‘Jogo do tigrinho’: recepcionista faz dívida de R$ 100 mil e faz empréstimo com 5 agiotas

seucreditodigital.com.br jogo do tigrinho recepcionista faz divida de r 100 mil e faz emprestimo com 5 agiotas seucreditodigital.com .br ministe

A história de Jennifer de Souza Silva, uma recepcionista de 33 anos, serve como um alerta sobre os perigos dos jogos de azar online e o impacto devastador que eles podem ter na vida financeira e emocional das pessoas.

Após acumular uma dívida de R$ 100 mil jogando no famoso “Jogo do Tigrinho”, Jennifer recorreu a cinco agiotas para tentar quitar suas obrigações. O caso, que ganhou destaque após ser relatado à BBC News Brasil, ilustra como a falta de controle financeiro e a busca por soluções rápidas podem levar a situações extremas.

Leia Mais:

Lula explica isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil

A Espiral do Endividamento

Imagem de divulgação do "Jogo do Tigrinho" cassinos apostas
Imagem: Reprodução / Betsson

Jennifer sempre teve dificuldades com controle financeiro. “Desde quando me entendo por gente, nunca tive controle financeiro”, confessou. Nos últimos meses, no entanto, suas dívidas se transformaram em uma “bola de neve”. Sem conseguir pagar as contas, ela viu nos jogos de azar online, como o “Jogo do Tigrinho”, uma possível solução para seus problemas.

O “Jogo do Tigrinho” é um caça-níquel virtual que promete ganhos rápidos e fáceis. No entanto, o que começou como uma tentativa de aliviar as dívidas rapidamente se transformou em um pesadelo. “Perdi o controle sobre tudo. Tanto as dívidas quanto os jogos. Às vezes, até desabafava com alguém pedindo ajuda, mas nunca tive coragem de contar toda a verdade. Eu sentia muito medo e vergonha”, relatou Jennifer.

O Desespero e a Agiotagem

Sem alternativas, Jennifer recorreu a empréstimos com agiotas. Ela chegou a pegar dinheiro emprestado com cinco pessoas diferentes, pagando juros que variavam de 20% a valores ainda mais altos.

“Dois agiotas me emprestaram R$ 15 mil porque conheciam minha família e me conheciam desde pequena. Esses dois parcelaram a dívida em mais vezes, mas ela cresceu para R$ 40 mil. Foram 20 parcelas de R$ 2 mil”, contou.

A agiotagem, embora ilegal, ainda é uma prática comum no Brasil, especialmente em situações de desespero financeiro. Segundo a economista e professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Carla Beni, a agiotagem é caracterizada pela cobrança de juros extorsivos, mas a falta de uma legislação clara dificulta a punição dos agiotas.

O Impacto na Vida Pessoal

O marido de Jennifer só descobriu as dívidas quando a situação já estava crítica. “Um dia fiquei aflita porque precisava pagar um dos agiotas, mas ainda faltava dinheiro. No desespero, mandei mensagem para muitas pessoas e acabaram contando para meu marido”, disse Jennifer.

Apesar do choque inicial, o marido decidiu apoiá-la na reestruturação financeira. Juntos, eles montaram uma planilha para organizar as dívidas, que somam R$ 30 mil com agiotas, mais R$ 30 mil com outros agiotas e mais R$ 70 mil com bancos e familiares. Com um salário mensal de R$ 3.600, Jennifer sabe que a jornada para quitar todas as dívidas será longa e difícil.

Os Riscos dos Jogos de Azar Online

O caso de Jennifer não é isolado. Segundo um levantamento da Serasa realizado em outubro de 2024, 44% dos endividados que já apostaram relataram ter jogado com o objetivo de quitar dívidas. No entanto, a realidade é que os jogos de azar online, como o “Jogo do Tigrinho”, raramente oferecem uma solução viável.

“Esses jogos são projetados para manter o jogador engajado, com recompensas intermitentes que criam uma falsa sensação de controle”, explica a psicóloga especializada em dependência financeira, Maria Fernanda Lima. Além disso, a falta de regulamentação no setor de apostas online no Brasil dificulta a fiscalização e a proteção dos consumidores.

Reconstrução Financeira e Apoio Psicológico

dívidas falecido
Imagem: fizkes / shutterstock.com

Jennifer está determinada a reconstruir sua vida financeira. Além do trabalho como recepcionista, ela abriu uma loja de pijamas e começou a trabalhar como motorista de aplicativo aos fins de semana para complementar a renda. “A vida está uma correria. Mas creio que logo sairei dessa”, disse.

Graças à ajuda de amigas, que fizeram uma vaquinha, Jennifer também está recebendo acompanhamento psicológico. “Eu tinha paz. Meu erro foi não dividir minhas dores com minha família. Espero poder pagar todas as pessoas, principalmente amigos e familiares, e voltar a andar com a minha cabeça erguida”, afirmou.

O Cenário Nacional do Endividamento

A história de Jennifer reflete um problema maior no Brasil. Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 76,4% das famílias brasileiras estavam endividadas em fevereiro de 2025. Desse total, 12,3% não tinham condições de pagar as dívidas em atraso.

As famílias com renda de até três salários mínimos são as mais afetadas pelo endividamento. “Essas são as pessoas que mais necessitam de crédito para consumir, mas também são as mais vulneráveis aos juros abusivos e às práticas predatórias”, explica a economista Carla Beni.

A Importância da Conscientização

O caso de Jennifer serve como um alerta para a necessidade de conscientização sobre os riscos dos jogos de azar e a importância de um controle financeiro responsável. Além disso, especialistas defendem a criação de políticas públicas que regulamentem o setor de apostas online e protejam os consumidores.

“Precisamos de campanhas de educação financeira e de uma legislação que estabeleça limites claros para as apostas online”, afirma Carla Beni. Enquanto isso, histórias como a de Jennifer mostram que, mesmo nas situações mais difíceis, é possível encontrar apoio e reconstruir a vida.

Com Informações de: BBC

Imagem: Joédson Alves/Agência Brasil

Adicionar aos favoritos o Link permanente.