Golpe da vaquinha usa vídeo de padre dublado por IA para pedir doações

Circula nas redes sociais um novo golpe que usa tecnologia de inteligência artificial (IA) para dublar um vídeo com a imagem do Padre Patrick, influenciador católico conhecido pelas suas mensagens religiosas e bem-humoradas.

No vídeo falsificado, ele supostamente pede doações para uma menina chamada Juliana, de dois anos, diagnosticada com pneumonia bacteriana necrotizante. A criança precisaria de uma cirurgia de urgência no valor de R$ 230 mil.

O caso viralizou no Facebook, TikTok, Instagram e em grupos de WhatsApp, despertando comoção e mobilização por parte de muitos internautas solidários. No entanto, trata-se de um golpe bem elaborado. A seguir, investigamos os principais elementos da fraude e explicamos como ela foi estruturada.

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O que dizia a mensagem falsa

No vídeo, o suposto Padre Patrick relata que Juliana passou por um atendimento negligente em um hospital municipal de Cuiabá e que, devido ao diagnóstico errado, teve mais de 50% do pulmão comprometido. Para salvá-la, seria necessária uma lobectomia pulmonar imediata.

A mensagem ainda afirma que a família já arrecadou parte do valor, mas precisa de mais R$ 140 mil e que qualquer quantia doada faria diferença.

O vídeo é acompanhado de links para plataformas de doação ou chaves Pix, muitas vezes com nomes genéricos ou e-mails suspeitos. A estratégia de comoção e urgência é típica de golpes que se espalham pela internet.

Checagem dos fatos

Quem é Padre Patrick?

Padre Patrick Fernandes é um sacerdote católico muito popular nas redes sociais, com milhões de seguidores. Ele ficou conhecido por aliar humor a mensagens de fé e possui vídeos virais no Instagram, TikTok e YouTube. Porém, sua imagem já foi usada anteriormente em fake news e golpes.

O Padre Patrick pediu doações?

Não. O próprio Padre Patrick desmentiu a campanha em um vídeo publicado em seus canais oficiais. Ele afirmou categoricamente que não está envolvido em nenhuma arrecadação para crianças doentes e que sua imagem está sendo utilizada indevidamente por criminosos.

A história da menina Juliana é real?

Não há qualquer indício de que uma menina chamada Juliana, com o quadro de pneumonia bacteriana necrotizante, esteja precisando da cirurgia mencionada. As páginas e perfis que divulgavam a campanha foram apagados ou desativados após questionamentos. A imagem usada da suposta criança aparenta ser gerada por IA, reforçando a suspeita de golpe.

Como o golpe foi arquitetado

Uso de IA para dublagem

Criminosos utilizaram tecnologia de dublagem por inteligência artificial para simular a voz do Padre Patrick, criando um vídeo aparentemente autêutentico. A técnica, conhecida como “deepfake”, tem sido amplamente usada em fraudes online e apresenta grande desafio para o combate à desinformação.

Apelo emocional

A mensagem apela para a comoção das pessoas, utilizando elementos como sofrimento infantil, ineficiência do SUS e urgência no tratamento. Esse tipo de narrativa é comum em fraudes do tipo “vaquinha falsa”.

Viralização nas redes sociais

O vídeo foi compartilhado em massa, alcançando diversas redes sociais e grupos privados, dificultando o rastreamento da origem e ampliando a exposição do golpe.

Como se proteger de golpes semelhantes

1. Verifique a fonte

Antes de fazer qualquer doação, procure confirmação nos canais oficiais da pessoa mencionada. No caso do Padre Patrick, ele possui perfis verificados no Instagram, TikTok e YouTube.

2. Desconfie de pedidos urgentes com histórias tristes

Golpistas frequentemente usam histórias trágicas para sensibilizar as vítimas. Histórias com excesso de detalhes emocionais e valores exatos costumam ser suspeitas.

3. Não clique em links ou Pix suspeitos

Desconfie de links encurtados ou chaves Pix genéricas. Muitos golpistas usam contas falsas ou intermediários para dificultar o rastreamento.

4. Use plataformas seguras de doação

Sempre prefira usar plataformas de crowdfunding conhecidas, como Vakinha, Benfeitoria ou Abacashi, que oferecem mais garantias de transparência.

Denuncie golpes

Se você receber um vídeo suspeito ou presenciar um pedido de doação que pareça falso:

• Denuncie nas redes sociais onde o conteúdo está sendo compartilhado;
• Registre um boletim de ocorrência na delegacia mais próxima ou online;
• Avise outras pessoas para que não compartilhem o conteúdo.

O Projeto Comprova, agências de checagem como Lupa e AFP Checamos, e plataformas como o UOL Confere e Estadão Verifica também estão atentos a esse tipo de golpe.

Considerações finais

O uso de inteligência artificial para dublar celebridades religiosas e criar campanhas falsas de doação é uma nova estratégia dos golpistas na internet. O caso envolvendo o Padre Patrick e a suposta menina Juliana é uma fraude comprovada, desmentida pelo próprio sacerdote e sem qualquer comprovação da existência da criança ou da necessidade da cirurgia.

Em tempos de IA generativa, o ceticismo digital se torna uma habilidade essencial. Verificar informações antes de compartilhar ou doar é o melhor caminho para combater golpes e proteger quem realmente precisa de ajuda.