Banco Carrefour usa IA para revisar faturas e economiza R$ 100 mil/ano

Por Roberta Prescott*

Há cerca de um ano, o Banco Carrefour, braço financeiro do Grupo Carrefour Brasil, adotou soluções de inteligência artificial e automação para melhorar o processo de análise e revisão de faturas para reembolso de serviços intercompany, ou seja, referente aos custos que as lojas Carrefour, Atacadão e Sam’s Club incorrem na cobrança de faturas e na venda de cartões de crédito. Após análise dos documentos é feito o reembolso desses serviços.

Aperfeiçoar o processo de conferência de faturas era uma demanda do setor financeiro. Por mês, são geradas de 800 a 1000 faturas e, antes da inteligência artificial, era preciso o trabalho de dois funcionários em tempo integral e durante cinco dias para cumprir o prazo de conferência de tudo e bater se havia discrepância de valor ou faturamento errado, conforme explicou ao Convergência Digital, Helio Francisco de Souza, coordenador de desenvolvimento de TI do Banco Carrefour. 

“A necessidade de ter inteligência artificial era para a extração de dados não estruturados para bater com os dados — a nota fiscal vem em PDF e é preciso conferir o que veio e o que se estimava”, detalhou Souza. “Com IA, conseguimos automatizar processos. Conseguimos indexar os campos que precisamos para, em um segundo momento, fazer a conferência. Se tem discrepância, usamos recurso action center que entrega para o humano conferir”, completou.

Foram implantadas soluções de inteligência artificial e automação da UiPath. Como resultado, o Banco Carrefour estima a economia de R$ 100 mil por ano, já que as ferramentas completam análise das 800 notas fiscais em apenas 24 horas. O coordenador de desenvolvimento de TI frisou que o fator humano continua indispensável: “o funcionário, antes responsável por todo o processo de análise e revisão, agora, verifica as inconsistências apontadas pela IA”, disse.

“RPA entra para aumentar a eficiência da equipe e o funcionário ser mais estratégico para a organização”, reforçou Marcela Stelzner Brozoski, gerente de desenvolvimento de TI  do Banco Carrefour.

Com a plataforma UiPath, os dados são extraídos com base em regras e modelos inteligentes que podem lidar com documentos de estrutura fixa, tabelas, caligrafia, assinaturas e caixas de seleção. A tecnologia usa IA para processar documentos com formatos semelhantes, enquanto modelos de aprendizado de máquina pré-treinados podem processar documentos menos estruturados.

Em situações de imprecisões ou exceções, os robôs contactam uma pessoa para validar os dados. O funcionário é avisado sempre que há necessidade de verificar exceções nos resultados de extração ou classificação. Durante este processo é possível revisar todos os campos extraídos, garantindo que os dados sejam processados ​​com total precisão.

Helio Francisco de Souza explicou que usou-se inteligência artificial para determinadas etapas do processo que se estava automatizando e nos quais não era possível alcançar os objetivos com automação robótica de processos (RPA).

Questionado sobre a dobradinha de RPA mais IA, ele não titubeou: “enxergo um aliado a outro. Tem de alinhar tudo IA, RPA e pessoas e é este tripé que vai ser sucesso”, ressaltou. O coordenador alertou que nem sempre inteligência artificial é a ferramenta mais adequada e que é preciso entender qual problema se quer resolver antes de eleger uma solução. “Às vezes, nem precisa de IA, mas, quando há etapas que precisa de análise ou de extrair dados não-estruturados, a IA vai funcionar bem, mas não é em 100% dos casos”, contou.

“Você tem o RPA, que é binário, e daí vem com IA para decisão cognitiva na qual você precisa de aspectos maiores. E o humano vem com sentimento para aquilo”, acrescentou a gerente, Marcela Stelzner Brozoski.

No Banco Carrefour, o processo de automação tem sempre uma pessoa responsável que já estava envolvida no processo. Isso, segundo ele, é um dos motivos que leva ao sucesso dos projetos.

Outros projetos

A dobradinha de IA conectada com robotização também está sendo usada para “ler” os comunicados do BC Correio, o Sistema de Correio Eletrônico do Banco Central, ​que proporciona a troca de informações e divulgação de normativos entre o BC e a comunidade usuária do Sisbacen.​

“O BC coloca neste portal a informação que ele precisa e todos os bancos enxergam a solicitação e respondem. Implantamos um modelo de classificação e um modelo de extração de dados. O modelo de classificação para saber se era solicitação para Banco Carrefour ou não; e se tem algo que faz sentido para o Banco Carrefour”, explicou o coordenador.

O banco fez o treinamento da ferramenta com base no histórico de solicitações que eram endereçadas ao Banco Carrefour. Tem uma IA por trás disso e entra uma outra IA se, de fato, se trata de uma solicitação para a instituição. “Quando tem rejeição do processo, entra humano e, se a assertividade não é muito boa, também deriva para humano para avaliar”, acrescentou a gerente. O projeto entrou em produção há mais de um ano.

Mais recentemente, o Banco Carrefour implantou um sistema para leitura em termo de adesão de seguros e SMS. “A gente fez modelo de inteligência artificial para primeiro identificar o documento dentro do dossiê do cliente para saber se é um termo de adesão. Se for, capturamos e passamos por machine learning de extração de dados para saber do que se trata. Além disso, temos de confirmar se o termo que temos aqui está assinado pelo cliente e conseguimos confirmar a adesão”, contou Helio Francisco de Souza.

Isso tem sido útil principalmente em duas frentes: quando o cliente contrata o seguro para perda e roubo do cartão e depois contesta dizendo que não contratou e para checar a assinatura.

O Banco Carrefour atua com soluções RPA desde 2020. Já conta com um Centro de Excelência (CoE) e usa técnicas mais avançadas de inteligência artificial aliada à robotização. “Tudo isso faz parte da evolução. Aqui, temos foco na automação de processos e temos uma outra superintendência que trata da governança de IA no banco. O que vimos aqui dentro é a IA entrando em vários meios e o banco tomou a decisão de ter área e estrutura e governança para avaliar a IA”, detalhou Marcela Stelzner Brozoski.

Atualmente, o Banco Carrefour está com 50% da operação está robotizada. O próximo passo é como desenvolver de outras maneiras de atuação dos robôs e sua governança, por exemplo, o robô autônomo.

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