Sua audição tem 60 anos? O que há de verdade nos testes virais sobre perda auditiva


Vídeos populares na internet prometem medir a ‘idade’ auditiva ao mostrar uma série de frequências sonoras. Especialistas explicam que esses testes podem criar uma falsa impressão de perda auditiva. Testes online podem revelar perda de audição?
Testes que prometem avaliar a saúde dos ouvidos (ou revelar a idade a partir daquilo que você é capaz de escutar) se tornaram populares nas redes sociais. Para fazê-los, é necessário ouvir uma série de frequências sonoras e, quando não é percebido nenhum som, a suposta idade auditiva da pessoa é descoberta.
🤔Mas será que esses testes funcionam?
Conforme a otorrinolaringologista Ana Della Torre, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), não é possível medir a saúde auditiva com precisão por meio de vídeos da internet. Isso acontece porque normalmente o usuário está em um ambiente com barulho e com o volume do som do celular inadequado para os ouvidos.
Porém, se a pessoa fizer com volume do aparelho de até 50%, em um local silencioso e com um fone de ouvido de qualidade, é possível que os testes funcionem como um alerta. Mas isso não substitui uma avaliação médica.
Uma avaliação completa vai além de ouvir os sons, é analisado todo o sistema auditivo, incluindo a capacidade de compreensão e os diferentes tipos de perda auditiva. Por isso, esses testes devem ser encarados apenas como um indicativo. Se o resultado apontar alguma alteração, é importante procurar um médico. Porém, um resultado normal não garante que a audição esteja 100% saudável.
Outro ponto de atenção é que os vídeos que circulam na internet buscam correlacionar as frequências sonoras com uma “idade” auditiva. Um exemplo que já apareceu em um desses vídeos: “se você escutar até a frequência de 10 mil Hz (hertz é uma unidade de medida), a sua idade auditiva é de 59 anos”.
Testes online podem ser um indicativo da saúde auditiva, mas não substitui avaliação médica.
Pexels
Mas, a otorrinolaringologista Sandra Bastos, membra da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial, explica que isso não é verdade.
“Não dá para correlacionar diretamente uma idade para a audição, não funciona assim. Mas é fato que a partir dos 53 a 55 anos existe uma perda auditiva nas frequências mais agudas”, ressalta.
Abaixo, nesta reportagem você vai ver:
Frequências sonoras x saúde auditiva
Sete alertas para verificar a saúde dos ouvidos
Seis cuidados para manter os ouvidos saudáveis
Frequências sonoras x saúde auditiva
Os humanos escutam entre 500 Hz e 2 mil Hz durante a comunicação.
Freepik
A faixa de frequência escutada pelos seres humanos durante as comunicações diárias, como as falas, variam entre 500 Hz e 2 mil Hz em média.
Sons mais graves ficam na faixa de 250 Hz e 3 mil Hz, enquanto sons mais agudos ultrapassam os 3 mil Hz. É raro as pessoas perceberem sons que ultrapassam os 8 mil Hz no dia a dia, conforme a otorrinolaringologista Sandra Bastos.
No entanto, os supostos testes de audição online apresentam faixas de som altíssimas que vão até os 20 mil Hz. Assim, isso pode criar uma falsa impressão de perda auditiva, na medida em que a frequência é mais alta do que aquelas que os humanos normalmente conseguem escutar.
“Esse tipo de teste pode levar a um diagnóstico equivocado de problemas auditivos, quando na verdade a pessoa não tem nenhuma alteração significativa. Apesar de servirem como um alerta, esses sons extremamente agudos não são suficientes para avaliar a capacidade auditiva completa”, explica Ana Adelina Della Torre.
Por outro lado, como já foi explicado, os testes online podem funcionar como um indicativo da saúde auditiva a partir do momento em que a pessoa fizer:
com o volume do som do aparelho em até 50%;
em um local silencioso;
e com um fone de ouvido de qualidade.
Neste caso, se a pessoa não conseguir escutar frequências básicas (como 500 Hz, 1 mil Hz e 2 mil Hz) nas “avaliações caseiras”, isso pode indicar um problema no ouvido e servir como alerta para buscar avaliação profissional.
🤔 Faz mal tentar ouvir frequências altas?
Não faz mal tentar escutar as frequências altas expostas nos vídeos, o que prejudica a saúde são os decibeis (dB) elevados – unidade de medida que verifica a intensidade do volume.
Quanto maior o volume e o tempo de exposição, maiores são os riscos de danificar as células auditivas.
Sete alertas para verificar a saúde dos ouvidos
Conforme Sandra Bastos, otorrinolaringologista membra da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial, os alertas mais comuns são:
Dificuldade para entender conversas, especialmente em ambientes ruidosos;
Necessidade de aumentar o volume da TV ou do celular mesmo em ambientes sem barulho;
Sensação de ouvido tapado;
Presença de zumbido;
Dificuldade em ouvir sons específicos, como campainhas, alarmes ou o canto de pássaros;
Dificuldade de entender o que as outras pessoas estão falando;
Isolamento social gerado pela dificuldade de se comunicar com outras pessoas – quando chega nesse estado, a pessoa provavelmente já passou do momento ideal para ir ao médico.
Uso prolongado de fones de ouvido com volume superior a 50% danifica células auditivas.
Pexels
Seis cuidados para manter os ouvidos saudáveis
Especialistas ouvidas pelo g1 explicam que os cuidados essenciais para manter a saúde dos ouvidos são:
Minimizar a exposição a ruídos intensos, seja no ambiente de trabalho ou em atividades de lazer;
Utilizar protetores auditivos em locais com muito barulho;
Evitar o uso prolongado de fones de ouvido com volume superior a 50%. Em caso de uso contínuo, o ideal é fazer uma “pausa de silêncio” de 15 minutos a cada uma hora;
Realizar exames auditivos com frequência, especialmente para quem trabalha em ambientes com muito barulho ou percebe sinais de dificuldade auditiva;
Não limpar o ouvido com cotonete – isso pode causar machucados e até infecções;
Evitar o uso de fones de ouvido internos e priorizar os externos.
“A saúde auditiva vai além da exposição ao ruído, porque pressão alta, diabetes, alterações hormonais e até mesmo infecções recorrentes no ouvido podem afetar a capacidade de escutar”, ressalta a otorrinolaringologista Ana Della Torre.
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