Cura 2024: Edição composta exclusivamente por mulheres começa hoje em BH; veja artistas

A oitava edição do Circuito Urbano de Arte, o Cura, em Belo Horizonte, começa nesta quinta-feira (24). Neste ano, o evento artístico de ocupação tomará a praça Raul Soares, no hipercentro da capital, pela terceira vez, e vai até 3 de novembro. A edição também chega como a primeira com uma programação composta exclusivamente por artistas mulheres.

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“Direcionar o olhar para as comunidades, para o que inventam e para a capacidade de promover a permanência, não no sentido de se estacionar no tempo, mas na condição de prover sentidos de vida”. Esse é o eixo central do Cura 2024, segundo a organização do evento, que convida a comunidade a repensar os espaços públicos como pontos vivos. Além disso, propõe uma visão que coloca a imaginação como o primeiro passo para a ação.

Desde 2021, o Cura ocupa a emblemática praça Raul Soares. Agora, a provocação sobre o local é clara: e se ela fosse mais que uma rotatória? E se pudesse se transformar em um verdadeiro parque, um espaço de convivência que acolhesse mães, crianças e idosos?

O primeiro passo para a resolução das questões foi dado: partiu da curadoria da edição, formada pelas artistas Flaviana Lasan, Janaína Macruz, Juliana Flores e Priscila Amoni. Juntas, elas definiram outras artistas, as que vão expôr seus trabalhos pelas empenas de BH, tecendo possíveis saídas para as perguntas anteriores. Nesta quinta-feira (17), o Cura revelou a lineup de 2024. Conheça as artistas da edição abaixo.

Mulheres do Cura 2024

Liça Pataxoop | Edifício Leblon (Av. Amazonas, 1054)

“O Tempo Grande das Águas é o primeiro tempo do mundo. É o tempo do começo de todas as coisas, todas as histórias. É o tempo da inteligência, da sabedoria e do conhecimento. É o tempo da grande água que deu origem ao nosso povo Pataxoop”, explica Liça sobre o nome da obra que realizará no Edifício Leblon.

Educadora e liderança da aldeia indígena Muã Mimatxi, ela escolheu Hãm kuna’ã xeka (O Grande Tempo das Águas) para falar do tempo em que os Pataxoop fazem um grande ritual para celebrar a vida e agradecer, com oferendas à mãe terra: sementes, frutas, o que dá alimento. Ela conta que é o tempo do entendimento, onde cada ser foi formado como ele é. “Não tem ninguém igual a ninguém. Tem parecido. Cada um com a sua história, o seu lugar e o seu jeito de viver”, diz.

As obras de Liça se fazem com a metodologia dos tehêys, um instrumento de pesca que ganhou outros sentidos e se transformou em um método de ensino praticado nas aldeias. Símbolo dos Pataxoop, os tehêys são como redes, armadilhas tecidas com corda de tucum e cipó, utilizados especialmente pelas mulheres e crianças pescarem nos rios. Quando se “terreia”, a água abaixa e ficam os peixes, o alimento.

Na Raul Soares, o Edifício Leblon será transformado em um grande tehêy, com seres vivos, flores, mata, rio e pedras. Liça vai oferecer à cidade uma pesca de conhecimento, uma possibilidade de aprender sobre a vida a partir do que se vive.

“Se você derruba a natureza, espera que, mais cedo ou mais tarde, ela te derrubará, sempre e sempre. Tem vento que a gente se aquieta, não fala nada, só reza com o coração. Tem vento que a gente canta, ele vem brando, refrescando e sombreando a terra, indicando que a gente precisa fazer ritual para as sementes, para ouvir suas palavras que vem da terra, das grandes matas, dos animais e do seu espalhar”, antecipa.

Liça Pataxoop (Divulgação)

Clara Valente | Edifício Claro (Rua Espírito Santo, 1.000)

Grafiteira de longa trajetória, Clara fará sua primeira empena nesta edição. E já em sua estreia, fará a maior fachada cega em área já pintada do Brasil. Nascida em BH, Clara tem inúmeros grafites realizados na cidade, já participou da criação de trabalhos dentro do Cura como artista assistente de outras criadoras. Mas, em 2024, ela expande suas criações para um novo formato.

Formada em pintura e desenho pela Escola Guignard, Clara já expôs suas obras em diversas ocasiões, participando de festivais de arte no Brasil, Uruguai, Alemanha e Canadá. Seu trabalho transcende fronteiras e técnicas, explorando modalidades como escultura, cerâmica, murais, fotografia, videoarte e instalações.

Olhar e observar fazem seu percurso criativo. A imaginação de suas obras começa na contemplação e na pesquisa diária das formas geométricas, como as da arquitetura da cidade, das paisagens orgânicas e dos cenários naturais. Observa atentamente a flora, faz estudos de cores e luz. Transforma estes materiais em pinturas, murais, colagens, objetos, gravuras, fotografias, vídeos.

Clara Valente (Divulgação)

Bahati Simoens | Edificio D’Ávila (Rua Guaranis, 590)

Bahati Simoens nasceu em Munanira (Burundi, 1992) e é filha de pai belga e mãe congolesa. Cresceu em Oostende, na costa da Bélgica e há três anos mora em Joanesburgo, na África do Sul. As férias em família, as memórias e histórias de sua mãe sobre a vida no Congo estão refletidas na sua obra que apresenta figuras grandes e sem rosto, formas arredondadas, com braços, barrigas e coxas carnudos, cabeça bem pequena, corpos negros.

Afetos, alimentos, cenas de tranquilidade e conforto aparecem em suas obras, com tons de uma paleta suave. São imagens que renovam o imaginário, a memória e a representação do senso comum da diáspora e das pessoas negras e se situam no campo da celebração, do bem-estar. Bahati cresceu em ambientes predominantemente brancos, o que lhe causava o sentimento de falta. Fabulando novos mundos em contraposição ao que vivia, em seu trabalho, ela procura criar um senso de lar e pertencimento.

No Cura, ela pintará o Edifício D’Ávila com a obra “Você não pode chorar se está rindo”, que faz parte da série “Papai nunca chegou com flores”, Ela se diz curiosa com o diálogo possível entre sua obra, que reflete suas origens africana e europeia, com o contexto brasileiro, forjado por uma grande comunidade diaspórica. “Como meu trabalho será recebido? Como as pessoas irão interagir com ele? Espero que traga alegria para a comunidade negra”.

Bahati Simoens (Divulgação)

Então se liga!

Cura 2024
Local: Praça Raul Soares
Data: 24 de outubro e 3 de novembro

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