Corações partidos e resistência: entrevistas do Festival de Curitiba nesta quinta (03/04)

“A comida é uma desculpa para o encontro”. E o café com a imprensa na coletiva do Festival de Curitiba foi marcado de encontros nesta quinta-feira (03/04). A frase, dita pela atriz, cozinheira e artista Zora Tikar Santos, abre portas para entender o teatro como esse momento de ouvir novas narrativas – muitas, cercadas por outros sentidos e sabores.

“O Fim é Uma Outra Coisa”

A primeira coletiva da manhã trouxe Zora Tikar Santos com a equipe de “O Fim é Uma Outra Coisa”. O espetáculo parte das pesquisas sobre a cozinha afro mineira e brasileira para discutir temas profundos e sensíveis. Zora é conhecida por fazer uma feijoada em Belo Horizonte (MG), e sua história foi o ponto de partida para um curta-metragem que agora vira peça. A relação com a comida e o preparo levam a novas discussões sobre vivências. “A comida é minha essência”, a artista comentou. Mas é só um ponto de partida para trazer mais narrativas.

Zora comentou sobre as mudanças atuais, como em sua época de infância quando as pessoas tinham mais quintais com plantas comestíveis, algo cada vez mais raro. O percussionista e diretor musical Mauricio Badé discorreu sobre como as vivências negras chegam ao espetáculo: “Música, cozinha e quintal estão entrelaçados. Nossa realidade preta sonoriza a cozinha.”

Improjam

Um elenco diversos de três estados se reúne para sessões de improvisação no “Improjam”. O espetáculo gratuito acontece no Palco Ruínas, nas Ruínas de São Francisco. Nilo Netto, Thays Teixeira, Ju Herculano e Alisson Lopes, diretores das companhias Cia Risas e Dupla Face, coordenam as apresentações. A partir de temas e cenas iniciais, os atores improvisam cenas que levam ao riso. O estilo de improvisação tem vários fãs, mas ainda tem possibilidade de atingir mais públicos. “O Improjam é uma ótima porta de entrada”, explicou na coletiva Julia Herculano.

“Júpiter e a Gaivota”

A diretora e atriz Ada Luana comentou sobre a estreia de “Júpiter e a Gaivota” na Rússia, antes de chegar a Curitiba no festival. A peça impactou a população russa e teve que sofrer mudanças relacionadas a nudez e algumas palavras. A versão de Ada sob um olhar feminista abre com uma cena de Carnaval, também controversa na Rússia atual, trazendo homens com roupas de mulher. Ainda assim, encontrou terreno no país de origem de Tchekhov, autor de “A Gaivota”, na qual o espetáculo se inspira. Até a imprensa de lá a pressionou sobre o porquê de fazer uma releitura feminista do autor. Ada respondeu que Tchekhov já traz personagens femininas não convencionais para os anos 1890, quando estreou.

“A peça começa com um prólogo sobre corações partidos e resistência”, explicou a artista. O texto original recebe, agora, influências mais contemporâneas e brasileiras. Ada citou Virginia Woolf e Elena Ferrante como textos correlatos, além de músicas como “O Mestre-Sala dos Mares”, “Canto de Ossanha” (cantadas por Elis Regina) e “Vou Festejar” (cantada por Beth Carvalho). A peça faz parte de uma trilogia, segundo Ada, que vai “revisitando Tchekhov sob um ponto de vista feminino e feminista”. A primeira parte foi inspirada em “As Três Irmãs” e, para 2026, um desafio. Ela volta para a Rússia preparar uma releitura de “Tio Vânia” com elenco russo.

Serviço – 33º Festival de Curitiba

Quando: 24 de março a 06 de abril de 2025

Onde: diversos locais de Curitiba e Região Metropolitana

Quanto: Mostra Lucia Camargo – De GRATUITOS até R$ 85 (entrada inteira), + taxa adm

Risorama – De R$ 42,50 até R$ 85 (entrada inteira) + taxa adm

Fringe – De GRATUITOS até R$ 75 (entrada inteira) + taxa adm

Mostra Surda de Teatro – GRATUITA

MishMash – De R$ 30 até R$ 60 (entrada inteira) + taxa adm

Programa Guritiba – De GRATUITOS até R$ 60 (entrada inteira) + taxa adm

Gastronomix – De R$ 10 até R$ 20 (entrada inteira) + taxa adm

Vendas: No site do festival e na bilheteria física exclusiva no Shopping Mueller.

Evento com desconto Clube Cult.

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