
O Banco Central do Brasil divulgou recentemente o relatório técnico da primeira fase de testes do Drex, a futura moeda digital oficial brasileira. A conclusão foi clara: ainda são necessárias melhorias antes da incorporação total do ativo ao sistema financeiro. O documento aponta que, embora as tecnologias apresentem potencial, ainda há limitações técnicas que impedem a adoção imediata do Drex como ferramenta operacional.
A moeda, que será operada exclusivamente pelo Banco Central, carrega o peso de representar uma nova era da economia digital no país. Mas, para isso, precisará passar por uma segunda fase de testes com foco na privacidade, segurança e inovação tecnológica.
Leia mais:
Drex e Pix por aproximação: apostas do BC contra os desafios fiscais

O que é o Drex?
O Drex é a sigla da nova moeda digital do Brasil. Seu nome foi construído a partir de um acrônimo:
Digital, Real, Eletrônico e o X, que remete a conexão, inspirado no sucesso do Pix.
Diferente de criptomoedas como o Bitcoin ou Ethereum, o Drex será uma CBDC (Central Bank Digital Currency) — ou seja, uma moeda digital centralizada e emitida exclusivamente pelo Banco Central, com lastro no real físico.
Primeira fase: resultados e limitações
Desde março de 2023, o Banco Central tem conduzido testes em um programa chamado Piloto Drex, envolvendo instituições financeiras selecionadas via chamamento público. Esses testes tinham como objetivo avaliar funcionalidades como:
- Emissão e conversão entre Drex e Real físico
- Aplicação de contratos inteligentes
- Segurança e rastreabilidade
- Eficiência em transações de grande porte
Conclusões da primeira fase
Segundo o relatório, as tecnologias testadas ainda não atendem às exigências de escalabilidade e privacidade necessárias para uso em massa. O BC destacou que melhorias significativas serão exigidas para a implementação em um ambiente econômico real.
O que muda na segunda fase de testes?
O foco da nova etapa, segundo o Banco Central, será:
Aprimorar privacidade nas transações
A equipe técnica busca uma forma de garantir que os usuários tenham seu direito ao sigilo assegurado, respeitando a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e a Lei do Sigilo Bancário, ainda que os dados estejam registrados em blockchain.
Buscar maior aderência ao mercado
A segunda fase também irá incluir mais instituições e testar cenários práticos envolvendo:
- Compras de imóveis
- Financiamentos de veículos
- Transferências de alto valor
- Cobrança automatizada de impostos (como o IVA da Reforma Tributária)
Inclusão de smart contracts
A ideia é permitir transações programadas, como pagamentos automáticos, cláusulas de financiamento e garantia de entrega, tudo isso de forma transparente e segura.
Drex e blockchain: como funciona a tecnologia por trás?

Assim como os criptoativos, o Drex será baseado em blockchain, mas com controle exclusivo do Estado. Ou seja:
- A emissão será centralizada (apenas o Banco Central pode criar novas unidades de Drex)
- A rede será permissionada, ou seja, apenas instituições autorizadas poderão operar
- O objetivo é garantir rastreabilidade, segurança e agilidade sem perder o controle regulatório
Diferenças entre Drex, Pix e Criptomoedas
Característica | Drex | Pix | Criptomoedas |
---|---|---|---|
Emissor | Banco Central | Instituições financeiras | Rede descentralizada |
Lastro | Real físico | Não se aplica | Nenhum (na maioria) |
Tipo de rede | Centralizada | Centralizada | Descentralizada |
Finalidade | Transações digitais de grande porte | Transferência instantânea | Diversas (investimento, pagamento, etc.) |
Segurança | Alta, com foco em privacidade | Alta, mas sem rastreamento avançado | Alta, com anonimato |
Impacto esperado na economia
Estudo da Swiss Capital aponta que a adoção do Drex poderá reduzir em até 40% os custos operacionais de bancos e fintechs, ao eliminar intermediários e permitir automação de transações via contratos inteligentes.
Redução da burocracia tributária
Uma das inovações mais esperadas é a capacidade do Drex de recolher impostos automaticamente, como o IVA previsto na nova Reforma Tributária. A expectativa é de simplificação do sistema tributário nacional, evitando sonegação e erros humanos.
O papel das instituições financeiras no Drex
O Banco Central já confirmou que a moeda será operada por bancos, fintechs e cooperativas, tal como o Pix. Essas instituições serão responsáveis por:
- Criar carteiras digitais de Drex para seus clientes
- Mediar conversões entre Drex e real
- Atuar como operadores de contratos inteligentes
Segundo Yvon Gaillard, CEO da Dootax, “o Drex será crucial para transações de alto valor, como compra de veículos e imóveis, oferecendo camadas extras de segurança jurídica e tecnológica”.
Adoção e popularização
Embora o Drex não tenha data oficial de lançamento, o plano é iniciar sua implementação gradualmente nos próximos anos, priorizando os setores que mais exigem segurança, rastreabilidade e automação.
Assim como o Pix, que em poucos anos chegou a mais de 170 milhões de usuários, o Drex tem potencial de se popularizar rapidamente, especialmente no setor financeiro e varejista.
Previsões para 2025 e além
30% das transações digitais podem usar Drex
Alex Andrade, CEO da Swiss Capital, projeta que até 30% das transações digitais no Brasil poderão ser feitas com Drex até o fim de 2025, principalmente em serviços como:
- Pagamentos de parcelas imobiliárias
- Quitação de grandes dívidas
- Transações comerciais entre empresas
Segurança e regulamentação

O governo federal, por meio da Secretaria de Comunicação, destacou que o Drex não substituirá o dinheiro em papel, mas será uma opção adicional.
Além disso, o Banco Central esclareceu que não há aumento no controle estatal sobre as finanças dos cidadãos. O Drex seguirá as mesmas leis de sigilo bancário e proteção de dados, como qualquer outra operação bancária.
Imagem: Freepik/ Edição: Seu Crédito Digital