
O economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central (1999-2003), fez uma declaração polêmica durante sua participação na Brazil Conference, evento realizado no último sábado, na Universidade de Harvard e no MIT, nos Estados Unidos. Para Fraga, o Brasil precisaria congelar o salário mínimo “em termos reais” por um período de seis anos. A medida seria uma estratégia para reduzir os gastos públicos, que, segundo ele, são em grande parte direcionados ao pagamento da previdência social. Mas o que essa proposta significa e qual seria seu impacto sobre a economia brasileira?
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A necessidade de um aperto fiscal

Fraga, conhecido por suas análises sobre a economia brasileira, explicou que o país enfrenta uma crise fiscal devido à alta carga de despesas públicas, especialmente no que diz respeito à previdência social. Segundo o economista, o governo precisa adotar medidas drásticas para garantir a sustentabilidade das finanças públicas e evitar um colapso fiscal nos próximos anos.
Em sua visão, o congelamento do salário mínimo, em termos reais (ou seja, mantendo o valor ajustado pela inflação), seria uma das formas de alcançar um equilíbrio fiscal. Ele argumenta que, ao manter o salário mínimo estagnado por seis anos, o governo teria uma margem de manobra para ajustar as contas públicas e direcionar recursos para outras áreas essenciais da economia.
O que significa congelar o salário mínimo em termos reais?
O conceito de “congelar o salário mínimo em termos reais” refere-se à ideia de que, embora o salário mínimo possa ser reajustado nominalmente (ou seja, de acordo com a inflação), o seu poder de compra, em relação à quantidade de bens e serviços que ele pode adquirir, não seria alterado. Em outras palavras, o valor do salário mínimo se manteria estável, sem aumentos significativos acima da inflação, durante o período proposto.
Fraga acredita que essa medida ajudaria a controlar a inflação e a limitar o impacto do aumento do salário mínimo nos gastos públicos, especialmente no que tange à previdência social e ao aumento das despesas com benefícios como aposentadorias e pensões.
O impacto sobre a economia brasileira

Implementar o congelamento do salário mínimo teria repercussões importantes sobre a economia do Brasil. A medida poderia, por um lado, gerar alívio nas contas públicas, reduzindo a pressão sobre o governo para reajustar constantemente o valor do salário mínimo. No entanto, ela também geraria uma série de desafios sociais e econômicos.
Possíveis consequências negativas do congelamento
Uma das maiores críticas a essa proposta é o impacto negativo que ela teria sobre a classe trabalhadora e os mais pobres. O congelamento do salário mínimo, sem aumentos reais, poderia agravar a desigualdade social no país, já que muitos trabalhadores dependem do reajuste do salário mínimo para acompanhar a inflação e garantir o seu poder de compra.
Além disso, a medida poderia afetar o consumo interno, já que o aumento do poder aquisitivo da população é um dos principais motores da economia de consumo do Brasil. Sem reajustes no salário mínimo, o poder de compra da população poderia encolher, afetando o mercado de bens e serviços e, consequentemente, a produção e o crescimento econômico.
A relação entre a previdência e o salário mínimo
Um dos principais argumentos de Fraga para o congelamento do salário mínimo é a relação entre os gastos com a previdência e o aumento dos salários. No Brasil, muitos benefícios previdenciários são calculados com base no valor do salário mínimo. A medida de Fraga visa reduzir a pressão sobre os cofres públicos, já que a indexação de benefícios à inflação e aos aumentos do salário mínimo tem contribuído para o crescimento das despesas previdenciárias.
O impacto na desigualdade social

Outro ponto controverso é a forma como o congelamento do salário mínimo poderia agravar a desigualdade social no país. A maioria dos trabalhadores que recebe o salário mínimo ou um valor próximo dele está em uma situação de vulnerabilidade econômica. Sem aumento real, a pobreza poderia se intensificar, afetando negativamente os mais pobres, que são os mais dependentes de programas como o Bolsa Família e o auxílio emergencial.
Alternativas para o Brasil
Embora a proposta de Armínio Fraga seja polêmica, ela abre um debate importante sobre a necessidade de reformas fiscais e estruturais no Brasil. Existem alternativas para enfrentar a crise fiscal sem prejudicar os trabalhadores mais vulneráveis.
Reformas fiscais progressivas
Uma alternativa ao congelamento do salário mínimo seria a implementação de reformas fiscais progressivas. Isso significaria aumentar a carga tributária para os mais ricos, garantindo que aqueles com maior capacidade de contribuir para o Estado paguem mais impostos, sem prejudicar a classe trabalhadora. Além disso, as reformas poderiam focar na eficiência do gasto público, priorizando áreas essenciais como saúde, educação e infraestrutura, enquanto se reduzem os desperdícios e as distorções no sistema tributário.
Reforma da previdência
Outra medida essencial para controlar os gastos públicos seria a reforma da previdência. O Brasil já avançou nesse sentido com a reforma de 2019, mas ainda existem distorções e gastos excessivos que precisam ser corrigidos. Uma reforma previdenciária que elimine privilégios e garanta a sustentabilidade do sistema no longo prazo poderia aliviar a pressão sobre as finanças públicas, sem a necessidade de congelar o salário mínimo.
Conclusão
A proposta de Armínio Fraga de congelar o salário mínimo por seis anos, embora ousada, reflete a gravidade da situação fiscal do Brasil. A medida geraria alívio imediato para as finanças públicas, mas também traria consequências negativas, especialmente para os trabalhadores e a população de baixa renda. A discussão sobre a reforma fiscal no Brasil deve levar em conta alternativas que combinem o controle das contas públicas com a preservação dos direitos dos cidadãos mais vulneráveis. O debate continua, e o Brasil precisa encontrar soluções equilibradas para sua economia.