Privacidade e escala são os maiores desafios do Drex, o Real Digital

O Banco Central divulgou nesta quarta, 26/2, o relatório da primeira fase do piloto do Drex, a moeda digital brasileira, com detalhes sobre os testes realizados e os desafios enfrentados, especialmente em relação à privacidade, programabilidade e escalabilidade da plataforma. O BC anunciou que a segunda fase do piloto do Drex terá como foco avançar nesses desafios, além de abrir espaço para que os participantes do projeto sugiram novos casos de uso.

O BC destacou a importância de continuar os testes de segurança, incluindo a realização de modelagens de ameaças e testes de intrusão, para garantir que a plataforma esteja protegida contra possíveis ataques cibernéticos. Além disso, questões relacionadas à governança, integração com sistemas legados e regulação precisarão ser abordadas antes que o Drex possa ser implementado em produção.

O documento aponta uma série de desafios que precisam ser superados antes que o Drex possa ser implementado em larga escala. Um dos principais é a questão da privacidade. O BC testou várias soluções tecnológicas, como provas de conhecimento zero (ZKP) e segregação de redes, para garantir a confidencialidade das transações. No entanto, essas soluções ainda não atendem plenamente aos requisitos de privacidade exigidos pela legislação brasileira, como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

As soluções testadas, como o Anonymous Zether e o Rayls, foram eficazes em ocultar informações sensíveis, mas também limitaram a visibilidade das autoridades sobre as transações. A preocupação do BC é que isso comprometa o monitoramento de atividades suspeitas e a garantia de conformidade com as normas legais e regulatórias. Além disso, a perda de chaves criptográficas pode resultar na impossibilidade de movimentar ativos, o que representa um risco significativo para os usuários.

Outro desafio apontado pelo BC é a programabilidade da plataforma. A criação de contratos inteligentes complexos, que envolvem múltiplos ativos e operações condicionais, mostrou-se limitada pelas tecnologias atuais. Por exemplo, a troca atômica de ativos, que envolve três tokens (Drex de Atacado, Drex de Varejo e TPFt), não pôde ser implementada em algumas soluções devido à falta de suporte técnico.

A escalabilidade também aparece como ponto crítico. Embora a rede Drex tenha demonstrado capacidade para processar até 125 transações por segundo (TPS), o BC alertou que isso pode não ser suficiente para atender à demanda de um sistema financeiro nacional. Além disso, a arquitetura de redes distribuídas pode se tornar complexa e lenta à medida que novos participantes e serviços são adicionados.

O Drex, está sendo desenvolvido desde 2023 e visa tokenizar ativos e moedas, permitindo a criação de um ecossistema financeiro mais eficiente e seguro. A plataforma utiliza tecnologia de registro distribuído (DLT) e contratos inteligentes para facilitar transações financeiras, como pagamentos, transferências e negociações de títulos públicos.

Durante a primeira fase do piloto, o BC testou três tipos de tokens: o Drex de Atacado, destinado a transações entre instituições financeiras; o Drex de Varejo, para uso do público geral; e o Título Público Federal Tokenizado (TPFt), que permite a negociação de títulos públicos de forma digital. Os testes envolveram 16 consórcios de instituições financeiras, incluindo bancos, fintechs e cooperativas, que realizaram mais de 4.000 operações, como emissão, transferência e resgate de tokens.

O BC concluiu que a plataforma se mostrou capaz de realizar transações de forma segura e eficiente, com liquidação em tempo real e garantia de atomicidade – ou seja, todas as etapas de uma transação são concluídas ou nenhuma é executada. Além disso, a tecnologia permitiu a criação de novos serviços financeiros, como a troca atômica de ativos, que pode ser útil em operações de compra e venda de títulos públicos.

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