liderança diplomática em fóruns internacionais sobre o tema;
- Estabeleça modelos regulatórios inovadores e sustentáveis;
- Seja referência para outras nações emergentes que enfrentam desafios semelhantes de conectividade.
Caminho para o futuro: tecnologia aliada à responsabilidade
A expansão da Starlink é apenas o começo. Nos próximos anos, é possível que novas constelações e tecnologias emergentes, como internet via balões, drones retransmissores e redes 6G, entrem no jogo. O sucesso dessa transformação dependerá da convergência entre inovação tecnológica, regulação inteligente e compromisso ambiental.
Imagem: Freepik/Edição: Seu Crédito Digital